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Assembleia Geral das Nações Unidas
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PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República por ocasião da Inauguração da 16ª Bienal de Cerveira
Vila Nova de Cerveira, 16 de Julho de 2011

As minhas primeiras palavras são de parabéns aos artistas premiados e a todos aqueles que viram as suas obras seleccionadas para a 16ª edição da Bienal de Cerveira.

Felicito-os por esta prova de reconhecimento do seu trabalho e do seu talento. Felicito-os, acima de tudo, pela sua participação neste certame, que trouxe a Vila Nova de Cerveira o justo título de Vila das Artes, ao mesmo tempo que a projectou como um local emblemático no roteiro da arte contemporânea.

Não é a primeira vez que estou presente no Acto inaugural de uma Bienal de Cerveira. Em Julho de 1986, como Primeiro-Ministro, visitei a 5ª Bienal, na companhia dos seus directores de então, Jaime Isidoro e José Rodrigues, dois dos mais significativos nomes da cultura no Norte de Portugal. Recordo, dessa visita, a homenagem a Santa-Rita Pintor e o espaço dedicado aos primeiros artistas abstractos portugueses, Arlindo Rocha e Fernando Lanhas. Mas lembro também a presença de artistas contemporâneos, como José Pedro Croft, Jorge Molder, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez ou Fernanda Fragateiro.

E, passados todos estes anos após a primeira edição da Bienal de Cerveira, verifico com satisfação que algumas das obras de arte que tenho em casa são de artistas intimamente ligados à Bienal de Cerveira, como é o caso de Jaime Isidoro e José Rodrigues, mas também de Augusto Canedo, hoje Director Artístico da Bienal.

Ao vir de novo aqui, à Bienal, não posso deixar de evocar, com enorme saudade e admiração, Jaime Isidoro, que infelizmente nos deixou em Janeiro de 2009. Pelo seu percurso, enquanto pintor e galerista, e pelo projecto que desenvolveu em prol da cultura, designadamente o seu contributo para a criação e desenvolvimento dos Encontros Internacionais de Arte, primeiro, e da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, depois, Jaime Isidoro é merecedor da nossa mais profunda estima e consideração. Foi ele o primeiro director artístico da Bienal de Cerveira e um dos principais responsáveis por esta vila ser hoje, mais de 30 anos depois, também conhecida como a Vila das Artes.

Gostaria igualmente de me associar à justa homenagem que esta edição da Bienal decidiu prestar ao Mestre José Rodrigues, outro dos seus primeiros e mais entusiastas promotores.

Na verdade, José Rodrigues não é só o desenhador, o ceramista, o escultor que todos conhecemos e cujas obras podemos admirar em tantos lugares do Mundo. É também o cidadão empenhado, que assumiu um papel activo no lançamento de muitos projectos de associativismo cultural, alguns dos quais perduram até hoje. Por esse motivo, homenagear José Rodrigues é um acto de justiça, principalmente aqui, na Bienal de Cerveira, que além de contar com o seu nome entre os fundadores, tem cumprido o objectivo de promover a cultura e a arte junto das populações.

A Bienal de Cerveira é, certamente, um caso exemplar, não apenas no que respeita à cultura, mas também no que respeita ao ordenamento do território e até mesmo à projecção internacional do País.

Em 1978, ano em que a ideia se concretizou pela primeira vez, alguém que conhecesse a realidade portuguesa, sobretudo a do interior, dificilmente acreditaria, ou poderia sequer imaginar, que três décadas depois iríamos estar aqui, a inaugurar um acontecimento cultural com esta dimensão e este relevo.

Nesse tempo, os equipamentos e as instalações escasseavam, sobretudo fora das grandes cidades. A educação artística era rudimentar. O mercado da arte estava confinado a uma elite muito reduzida. Se a tudo isto juntarmos os graves problemas económicos, que já na altura se faziam sentir, não é difícil imaginar quanto a ideia deveria parecer descabida, aos olhos de muita gente.

Como se explica, então, o lançamento, e a posterior consolidação, de uma iniciativa como a Bienal, numa vila do Alto Minho? O segredo deste caso de sucesso, invulgar em qualquer parte do Mundo, creio que se pode resumir em duas palavras: imaginação e persistência.

Imaginação de artistas, sem dúvida; mas imaginação, também, dos autarcas, que lhes lançaram o desafio e souberam esperar para colher, no longo prazo, os resultados.

Persistência de pintores, escultores e galeristas, que agarraram a oportunidade e não desistiram às primeiras críticas; mas persistência, também, do Município de Cerveira, que teve a tenacidade bastante para fazer da Bienal uma rotina, assumindo-se orgulhosamente como um pólo artístico e cultural.

Já havia, é verdade, muito antes da Bienal, boas razões para visitar Vila Nova de Cerveira, desde o castelo à paisagem, passando pelas igrejas e solares de frontaria apalaçada.

O património natural e histórico, um pouco à semelhança do que acontece em outros lugares do nosso País, reveste-se aqui de uma exuberância e riqueza que impressionam o visitante.

Não basta, porém, termos herdado um património do qual podemos legitimamente orgulhar-nos. É preciso também saber geri-lo, dinamizá-lo, de forma a que as populações possam usufruir dele, quer do ponto de vista cultural e estético, quer do ponto de vista do desenvolvimento e da qualidade de vida. E, desse ponto de vista, a Bienal veio acrescentar uma dimensão completamente nova às potencialidades já existentes em Vila Nova de Cerveira.

A princípio, foi apenas um acontecimento efémero, aparentemente insólito, que surgia só de longe em longe. Com o correr do tempo, a música e outras artes associaram-se à pintura; o número de artistas e de visitantes foi aumentando; surgiram galerias e, muito em breve, será inaugurado um museu com obras apresentadas na Bienal. Damo-nos, pois, conta de que Vila Nova de Cerveira, além do local aprazível que sempre foi, é também um pólo internacional de arte contemporânea e um destino turístico para quem quiser conhecer os movimentos e tendências da arte nas últimas três décadas.

A importância que a Bienal adquiriu é bem visível no facto de ela se desenvolver, este ano, simultaneamente, aqui em Cerveira, no Porto e em Vigo. Mas o seu alcance vai muito para lá dessa dimensão local e regional. Ao projectar-se como iniciativa sem fronteiras, onde concorrem artistas de todo o Mundo, é também a imagem de Portugal que Cerveira projecta: a imagem de um País com um profundo enraizamento histórico e uma forte identidade, mas um País, também, onde a contemporaneidade tem lugar cativo.

Em 1978, a primeira Bienal celebrava o acto de criar em liberdade. Em 2011, visitar Cerveira é visitar também um palco da criação livre, um lugar de expressões artísticas que nos permitem uma intensa viagem aos mundos interiores de todos os que exercem a sua liberdade no acto criativo.

Quero, por isso, congratular-me com a 16ª edição da Bienal de Cerveira, felicitar a autarquia e os demais responsáveis pela sua realização e homenagear aqueles que, há 33 anos, lançaram a semente e a quem se deve, em última instância, aquilo que a Bienal é hoje.

A todos, os meus sinceros parabéns.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.