Em março de 2011, tive oportunidade de me deslocar à Universidade do Porto, por ocasião das celebrações do centenário desta que é, atualmente, a maior instituição de ensino e investigação científica de Portugal.
Hoje, é com o maior gosto que me associo à inauguração das novas instalações da Faculdade de Medicina, da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
Trata-se, como aqui foi sublinhado pelos respetivos diretores, de um importante investimento, quer em termos de qualidade arquitetónica, quer de sofisticação tecnológica.
As universidades e os centros de investigação científica são hoje obrigados a competir em escalões cada vez mais exigentes.
Para tal, necessitam não só de adquirir uma dimensão e uma massa crítica que lhes permitam ombrear com os mais ambiciosos, como de dispor dos recursos adequados e da correspondente autonomia de decisão.
Em Portugal, foram feitos, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, grandes esforços no sentido de promover o desenvolvimento e o acesso ao conhecimento científico e os resultados são hoje bem visíveis.
A aposta no conhecimento científico tem sido, aliás, uma das mais consensuais no contexto político nacional, no sentido em que os diversos governos que se têm sucedido têm assumido este objetivo como estratégico para o desenvolvimento da nossa economia.
O País deu, assim, um considerável salto em frente e passou de uma situação de grande atraso e carência, comparado com os países mais desenvolvidos da Europa, para uma situação que se aproxima da média europeia.
Esta evolução tem sido confirmada pelas avaliações muito positivas realizadas por instâncias internacionais, como a OCDE ou a Comissão Europeia.
O mesmo reflete o elevado número de prémios que têm vindo a dar merecido reconhecimento ao trabalho dos investigadores portugueses, seja em instituições nacionais, seja em ambientes internacionais de grande exigência e projeção mundial.
O país tem progredido em todos os indicadores do conhecimento científico, e, em particular, no investimento efetuado em investigação e desenvolvimento e na formação de recursos humanos, incluindo mestrados e doutoramentos.
A Universidade do Porto é, sem dúvida, um exemplo bem ilustrativo dos progressos que Portugal tem alcançado nessa área, a par de outras universidades portuguesas que integram os mais elevados padrões no quadro da avaliação internacional.
Para um país como Portugal, que, durante séculos, andou arredado de lugares de relevo nestes domínios na Europa, pagando com isso o preço do seu atraso de desenvolvimento, o ativo acumulado nas últimas décadas em formação e investigação científica deve ser considerado como estratégico.
Quanto maior for o nível de desenvolvimento científico de um país, maior será o seu potencial de gerar inovação e informação de qualidade e, logo, maior o potencial de criação de riqueza e de bem-estar da sociedade.
Abraçar a ideia de que a crise económica que vivemos constitui razão suficiente para se abandonar a aposta no desenvolvimento do conhecimento científico seria, certamente, uma visão míope.
Como por várias vezes tive ocasião de sublinhar, os imperativos de contenção e rigor na gestão e no dispêndio de fundos públicos não devem fazer perigar nem o acesso dos mais carenciados ao ensino superior, nem as condições para a manutenção de um corpo docente e científico qualificado e mobilizado.
Nesse sentido, impõe-se identificar e apostar nos melhores, não podendo o País dar-se ao luxo de os perder, porventura definitivamente, para outros centros de desenvolvimento científico no estrangeiro.
Devem, por isso, ser criadas as condições necessárias para que os melhores investigadores se fixem no País, sendo um bom sinal a prevista elaboração de um estatuto do bolseiro que reconheça e valorize o seu trabalho.
A comparação das instituições ao nível mundial é impiedosa e o único caminho para estarmos inscritos entre os melhores é prosseguir na senda da excelência, mantendo um corpo docente mobilizado e altamente qualificado e uma produção científica produtiva e internacionalmente reconhecida.
Acrescentaria, até, que devemos ter a ambição de conseguir atrair os cientistas e os talentos de outros países, para assim lançar as bases para o desenvolvimento de novas parcerias e de novos setores produtivos em Portugal.
Devo insistir na ambição de associar mais fortemente a investigação científica a novos setores da economia, porque é disso que Portugal necessita: transformar o avultado custo do investimento realizado na ciência, ao longo das últimas décadas, em inovação, em produtos e serviços transacionáveis no mercado e em criação de riqueza e emprego.
Portugal aproxima-se presentemente da média europeia no que respeita ao investimento feito na investigação científica, mas o facto é que surge na cauda da Europa quando se trata de converter o conhecimento em inovação.
É necessário que os agentes económicos e os empreendedores venham aos centros de conhecimento científico recrutar os cientistas, tal como é importante que alguns de entres estes se preocupem em empreender e, principalmente, em investigar em domínios que possam ser postos ao serviço das empresas e dos interesses estratégicos de Portugal.
O modo como foi projetado o novo edifício da Faculdade de Medicina, ligado ao Hospital de São João e dotado de espaços vocacionados para o apoio a atividades de investigação, reflete uma visão de futuro que me parece particularmente adequada, já que integra uma maior intensidade no intercâmbio entre a investigação básica e a prática clínica.
Como pude constatar durante a visita que realizei às instalações, a Faculdade de Farmácia e o Instituto de Ciências Abel Salazar irão partilhar três novos edifícios, dotados de raiz com as mais avançadas condições de trabalho científico e académico.
Essa partilha favorece, sem dúvida, as interações que devem estabelecer-se entre as faculdades e os institutos dedicados a ciências de ponta, como é o caso do Instituto Abel Salazar.
Saliento também a notável integração neste complexo do edifício da antiga reitoria e a ligação ao Centro Hospitalar do Porto, numa interconexão harmoniosa que liga o que parecia separado, num convite irrecusável ao trabalho em colaboração.
Trata-se, sem dúvida, de um excelente exemplo de aproveitamento dos fundos europeus, que envolve um elevado esforço nacional de comparticipação, para o desenvolvimento regional e a valorização do nosso território. Estão de parabéns os arquitetos Manuel Gonçalves e José Manuel Soares.
A inauguração de novas instalações é vista, muitas vezes, como um recomeço, uma oportunidade de reforço dos propósitos e das ambições.
É esta a visão que julgo estar espelhada neste ambiente estimulante do ponto de vista arquitetónico e de organização de espaços, com equipamentos e tecnologia sofisticados, e que terá, certamente, uma gestão rigorosa, capaz de atrair e potenciar as capacidades humanas que aqui se reúnam.
Essa confluência virtuosa vai permitir que se escreva nesta nova casa uma história de trabalho profícuo e de sucesso, que confirme e amplie a obra coletiva que a Universidade do Porto e cada uma das suas instituições começaram a escrever há um século, mantendo viva, com elevado mérito e persistência, uma ambição coletiva que nos cabe, em cada dia, interpretar e concretizar.
Quero, por isso, prestar a minha homenagem às Faculdade de Medicina e de Farmácia e ao Instituto Abel Salazar, bem como à Universidade do Porto que, pela mão do seu Magnifico Reitor, Professor Marques dos Santos, tem conduzido esta academia com visão estratégica e rumo firme, com largos créditos firmados em áreas consideradas estratégicas para o futuro do País.
Felicito todos os que ergueram esta obra e desejo os maiores êxitos à atual geração e às gerações que aqui hão de demonstrar e desenvolver as suas capacidades e os seus talentos.
A todos desejo um bom ano de 2012, as maiores felicidades e um excelente trabalho.
Muito obrigado.