É com o maior gosto que hoje inauguramos este magnífico espaço, a Plataforma das Artes e da Criatividade, que irá constituir um novo polo de atração desta bela cidade de Guimarães.
Uma cidade que é, este ano, Capital Europeia da Cultura, o que ilustra bem o reconhecimento que é feito, a nível internacional, do valor cultural e patrimonial deste espaço urbano único. Esta é uma cidade que teve uma ambição de futuro e que teve o engenho e o esforço de a materializar em eventos culturais, em ações que envolveram os agentes locais e as populações, em edifícios que irão perdurar e servir os habitantes de Guimarães.
A abertura desta Plataforma vai ao encontro do que tenho vindo a sublinhar em diversas ocasiões: as cidades dos nossos dias têm de descobrir a sua vocação, encontrar um desígnio que as distinga de outras urbes. Os autarcas têm de liderar processos de mobilização dos agentes locais e dos cidadãos para projetos coletivos que combatam o despovoamento e atraiam a população jovem e, mais do que isso, que integrem a agenda de desenvolvimento económico e social que Portugal, urgentemente, tem de concretizar.
Guimarães encontrou o seu desígnio e está a percorrer o seu caminho, fazendo um percurso que deve servir de exemplo. Recuperou de forma modelar o seu centro histórico e, agora, com a transformação do antigo Mercado Municipal nesta Plataforma das Artes e da Criatividade, dá novas mostras da sua vitalidade e do seu espírito inovador.
Vale a pena notar que se reunirão, neste espaço, três grandes áreas programáticas: o Centro de Artes, que acolherá de forma permanente a Coleção do Mestre José de Guimarães, e que será um local de atração turística por excelência; depois, a instalação de Ateliers Emergentes de Apoio à Criatividade e, por fim, Laboratórios Criativos, de apoio empresarial e fomento das indústrias criativas.
Tenho salientado a necessidade de esta região do País se afirmar como um espaço privilegiado de crescimento das indústrias criativas, em articulação com a atividade empresarial. Desta articulação entre criatividade artística e empreendedorismo irá decerto resultar uma renovada dinâmica para as empresas, designadamente através do fortalecimento das suas marcas e da originalidade dos seus produtos. Constituirá também um importante elemento de atração e empregabilidade de jovens talentos.
Saúdo, pois, muito vivamente, a inclusão desta área programática na atividade da Plataforma das Artes e da Criatividade.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Quero igualmente saudar, nesta ocasião, o exemplo extraordinário de amor pela sua terra natal que a todos nos dá José de Guimarães, um dos artistas plásticos portugueses de maior projeção nacional e internacional, ao ceder o seu acervo a este Centro. Aqui tem as suas raízes, é certo, mas o currículo que possui a nível mundial facilmente o poderia ter levado a tomar outra opção. Muitas e muitas cidades do mundo acolheriam sem hesitar a obra de José de Guimarães que, a partir de hoje, aqui vai ser exposta.
Conhecemos a sua vasta obra. Admiramos as cores que caracterizam a sua pintura, o modo singular e inconfundível como capta a forma humana, o espantoso movimento das suas figuras, na tela ou na escultura. Cada trabalho seu surpreende pela dinâmica, a dinâmica da cor, a dinâmica do movimento. Maravilhamo-nos ao ver os seus papagaios de papel a esvoaçar nos céus, orgulhamo-nos ao olhar para a lista infindável de locais do Mundo que já exibiram o produto do seu trabalho árduo e paciente, o trabalho de um génio criativo cuja formação, curiosamente, não foi feita no mundo das artes.
Como todos sabem, o Extremo Oriente marcou uma etapa decisiva na trajetória ímpar de José de Guimarães, que chegou a trabalhar segundo técnicas japonesas, absorvendo a inspiração do budismo.
De certo modo, num modo que é o seu, José de Guimarães representa o génio português, é um representante de todos quantos, ao longo da nossa História, foram ao outro lado do Mundo mas regressaram à terra das suas raízes. «Por mares nunca dantes navegados» foi, aliás, a designação de um dos seus projetos artísticos. José de Guimarães navegou mares desconhecidos com a originalidade das suas obras, mas retornou à terra de origem. Muitos portugueses fizeram idêntico percurso.
É significativo que, em vários momentos da sua obra, a portugalidade e os seus símbolos sejam recriados. D. Sebastião, D. Pedro, Inês de Castro, D. João II ou Camões são figuras que integram a obra de José de Guimarães, pintor e escultor de projeção mundial que nunca perdeu a atração pelo imaginário e pela simbólica do seu país.
É igualmente significativo que, ao seu talento, esteja muito associada a projeção da imagem de Portugal no Mundo, através de uma figura emblemática que todos conhecemos.
José de Guimarães é, como sabem, um pseudónimo artístico. O artista escolheu-o porque aqui nasceu e, dessa forma, quis homenagear a terra das suas origens. Este Centro é mais uma homenagem que presta à sua cidade natal, à sua cidade-berço. Julgo que a partir de hoje, José Maria Fernandes Marques assume, definitivamente, a identidade do seu nome artístico. Ele é, na aceção mais verdadeira e pura, José de Guimarães. Todos os vimaranenses lhe estão gratos. E é com emoção que, em nome de Portugal, lhe agradeço também esse gesto – um gesto de generosidade, um gesto de fidelidade às raízes, um comovente gesto de portugalidade.
Guimarães chama, ao dia da cidade, o “dia um de Portugal”. Porque naquele dia 24 de junho de 1128, D. Afonso Henriques tomou a palavra e disse que Portugal queria ser. E, até hoje, somos Portugal.
As comemorações do dia 24 de junho, “dia um de Portugal”, em que se celebra a batalha de São Mamede, são um momento alto através do qual Guimarães promove e rememora, anualmente, a sua identificação com a história nacional. Guimarães perpetua a memória do rei fundador, honrando a sua justa reputação de berço de Portugal.
Mas a verdade é que ninguém pode ficar no berço para sempre. O peso do passado está sempre presente em nós mas tem de servir, acima de tudo, para nos inspirar para o futuro. O passado que Guimarães tão exemplarmente preserva dá-nos bons alicerces para avançar.
Como disse Fernando Pessoa, referindo-se a D. Afonso Henriques:
“Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.”
Quando, em 2009, aqui me encontrei para receber, enquanto fiel depositário, a Medalha de Ouro atribuída ao Rei que fundou Portugal, senti-me comovido, na plena consciência do significado do gesto no quadro da nossa existência como Estado e como Nação.
A atribuição da mesma distinção, agora ao Presidente da República de Portugal, que particularmente me sensibiliza, consagra afinal a profunda expressão do poeta: o Fundador, no seu tempo, cumpriu a missão; hoje, a vigília é nossa.
Muito obrigado.