Quando começa a cheirar a Primavera e se aproxima o mês de Maio, dou por mim a perguntar no gabinete, com uma certa frequência, se já chegou a Revista dos Prémios Mulher Activa.
Com tantas solicitações que recebo, isto tem necessariamente um significado profundo dentro de mim. Não me esqueço da época do ano em que chega o resultado quase final do prémio, (a festa mesmo é esta noite) aguardo com alguma expectativa saber quem são as nomeadas e leio com um enorme entusiasmo os trajectos das dez melhores que chegaram à final. Leitura que me enriquece de uma maneira que não consigo expressar por palavras. Porque há coisas tão boas que não se dizem por palavras e são apenas para guardarmos no nosso coração.
Há relativamente pouco tempo, D. Manuel Clemente o actual Bispo do Porto, que muito admiro e conheço há anos da nossa comum casa de trabalho, a Universidade Católica Portuguesa, afirmava numa entrevista, talvez com um certo desânimo, que se atribui actualmente tanta importância a temas de morte como o aborto e a eutanásia que o homem parece andar esquecido de que, entre essas fronteiras de ataque à vida no seu início e no seu fim, pelo meio também há vida.
E é nossa obrigação cuidá-la, vivê-la, amá-la.
Não devem ter sido bem estas as palavras mas foi esta a ideia que ficou a fazer sentido dentro de mim: a necessidade de uma cultura de valorização da vida num tempo em que parece haver uma atracção excessivamente fatal por Tanatos.
Basta estarmos atentos aos jornais, à tv, para sentirmos o poder dessa força destrutiva. Talvez esteja aqui uma das razões do meu entusiasmo pelos prémios da Mulher Activa: eles são uma celebração da vida. Uma celebração da vida no feminino.
Talvez não seja preciso, mas eu explico, porque quero ter a alegria de explicar em que consiste esta celebração da vida.
1 - A Ana Paula caiu de um oitavo andar, levantou-se e desde então, voluntariamente, tem-se dedicado a ajudar muitos outros a levantar-se com ela.
Muito, muito obrigado Ana Paula.
2 - A Bárbara quer dar Novos Rostos a quem perdeu a face social através de situações tão graves como prostituição, dependências de droga, prisão, sida.
Muito, muito obrigado Bárbara.
3 - A Isabel dá um lar e um ombro aos jovens que precisam de um Novo Futuro.
Muito, muito obrigado Isabel
4 - A Irmã Mafalda dá-se toda ao Bairro 6 de Maio. E gostava que lhe vissem o sorriso quando tem uma boa notícia, como um cheque que lhe entreguei para levar os seus meninos de férias à beira-mar.
Muito, muito obrigado Irmã Mafalda
5 - A Margarida tenta com o seu Espaço Família atar de novo aquilo que ameaça romper-se. O divórcio adquiriu de tal maneira um aspecto de normalidade que parece termo-nos esquecido de que é um problema grave, um drama. A Margarida não esquece.
Muito, muito obrigado Margarida
6 - A Maria Guida tem dedicado toda uma vida a pôr a andar de outra maneira os que perderam, ou nunca tiveram, a capacidade de andar normalmente.
Muito, muito obrigado Maria Guida
7 - A Maria Irene dedica a sua energia e o seu sorriso a um dos problemas que a sociedade mais gosta de pôr para debaixo do tapete, porque é o que mais mexe com as nossas fragilidades: a doença mental.
Muito, muito obrigado Maria Irene
8 - A Mariana agarrou nas memórias de infância e fez delas o seu projecto na reabilitação da casa e da vida do cônsul Aristides de Sousa Mendes, que salvou 30000 judeus num tempo em que isso era um risco de carreira e não só.
Muito, muito obrigado Mariana
9 - A Rosa trata da saúde no Moinho da Juventude, que já viu a sua fundadora aqui premiada em 2004.
Muito, muito obrigado Rosa
10 - A Susana quer acordar Portugal e o Mundo para os pecados cometidos contra a nossa casa comum – a Terra. E que linda ela é, a nossa Casa Azul!
Muito, muito obrigado Susana
Como gostei de, uma a uma, referir todas estas mulheres que dão os seus dias, as suas horas, a sua força, o seu amor a projectos muito variados. Todos estes projectos têm em comum um enorme amor à vida.
Vida com dores, sofrimentos, gritos de raiva e desespero. Mas vidas com mãos estendidas para ajudar outras vidas, sem desistências, sem resignações.
Porque todas estas mulheres sabem que quem cai também se levanta, que a outra face do pecado é a redenção.
E o segredo é amar diz o poeta.
E porque muito amam elas não desistem nunca e, deixem-me mais uma vez dizer-vos como gosto de estar aqui convosco hoje, emocionada e orgulhosa, a homenagear através destas dez que aqui temos hoje, das que já tivemos no passado, e das que teremos no futuro, todas as mulheres do meu país.