Senhor Presidente da Câmara Municipal da Covilhã,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Senhora Governadora Civil de Castelo Branco,
Excelência Reverendíssima Bispo da Guarda,
Senhoras e Senhores,
Se hoje nos reunimos neste Salão Nobre para celebrar os 140 anos da elevação da Covilhã a cidade, num acto de inteira justiça que a edilidade em boa hora decidiu promover, devemos recordar que é bem antiga, muito mais antiga, a História do local onde nos encontramos.
A toponímia da Covilhã tem uma origem lendária, que remonta aos tempos dos Mouros e dos Godos. Outros atribuem-lhe o nome às actividades que se desenvolviam nas pastagens da Serra. Covilhã ter-se-á chamado originalmente «Covil da Lã» e só com o passar dos séculos ganhou a designação por que hoje a conhecemos.
A Lã e a Neve, para recordar o título da imorredoura obra de Ferreira de Castro, são duas marcas distintivas desta terra. Na sua alvura, a lã e a neve são também sinal da pureza das gentes que aqui habitam, homens e mulheres francos e de uma só palavra, Portugueses de palavra dada, cidadãos inteiros e de carácter, para quem a verdade está acima de tudo.
Há 140 anos, D. Luís elevou a Covilhã a cidade e, por isso, iremos homenagear a figura deste monarca, que deixou boa lembrança entre os seus contemporâneos. Ramalho Ortigão evocou a sua personalidade, dizendo que o rei era «afável, compadecido, liberal, generoso». A imprensa da época afirmou que o seu reinado foi «feliz», «tranquilo», «próspero», de «consolidação e consagração do regime representativo». E, do tempo de D. Luís, um catedrático de Direito de Coimbra deixou à posteridade um balanço extremamente positivo: «o Rei foi fiel ao pacto fundamental da nação sem abdicações de fraqueza e sem intervenções ilegítimas; o reinado foi de paz, de liberdade, de prosperidade e de progresso», escreveu o eminente jurisconsulto José Frederico Laranjo.
A fidelidade à Constituição, ao «pacto fundamental da nação», é, de facto, o princípio basilar de um bom governo. A isso aliou D. Luís duas qualidades essenciais: firmeza na defesa da ordem constitucional e não interferência no livre jogo das forças partidárias.
A decisão de elevar a Covilhã a cidade é mais um exemplo da sua grandeza como Chefe de Estado. Essa decisão demonstra algo que é essencial a todos os governantes: conhecer a realidade do País e reconhecer o mérito onde ele existe.
Não faltam méritos a esta cidade, tanto no passado como nos dias de hoje. A presença da Universidade e dos estudantes, a quem dirijo uma calorosa saudação, faz da Covilhã uma cidade de futuro e de conhecimento. O município projectou o lema «Covilhã – Cidade de Investimento», criando um Gabinete de Actividades Económicas e Investimento.
As inúmeras potencialidades naturais e humanas que aqui existem estão a ser aproveitadas. As realizações concretas estão à vista, sendo muito oportuna a iniciativa de ilustrar os 140 anos da elevação a cidade com a exposição de outras tantas obras aqui levadas a cabo.
A região soube trilhar os caminhos da inovação e da criatividade, como tive ocasião de verificar ainda em Fevereiro deste ano, no âmbito do Roteiro das Comunidades Locais Inovadoras. Visitei uma unidade industrial de um grupo que soube adaptar-se aos desafios da contemporaneidade, exportando mais de 80% da sua produção têxtil, e um hotel termal que corresponde aos padrões do novo turismo: mais exigente, mais especializado, mais qualificado. Antes tinha visitado o Parque de Ciência e Tecnologia e testemunhado a capacidade empreendedora aí instalada e os resultados dos esforços desenvolvidos pelas autoridades locais na captação de investimento empresarial de qualidade.
A autarquia soube ler os sinais da mudança, que se impõem no nosso tempo. Em 2008, lançou uma nova imagem, sob o lema «Covilhã – Uma Cidade 5 Estrelas», projectando a urbe centenária como um espaço ideal para o investimento, para as actividades de lazer e para viver com qualidade.
Esta última dimensão – a qualidade de vida das populações – é, de facto, essencial para combater a desertificação, para fixar habitantes e para atrair novos residentes.
A aposta na qualidade de vida das populações, feita no quadro das cidades de média dimensão, é um elemento decisivo para captar jovens dinâmicos, activos e empreendedores. Não por acaso, alguns inquéritos mostraram que a Covilhã é das cidades portuguesas com melhor qualidade de vida. No fundo, mostraram o acerto das opções tomadas, revelando que esta cidade se encontra no rumo do futuro.
A Covilhã é, sem dúvida, uma cidade em que vale a pena viver. Longe vão os tempos do isolamento e das agruras do clima. Hoje, graças às novas vias de comunicação, às acessibilidades, ao dinamismo dos covilhanenses e à presença dos estudantes, a Covilhã é uma cidade moderna, orgulhosa do seu passado mas esperançosa quanto ao seu futuro. Há razões para isso. Há razões para ter esperança. Apesar de perfazer 140 anos, esta é uma cidade que não teme o amanhã.
A Covilhã é a prova inequívoca de que, se tivermos visão de futuro e a arte de tomar as decisões certas, é possível conciliar um passado ilustre e um futuro promissor. Hoje é um dia de festa nesta cidade e a ela me associo com imenso prazer.
Há muitos anos, um vosso antepassado, ao ser desterrado para Toledo, disse: «Pode El-Rei Filipe meter-me em Castela, mas Castela em mim é impossível». Estas palavras de Frei Heitor Pinto são consideradas uma das manifestações mais eloquentes da identidade portuguesa.
A Covilhã é Portugal e, em nome de todo o Portugal, quis partilhar convosco a grande alegria destas comemorações. Saúdo calorosamente os covilhanenses e dou-lhes os meus parabéns pelos 140 anos da sua cidade.
Obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.