Senhor Presidente da Comissão Instaladora
Senhores Empresários
Senhoras e Senhores
É com particular satisfação que participo no lançamento da Associação Empresários pela Inclusão Social, iniciativa que apoiei desde a primeira hora e da qual aceitei, com muito gosto, ser Associado de Honra.
Tenho vindo a empenhar-me para que na sociedade portuguesa, ao lado dos direitos, se afirme cada vez mais uma cultura cívica de responsabilidade, em que cada um compreenda que é seu dever (e também benefício) contribuir para o progresso do País.
Essa cultura cívica de responsabilidade não pode deixar de lado os grupos sociais mais vulneráveis, aqueles que mais tendem a resvalar para as margens de uma sociedade que se quer competitiva e dinâmica, mas também justa e inclusiva.
Foi isso que me levou a propor na Assembleia da República, no XXXII aniversário do 25 de Abril, um compromisso cívico para a inclusão social e, depois, a lançar o Roteiro para a inclusão.
Ao contrário do que o nosso proverbial cepticismo poderia dizer-nos, sempre acreditei na vitalidade da chamada sociedade civil e na sua capacidade de se organizar e de dar resposta, sem ficar à espera do Estado, a muitos dos problemas que colectivamente nos afligem.
Ainda assim, confesso que tenho ficado agradavelmente surpreendido com muitos dos exemplos de boas práticas que tenho encontrado no combate à exclusão social, com o trabalho notável que é desenvolvido por milhares de voluntários em todo o país, com a resposta individual e colectiva que tenho visto surgir em vários sectores da sociedade portuguesa. Acompanho com especial expectativa a criação da “Confederação Nacional do Voluntariado”.
A criação da Associação Empresários pela Inclusão Social, tenho-a como um importante exemplo de consciência social e de maturidade cívica.
Se, por um lado, os empresários têm todo o direito de exigir uma envolvente favorável ao desenvolvimento da sua actividade de geração de valor e de criação de riqueza, também é verdade que aqueles que são bem sucedidos devem ter a generosidade de contribuir para melhorar a sociedade em que se inserem, retribuindo-lhe, de algum modo, uma parte do seu quinhão de sucesso.
É curioso notar que, no próprio domínio da teoria da gestão, esteja a adquirir peso crescente a ideia de que as empresas podem, ao mesmo tempo, criar valor e justiça social, de que não existe um conflito entre o bem-estar económico das empresas e a sua acção como agentes activos de aperfeiçoamento da sociedade de que fazem parte. Trata-se de uma abordagem defendida pelos novos “gurus” da gestão empresarial, um capitalismo de inclusão. Num número recente da revista Business Week pode ler-se que, nos dias que correm, a filantropia das empresas tende a ser encarada mais como vantagem competitiva do que como mera obrigação.
São já muitas as empresas portuguesas para quem a dimensão social é uma componente relevante da sua acção. Tal como tem acontecido noutros países – e embora sabendo bem que as fortunas, em Portugal, estão a grande distância das que se encontram nos países ricos -, é de esperar que, cada vez mais, os nossos homens de negócios bem sucedidos dêem exemplos visíveis de partilha e de solidariedade, contribuindo pessoalmente para que as novas gerações beneficiem de um Portugal mais justo, coeso e progressivo. Penso que gestos desse tipo podem contribuir para que a ambição e a vontade de vencer pelo trabalho substituam o sentimento de inveja que alguns atribuem ao povo português.
Acompanho o que escreveu a revista The Economist a propósito da decisão do bilionário Warren Buffet de doar 31 mil milhões de dólares à Fundação Bill & Melinda Gates: “os que querem fazer boa filantropia façam-no, tanto quanto possível, em vida, porque assim conseguem assegurar uma utilização mais eficiente dos seus donativos”.
O sucesso dos homens de negócios, no respeito das leis e dos princípios éticos, só pode ser um bem para o País. Indiquem-nos um país rico, não bafejado pela sorte das riquezas minerais, em que não existam homens de negócios que acumularam grandes fortunas?
Se, à capacidade do homem de negócios de sucesso, se juntar a grandeza humana de uma atitude filantrópica, a sociedade portuguesa será duplamente ganhadora. Por isso, quem quer o bem de Portugal e dos Portugueses não pode ter inibição em afirmar que precisamos de mais e não de menos empresários e gestores de sucesso, sucesso, repito, construído no respeito pelas leis e dos princípios éticos, a que eu acrescentaria: empresários de sucesso e sensíveis ao apelo altruístico para a acção.
A Associação Empresários pela Inclusão Social, cuja constituição hoje aqui se assinala, não tem uma abordagem assistencialista, mas sim orientada para a produção de resultados. Tendo como áreas prioritárias de intervenção o combate ao abandono escolar e o incentivo ao empreendedorismo junto dos jovens, vai ao encontro de problemas e lacunas que assumem, entre nós e no contexto actual, particular gravidade. Ao contribuir para melhorar a qualificação dos recursos humanos e as condições de empregabilidade, atinge um dos principais factores de exclusão social. Por outro lado, na linha da “nova filantropia”, a Associação vai empenhar-se no sucesso dos projectos que financia, através de adequados mecanismos de acompanhamento e fiscalização.
Julgo que temos que ser mais ambiciosos em Portugal no combate à exclusão social, prevenindo e capacitando, actuando sobre o futuro, de forma sistemática e continuada. E o futuro são as novas gerações. Por isso é de enaltecer o facto de a Associação se propor começar pelas nossas crianças e pelas nossas escolas, porque é aí que se poderá fazer a diferença.
Felicito a Comissão Instaladora pelo trabalho já realizado.
Saúdo os empresários e gestores que responderam prontamente ao apelo altruístico para a constituição da Associação Empresários pela Inclusão Social. Espero que mais venham a fazê-lo. São credores do meu maior apreço, não só pela generosidade demonstrada, mas também pela visão moderna de que dão prova: a empresa pode, em simultâneo, criar valor e justiça social. Os associados fundadores perceberam bem a relevância do desafio que era lançado ao empresariado português. A vossa resposta está bem em linha com o que escreveu o Prof. Jorge Dias sobre os elementos fundamentais da cultura portuguesa: “O Português é fortemente individualista, mas possui grande fundo de solidariedade humana”.
A vossa resposta, senhores empresários, é um contributo importante para o Portugal mais desenvolvido e, ao mesmo tempo, com maior justiça social que, como Presidente da República, quero ajudar a construir. Bem-hajam.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.