Recordo hoje uma viagem inesquecível que fiz como Primeiro-ministro em 2 de junho de 1994. Visitei nesse dia seis aldeias da Beira Interior: Monsanto, Idanha-a-Velha, Sortelha, Castelo Mendo, Almeida e Marialva. Na manhã de 2 de junho fiz, em Idanha-a-Velha, a apresentação de um programa inédito de recuperação das aldeias históricas de Portugal que, na sua primeira fase, incluía, para além daquelas seis, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Linhares da Beira e Piódão.
Visitar o interior, as aldeias e vilas do nosso País, tal como o fiz em 1994, é contactar com as nossas raízes, recordar pedaços da nossa história e usufruir deste magnífico património, cultural e natural que os antepassados nos legaram.
Mas vir ao interior é também, hoje em dia, uma ocasião para testemunharmos o orgulho com que as populações encaram esse património e o empenho que colocam na sua conservação.
Atualmente, a preservação do património histórico faz parte das preocupações das nossas gentes, em particular dos autarcas, em cujos ombros recai a principal responsabilidade pelos bens que integram a nossa herança comum e representam a identidade de cada município ou região.
A diversidade de sítios, monumentos e expressões culturais portugueses inscritos pela UNESCO nas listas do Património da Humanidade, é bem a prova de que as populações estão hoje mais conscientes da importância do seu património e procuram preservá-lo e valorizá-lo.
O projeto das Aldeias Históricas de Portugal, cujos 20 anos comemoramos, é um claro exemplo dessa nova sensibilidade. Pelo seu pioneirismo, pela diversidade dos esforços envolvidos e pelos resultados alcançados, é digno da melhor atenção por parte dos poderes públicos, das empresas e dos cidadãos em geral.
Nesta minha visita a Almeida, Linhares da Beira e Marialva, gostaria de deixar uma palavra de admiração e reconhecimento por todos quantos deram continuidade e aprofundaram o programa que apresentei em 2 de junho de 1994, em Idanha-a-Velha.
Senhores Presidentes de Câmara,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
A defesa do património tem sido uma das causas em que, desde o início do meu primeiro mandato, mais frequentemente tenho insistido. Em múltiplas intervenções que proferi, praticamente em todos os municípios, fiz questão de salientar a importância estratégica que tem para Portugal o conhecimento, a defesa e a promoção desse legado, através do qual nos identificamos como Povo detentor de uma história singular.
No decurso das jornadas do Roteiro do Património, visitei alguns dos sítios e monumentos mais emblemáticos, quer pelo seu significado histórico, quer pela forma exemplar como têm vindo a ser recuperados, quer pelas parcerias que se constituíram para a sua defesa e promoção.
Conforme tive ocasião de sublinhar, a causa do património não se reduz a uma simples exaltação do passado, por muito que dele nos orgulhemos.
Para além de um motivo de orgulho, para a Nação como um todo e para cada uma das localidades em que se ergue uma igreja ou um castelo, uma torre ou uma fonte, o património pode igualmente representar um fator de desenvolvimento económico e social.
Congratulo-me, por isso, com o trabalho aqui desenvolvido, durante as últimas duas décadas, e apresento os meus sinceros parabéns a todos quantos se empenharam, aos mais diversos níveis, para que a rede, hoje constituída por 12 aldeias históricas, fosse recuperada e dotada das infraestruturas necessárias ao desenvolvimento do turismo.
Se há exemplos bem-sucedidos de cooperação entre o Estado e a sociedade civil, este projeto é seguramente um deles.
Graças à iniciativa dos cidadãos e das empresas, associada à visão e dinamismo dos autarcas, e com o necessário apoio do Estado, foi possível devolver a cada uma das aldeias abrangidas a sua singularidade arquitetónica, instalar unidades hoteleiras bem equipadas e desenvolver sinergias que fazem do conjunto uma atração turística de nível europeu.
A partir desse capital, que foi recuperado da história e, muitas vezes, da ruína com que o êxodo rural ameaça tantas vezes as povoações do interior, constituíram-se dezenas de empresas, criando assim novos postos de trabalho.
Deu-se, portanto, um passo importante para a fixação das populações e para a atração de projetos inovadores, capazes de colocar a região da Beira Interior nas rotas do turismo nacional e internacional.
Esperemos que, através de uma adequada gestão, se continue a trabalhar para consolidar e promover este projeto, que é decerto único em todo o País, pela forma como nele se associam o passado e o presente, a cultura e o empreendedorismo, a história e o desenvolvimento regional.
É possível reconhecer aqui um forte potencial de desenvolvimento. As Aldeias Históricas não são uma realidade do passado. São um projeto de futuro, em que vale a pena acreditar e em que vale seguramente a pena investir, desde que o produto se apresente como diferenciador e apelativo. Cabe também aos autarcas procurar esse caminho de desenvolvimento.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Portugal é hoje um dos principais destinos turísticos do Mundo. Aquilo que há dez anos poderia julgar-se uma utopia, é hoje uma evidência estatística e uma realidade que facilmente se observa nas ruas e nos museus, nas lojas e nos restaurantes.
Do turismo sazonal e quase exclusivamente concentrado nas praias, passámos nos últimos anos a receber um turismo mais cosmopolita, mais culto e, por isso mesmo, mais exigente.
O número de visitantes estrangeiros que procura os nossos monumentos está a aumentar progressivamente. Os meios de comunicação internacionais colocam o património natural e cultural português entre aqueles, cada vez mais raros, que fazem realmente a diferença num mundo crescentemente globalizado.
Acredito, perante estes factos, e olhando para exemplos como o das Aldeias Históricas de Portugal, que somos e seremos capazes de vencer os novos desafios honrando devidamente a memória dos nossos antepassados e colocando ao serviço do progresso e bem-estar das populações o património que nos legaram.
Muito obrigado!
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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