Intervenção da Drª Maria Cavaco Silva na inauguração do Centro de Arte Moderna e Contemporânea/Colecção Manuel de Brito
29 de Novembro de 2006
Estamos aqui hoje todos irmanados no mesmo objectivo: homenagear Manuel de Brito na ocasião em que faz um ano que nos deixou.
A morte deixa sempre uma marca de orfandade nos que são mais próximos. No caso de Manuel de Brito essa marca foi alargada a muitos que, por razões várias, lhe estiveram ligados.
Se uma vida se justifica pelos elos que estabelece, Manuel de Brito justificou bem a sua e deixou um rasto que sabemos que não se vai apagar.
E porquê?
Porque, sendo Portugal o país da saudade, há várias espécies de saudade que nos pode atingir com o afastamento, para mais definitivo, daqueles que amamos. Uma saudade negativa que nos paralisa, a que temos todo o direito de nos entregar durante algum tempo, mas que não leva longe.
Mas há também uma saudade positiva, que é esta que nos reúne hoje aqui.
Neste caso, todos os que estão envoltos nessa saudade perguntam-se: se estivesse aqui hoje agora, o que estaria o Manuel de Brito a fazer?
E a resposta é fácil: estaria a fazer o que sempre fez.
A levar para a frente os seus projectos com empenho, trabalho e amor à arte. Neste caso concreto de Manuel de Brito a expressão amor à arte vem mesmo a propósito.
Estaria, como todos sabemos, a fazer aquilo que sempre fez e sabia fazer tão bem que se tornou uma figura consensual no mundo da arte e um exemplo no espírito de iniciativa. Capaz de com pouco ou quase nada fazer tanto. Isto é afinal a história da sua vida.
Portanto, no caso de uma pessoa assim, a homenagem que hoje lhe prestamos é a adequada ao homem que ele foi.
Os seus descendentes souberam interpretar bem o que ele gostaria que eles fizessem. E fizeram.
Não lhe deixaram morrer o nome e a alma. Bem hajam por isso! Parece que é muito normal isto acontecer mas, infelizmente, não é. E sabemos como é preciso perseverança, luta, às vezes mesmo teimosia. Neste caso houve tudo isso e resultou.
E resultou também porque houve a junção de vontades públicas e privadas que permitem levar a bom termo iniciativas deste tipo que normalmente esbarram em dificuldades várias e muitas. As muitas quase sempre de ordem financeira.
E é principalmente neste campo que a união de vontades pode destruir muitas barreiras. E no fim, quando olhamos para tudo o que temos aqui hoje sabemos que valeu a pena, valeu muito a pena.
E para todos.
Para a família, para Oeiras, para toda a sociedade que ficou mais rica.
É fácil imaginar como o Manuel está hoje contente por ver que o seu sonho, para o qual trabalhou durante toda a vida, continua a caminhar pelas mãos dos seus e de muitos outros que o admiram e lhe querem bem.