Pela primeira vez vamos entregar o Prémio Mulher Activa no dia Internacional da Mulher, a 8 de Março.
Esta noite de festa costumava ser em Maio, um mês que é também muito bom para homenagear Mulheres.
Nós, as mulheres que aqui estamos esta noite, talvez achemos que já não se justifica celebrarmos um Dia Internacional da Mulher.
Foi a 8 de Março de 1857, em Nova Iorque, que um grupo de operárias têxteis se ergueu em revolta contra as condições inumanas em que trabalhavam.
Quando nos sentimos mais felizes com as conquistas que estes 152 anos trouxeram à situação da Mulher no Mundo, talvez seja bom repararmos nas notícias quase diárias de vítimas de violência doméstica que, só em 2008, matou quase meia centena de mulheres em Portugal, e cerca de setenta sofreram tentativas de homicídio que as deixaram gravemente incapacitadas.
O que nos reúne hoje é a entrega de um prémio que faz justiça às mulheres portuguesas que querem transformar o mundo num sítio mais digno de ser habitado por mulheres e homens de boa vontade.
Estamos a viver uma época difícil. Fala-se de crise, respiram-se dificuldades, enfrentam-se números assustadores de desemprego, de falências.
Há pouco tempo, numa das visitas pelo país, o meu marido disse uma frase que me pareceu fazer muito sentido:
“Vivemos tempos em que vamos precisar muito uns dos outros”.
As dez mulheres que estamos a homenagear hoje fizeram desta frase o lema das suas vidas.
Para elas as dificuldades são para ser enfrentadas e ultrapassadas, a crise obriga-as a ser ainda mais imaginativas e interventivas.
Para elas continua a ser importante pôr os deveres antes dos direitos. Fazem dos direitos dos outros os seus deveres do dia a dia.
Para elas a palavra caridade, a Caritas, não está gasta, nem é politicamente incorrecta porque é Amor, uma força transformadora capaz de mover montanhas.
Para elas a dignidade da pessoa humana exige esforços permanentes e renovados em áreas como a cegueira, a surdez, a deficiência, a doença incapacitante.
Há palavras que desconhecem, porque as riscaram das suas vidas cheias.
Palavras como impossível, desânimo, desespero, cansaço.
Elas constroem sonhos para dar a crianças que a vida não quer deixar sonhar, juntam pedaços de vidas a que a doença apagou o passado.
Dão voz a quem não a tem. Procuram encontrar quem se perdeu na rua ou na vida.
Ensinam a voar quem perdeu os movimentos até para os gestos quotidianos mais simples.
Constroem amizades duradouras entre pessoas e bichos, acreditando que pessoas e bichos se podem ajudar mutuamente.
Cada uma, à sua maneira, reinventa a vida, para os outros e para si, todos os dias.
Na revista Activa de Março, Catarina Fonseca dá-nos um conselho que acho muito adequado para este momento especial que estamos a viver: que no dia da Mulher espalhemos elogios e abraços.
Que bela extensão aos prémios que estamos a distribuir esta noite: elogios e abraços. Faz bem à alma e é de graça. O ser de graça é muito importante nos tempos que correm.
E nisto nós, os portugueses, até somos bons, muito melhores do que os povos que vivem mais a norte.
Muitos parabéns a todas as premiadas: as que aqui estão e as que poderiam aqui estar.
Tenho muito, muito orgulho nas mulheres do meu país.
Afinal nós precisamos sempre muito uns dos outros.
Maria Cavaco Silva