É com muito prazer que estou aqui hoje, na cidade do Porto, quando passam 25 anos sobre a criação da Fundação de Serralves e 15 sobre a abertura do Museu de Arte Contemporânea, um dos seus espaços emblemáticos.
Vim, antes de mais, pelo reconhecimento que merece aquilo que a Fundação fez, em tão pouco tempo, em prol do desenvolvimento cultural e económico e da própria projeção internacional da cidade, da região e do País.
Mas vim, também, devo confessá-lo, pelos laços que me ligam pessoalmente, quer ao aparecimento deste projeto, quer à instalação dos vários polos de atividade que integram hoje o conjunto arquitetónico e paisagístico em boa hora classificado como Património Nacional.
Estive aqui, a primeira vez, como primeiro-ministro, logo em 1987, no dia em que se abriu ao público a Casa e o Parque de Serralves, núcleo inicial do que viria a ser, dois anos mais tarde, a Fundação.
Nessa altura, o Estado já tinha adquirido os terrenos e definidos os objetivos que deveriam presidir à futura instituição, e que estão claros no decreto-lei por mim assinado, em junho de 1989.
Em primeiro lugar, era preciso criar um museu que acolhesse e conservasse o vasto acervo de arte moderna e contemporânea que o património nacional tinha vindo a acumular, mas que se encontrava disperso e, por esse motivo, inacessível aos cidadãos.
Em segundo lugar, era preciso encontrar um modelo institucional suficientemente flexível para permitir quer o envolvimento da sociedade civil num projeto de dimensão nacional, quer o espírito de iniciativa que se exigia do novo museu, em particular no intercâmbio com instituições congéneres, em Portugal e no estrangeiro.
Foi à luz destes propósitos que a opção pelo Porto veio a impor-se. Bastariam, se outros motivos não houvesse, a história da cidade e o dinamismo económico da região.
Havia, no entanto, um outro motivo, porventura ainda mais pertinente, que era o facto de a cidade ser, desde há muito, uma referência no domínio do ensino artístico em Portugal.
Foi na Escola de Belas Artes do Porto que se iniciaram muitos dos nossos pintores e escultores dos séculos XIX e XX.
Graças a uma política de atribuição de bolsas no estrangeiro aos melhores alunos, em que a Escola foi pioneira, alguns desses artistas puderam depois prosseguir os seus estudos em Paris, ou em Roma, colocando assim a cultura portuguesa em contacto com as vanguardas europeias.
Foi também aqui, na Escola de Belas Artes, que nasceu e se desenvolveu aquela que é hoje conhecida, em todo o mundo, como a «Escola do Porto», uma das mais prestigiadas no domínio da arquitetura, a que pertencem, entre outros, nomes como Siza Vieira e Souto de Moura, qualquer deles já galardoado com o Prémio Pritzker, a mais alta distinção internacional para um arquiteto.
Por essas razões, o Porto era, de algum modo, o destino natural de um projeto como aquele em que pensávamos.
O que se pretendia, de facto, não era instalar mais uma instituição dependente do Estado, mas sim um polo a que se juntassem entidades e pessoas da sociedade civil, capazes de lhe imprimir uma dinâmica cultural e social que colocasse o País na rota dos movimentos artísticos e culturais mais avançados.
E o Porto apresentava todas as condições para responder a esse desafio.
Senhor Presidente do Conselho de Administração,
Senhor Presidente do Conselho de Fundadores,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Volvido um quarto de século, é com enorme satisfação que olhamos para a forma como o projeto não apenas se concretizou, como alargou os seus horizontes.
Assente numa parceria que integra, além do Estado, várias empresas e particulares que se constituíram como fundadores, e cujo número tem vindo a crescer, a Fundação renovou os seus espaços iniciais, em particular o Parque de Serralves, que foi recuperado por alguns dos nossos melhores arquitetos paisagistas.
Além disso, construiu de raiz o edifício do museu, que tem a assinatura de Siza Vieira.
E continua a desenvolver, com a desejável independência face ao poder político e aos interesses privados, todo um vasto e bem-sucedido programa de formação de públicos e de sensibilização para as questões da arte, da cultura e do ambiente.
Os resultados deste programa não podiam ser mais satisfatórios, se tivermos em conta a coleção de arte que a Fundação tem hoje no seu património; as memoráveis exposições que foram apresentadas e que transformaram Serralves num ponto obrigatório dos roteiros turísticos internacionais; os prémios que entretanto acumulou, designadamente em 2012 e 2013; e, acima de tudo, os milhões de visitantes que por aqui passaram ao longo destes 25 anos.
Mas a Fundação de Serralves, sendo inequivocamente uma das principais instituições portuguesas de cultura e, além disso, uma referência no meio artístico internacional, é também um caso de sucesso em termos de impacto económico, através da qualificação e do aumento global do turismo que tem vindo a gerar.
A este propósito, gostaria de sublinhar a importância que Serralves atribuiu, desde o início, à questão da articulação da produção e divulgação da cultura com a sua inserção no tecido económico, trazendo com frequência essa matéria à reflexão pública e dando o exemplo de uma gestão dinâmica e equilibrada.
Foi aqui que se realizou, há precisamente 10 anos, a I Conferência Internacional sobre Arte e Empresa. É aqui que está instalada, desde 2008, uma incubadora de projetos inovadores no domínio das indústrias criativas.
Faço votos para que o itinerário até aqui percorrido se prolongue por muitos anos, com a mesma lucidez na decisão, o mesmo empenho no projeto e cada vez mais sucesso nos resultados.
Num ato de reconhecimento do Estado à instituição, aos seus dirigentes e a todos quantos aqui trabalham, pelo inestimável contributo que têm dado à cultura e à sociedade portuguesas, decidi atribuir à Fundação de Serralves o título de Membro Honorário da Ordem de Sant’Iago da Espada e é com muito gosto que irei entregar as respetivas insígnias ao Presidente do Conselho de Administração.
Muito obrigado.