É com o maior gosto que participo nesta cerimónia de homenagem aos vencedores dos Prémios Literários Fernando Namora e Agustina Bessa-Luís.
Num país como o nosso, em que as realizações no domínio cultural tendem, por tradição, a ser deixadas à responsabilidade exclusiva do poder central, das Regiões Autónomas ou das autarquias, constitui um motivo de satisfação verificar que há pessoas e entidades privadas que remam contra a maré e que levam a cabo, por sua conta e risco, iniciativas com interesse e benefício para a comunidade.
Gostaria por isso de felicitar a Sociedade Estoril-Sol por esta sua atitude empenhada na promoção da cultura, através dos prémios literários que decidiu criar, há mais de duas décadas, e com os quais têm sido contempladas algumas das obras mais significativas da nossa literatura contemporânea.
Os autores portugueses estão-lhe decerto gratos, assim como todo o público que assiste às manifestações artísticas que regularmente promove.
Em circunstâncias como as actuais, é ainda maior o relevo de exemplos como este para a vitalidade da nossa cultura.
Possuímos, de facto, um imenso e notável património cultural, e esta cerimónia é a prova de que ele continua pujante e se renova, de geração em geração, mesmo quando as condições são difíceis e a adversidade nos bate à porta.
Homenageamos aqui, antes de mais, os dois escritores que dão o nome a estes prémios literários e que simbolizam aquilo que de mais significativo se escreveu, em português, na segunda metade do século XX. O primeiro, Fernando Namora, foi um dos grandes, se não o maior expoente da chamada literatura neo-realista, uma literatura fortemente ligada aos problemas sociais que assolaram a Europa e os Estados Unidos nos anos 40.
Agustina Bessa-Luís, por seu turno, é comummente considerada um dos autores que mais inspirou a actual geração e que mais contribuiu para a renovação da literatura portuguesa nas últimas décadas.
Evocar estes escritores, escolhendo-os como patronos de dois prémios de ficção, é também, porventura, o modo mais adequado e mais nobre de celebrarmos a continuidade entre gerações, da qual sempre se alimenta a verdadeira cultura.
Mas esta continuidade não significa inércia ou estagnação. Pelo contrário, quer dizer mudança e criatividade, se não mesmo ruptura com o que antes se considerava inultrapassável. Foi isso que fizeram Namora e Agustina. É isso que fazem Gonçalo M. Tavares e Tiago Patrício, a quem hoje entregámos os Prémios promovidos pela Sociedade Estoril-Sol.
Os seus livros mostram bem que a literatura portuguesa continua viva e mantém, por isso mesmo, a capacidade de nos surpreender, quer pela inovação da escrita, quer pela construção de novos quadros imaginários.
Quero apresentar, a ambos os premiados, os meus sinceros parabéns.
Na verdade, a excelência dos nossos escritores e artistas é um sinal e um garante da vitalidade de uma nação como Portugal, que tem na sua língua um dos mais importantes valores patrimoniais.
E é também uma das formas mais gratificantes de afirmação da cultura portuguesa no Mundo, contribuindo assim para o reforço da nossa projecção e da nossa identidade enquanto Povo.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Permitam-me que dirija uma palavra especial de saudação ao vencedor do Prémio Fernando Namora, Gonçalo M. Tavares, a quem tive o gosto de condecorar, no passado mês de junho, com o título de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Naturalmente, depois de tudo o que já ouvimos nesta sessão, e depois de tudo quanto se tem escrito sobre ele, seria redundante eu tentar fazer de novo o elogio da sua obra.
Gonçalo M. Tavares é realmente senhor de um talento invulgar, não apenas para criar as histórias e a galeria de personagens que habitam nos seus livros, mas também para encontrar as palavras que exprimem com exactidão a complexidade do mundo real.
Juntam-se nele uma cultura vastíssima e uma intuição aguda daquilo que são as preocupações e o sentir da nossa época. Escreve em português de lei, mas transmite ideias e emoções que tocam à sensibilidade de pessoas de todo o mundo. Não admira, por isso, a autêntica vaga de reconhecimento, nacional e internacional, que tem vindo a coroar a sua obra.
Só este último livro – Uma viagem à Índia - já obteve, além do Prémio Fernando Namora, que hoje lhe foi entregue, mais quatro prémios em Portugal e um no Brasil. Em França, onde acaba de ser traduzido, a crítica rendeu-se-lhe de imediato, havendo mesmo quem o tenha recentemente qualificado, entre outros elogios, como «a grande epopeia dos nossos tempos».
Estou certo de que os muitos livros que Gonçalo M. Tavares ainda virá a publicar continuarão, como até aqui, a ser coroados de êxito.
Faço igualmente votos para que o vencedor do Prémio Revelação, Tiago Patrício, depois desta tão bem sucedida iniciação na literatura, prossiga a sua carreira literária e venha a realizar outras obras dignas de reconhecimento.
A um e a outro manifesto o meu apreço e desejo as maiores felicidades.
Muito obrigado.