O Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, abreviadamente conhecido como UPTEC, é um espaço comum de trabalho de cientistas e investigadores. Mas é também – e acima de tudo – um exemplo notável da cultura que emerge do relacionamento profícuo entre a universidade e as empresas.
A ligação à comunidade científica, as condições de apoio aos investigadores para transformarem os seus resultados em projetos empresariais, o ambiente de cooperação entre cientistas são fatores que contribuem para o reconhecido êxito deste projeto.
Mas é igualmente a existência de uma visão de longo prazo que fez a Universidade do Porto assumir-se, através deste Pólo de Ciência e Tecnologia, como um protagonista ativo no domínio da iniciativa empresarial e na transferência de conhecimento para a economia.
Na essência da Universidade está sempre um espaço de liberdade, de procura da verdade, de independência, de criatividade. Mas, enquanto instituição social, a Academia não pode alhear-se da sua envolvente, não pode deixar de questionar-se sobre qual o seu contributo para a sociedade.
Portugal é um caso único na Europa de progresso, num curto período de tempo, em matéria de ciência e tecnologia.
As universidades portuguesas e os nossos investigadores ombreiam com os seus pares internacionais em muitas áreas do conhecimento.
Para alcançar este sucesso, o apoio do financiamento público foi decisivo. Sem ele, nunca poderiam ter-se atingido os resultados que hoje celebramos.
Acontece, contudo, que esta evolução não teve reflexo no perfil de especialização da economia nacional, que continua maioritariamente assente em sectores de baixa e média intensidade tecnológica.
A atividade e a produção de conhecimento da comunidade científica têm ainda pouca influência na vida da maioria das empresas nacionais.
Temos de olhar para a infraestrutura científica e tecnológica como um investimento, relativamente ao qual é justo esperar, no entanto, um dado retorno.
Sabemos que o maior incentivo para os investigadores é a publicação em revistas internacionalmente prestigiadas, sendo a aplicação prática do conhecimento algo secundarizada. Deste modo, a transferência de conhecimento pode subalternizar-se nas prioridades de muitos investigadores universitários.
Para que a universidade tenha maior influência na economia, será necessário estimular os seus agentes através de um sistema de incentivos que leve a Academia a tornar-se um protagonista mais ativo na criação de riqueza nacional. É certo que a Universidade deve buscar o saber, não pode converter-se num agente dos interesses das empresas. Contudo, há que encontrar um equilíbrio virtuoso entre o conhecimento teórico e o contributo académico para a comunidade.
Precisamos, pois, de valorizar de forma significativa a investigação aplicada, quer na progressão da carreira académica, nas áreas consideradas relevantes, quer, inclusivamente, como critério no financiamento público das universidades.
Como isto, repito, não se trata de diminuir o papel das universidades no sistema de inovação, mas sim de o reforçar no contexto empresarial.
A ligação fortalecida da Universidade às empresas pode gerar novas unidades produtivas de base tecnológica, nas quais o investigador deve, também ele, assumir o papel de empreendedor.
É este o caso de muitas das startups com que tenho contactado, desenvolvidas num contexto universitário e criadas por cientistas e investigadores.
Por outro lado, a relação entre as universidades e as empresas no domínio da inovação poderá ser reforçada pela disponibilidade das empresas para acolherem investigadores nos seus quadros.
A elevação do valor acrescentado da produção nacional, essencial ao nosso futuro coletivo, terá que acontecer por via da maior intensificação tecnológica nos sectores onde o país é competitivo.
A forma como a Universidade se relaciona com o tecido empresarial assume, por isso, particular relevância. É importante que o conhecimento produzido nos centros universitários chegue às nossas empresas, gerando riqueza e criando postos de trabalho.
Senhoras e Senhores,
A UPTEC é um bom exemplo de valorização do conhecimento produzido em ambiente universitário em áreas de grande potencial económico. Entre essas áreas, destacam-se as novas tecnologias, a economia do mar, as indústrias criativas e a biotecnologia.
A UPTEC foi também reconhecida, de resto, como uma das melhores incubadoras de empresas da Europa, onde a investigação aplicada faz o seu caminho, dos laboratórios até aos mercados.
Os projetos empresariais que aqui visitei resultam de uma saudável proximidade entre a academia e a economia e ilustram bem como é possível valorizar o conhecimento e criar emprego em sectores com grande intensidade tecnológica e elevado valor acrescentado.
Quero, por isso, felicitar a equipa dirigente da UPTEC, na pessoa do seu Presidente, o Professor Novais Barbosa.
Quero igualmente deixar uma palavra de apreço pelo trabalho da equipa Reitoral da Universidade do Porto, que brevemente irá cessar funções. O sucesso da UPTEC é também o resultado de uma visão estratégica quanto ao contributo da Universidade para o desenvolvimento do país.
A todos vós, cientistas, investigadores, estudantes, docentes e empresários, o meu muito obrigado.
Bem hajam pelo vosso talento e pelo vosso trabalho.
O Professor José Carlos Marques dos Santos completa, em breve, o seu mandato como Reitor da Universidade do Porto, função que desempenhou com reconhecida competência durante 8 anos.
Já antes, havia servido o País com grande distinção como diretor da Faculdade de Engenharia.
Como Reitor foi decisivo o seu contributo para a projeção internacional da Universidade do Porto.
O Parque de Ciência e Tecnologia é um resultado bem evidente do seu trabalho assim como a ligação ao mundo empresarial e a criação e desenvolvimento da UPTEC.
Como reconhecimento público pelos relevantes serviços prestados à Universidade e ao País decidi agraciá-lo com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública e é com muita honra que lhe irei impor as respetivas insígnias.