Agradeço calorosamente a presença de Sua Excelência a Presidente Dilma Rousseff na cerimónia de entrega do mais importante prémio da lusofonia, o Prémio Camões.
O seu gesto, Senhora Presidente, tem um significado muito especial, que quero sublinhar, porque ocorre no Dia de Portugal, que é também o Dia de Camões, a data em que celebramos o universalismo da Língua Portuguesa.
Instituído no já longínquo ano de 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil, o Prémio Camões visa distinguir os autores que, pela riqueza e pelo valor das suas obras, tenham contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da lusofonia.
Comemorando este ano o seu vigésimo quinto aniversário, o Prémio Camões tem sido atribuído a autores de praticamente todo o universo lusófono, de Angola e Moçambique, de Cabo Verde, do Brasil, de Portugal.
O primeiro autor galardoado com este prémio, o escritor e poeta Miguel Torga, esteve emigrado no Brasil durante a sua adolescência. Muitos anos depois, escreveria um livro sobre temas portugueses e brasileiros. O título não poderia ser mais apropriado: Traço de União.
Na verdade, é um traço de união que celebramos neste Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas.
Felicito, com afetuosa admiração, o escritor Mia Couto, bem como o júri que decidiu atribuir-lhe este galardão. Foi uma decisão justa e clarividente.
Detentor de uma vasta obra, que se estende por todos os géneros literários, da poesia ao conto, passando pela crónica ou pelo romance, Mia Couto é um dos mais reconhecidos e versáteis autores da lusofonia contemporânea. Com três dezenas de livros publicados, traduzidos em mais de vinte países, construiu, ao longo de uma sólida carreira, um universo ficcional próprio, de imensa originalidade, que se singulariza por confrontar as suas personagens – e também os seus leitores – com as grandes interrogações e os grandes dilemas da existência humana.
Mia Couto reconstrói o tempo e o modo moçambicanos, as tradições e a oralidade da sua terra natal, aquela que foi terra sonâmbula e hoje constitui um dos países mais promissores do continente africano. Situa o património riquíssimo de imagens e de sonoridades, de cores e de memórias de Moçambique no espaço imenso da lusofonia, concebendo novas geografias e vastos territórios onde se desenrolam as suas histórias. Histórias de humanidade e liberdade.
Poderíamos evocar muitas obras de Mia Couto, todas de uma ímpar e densa beleza. Recordo aqui um conto, um conto infantil, em que a personagem principal, uma criança, consegue ver o mar graças ao poder evocativo da palavra. É o poder evocativo da palavra que hoje celebramos, através desta atribuição do Prémio Camões.
Senhora Presidente Dilma Rousseff,
Senhor Mia Couto,
Senhoras e Senhores,
«Chego ao fim», diz-se nas últimas páginas de A Confissão da Leoa, um dos mais belos romances de Mia Couto. Porém, o narrador acrescenta, logo de seguida: «Todo o fim é um início».
Saúdo todos os presentes, na convicção de que esta cerimónia seja também um novo início. A Língua Portuguesa é uma língua viva e pujante, que todos os dias se renova e reinventa, seja na escrita de grandes autores como Mia Couto, seja no falar quotidiano de milhões de seres humanos.
Muito obrigado.