O centenário do Crédito Agrícola em Portugal é um acontecimento de grande relevo e uma celebração a que me associei desde a primeira hora.
Com a minha presença neste Congresso, quis dar um sinal de reconhecimento público pelo trabalho desenvolvido nestes cem anos e sublinhar a importância de a agricultura portuguesa e de outras actividades em meio rural disporem de condições adequadas de financiamento para que possam aprofundar o seu processo de modernização e adaptação às exigências do nosso tempo.
Quero, de igual modo, salientar o contributo decisivo que o Crédito Agrícola, como rede de associativismo cooperativo bancário, tem dado para a coesão e para o desenvolvimento económico e social do nosso País, na diversidade das suas regiões.
Saúdo, por isso, na pessoa dos seus dirigentes – o Presidente da Direcção da Fenacam, o Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da Caixa Central e o Presidente do Conselho de Administração da Caixa Central –, todos quantos, dirigentes, sócios e colaboradores, acreditaram e trabalharam neste projecto ao longo dos cem anos da sua história.
Uma vez que este centenário é igualmente o centenário de muitas Caixas de Crédito locais, que ainda operam, isoladamente ou de forma integrada, gostaria também de dirigir uma especial saudação às Caixas de Elvas, de Mourão e de Reguengos; às Caixas de Serpa, de Alcáçovas e de Viana do Alentejo; à Caixa de Aljustrel, à Caixa de Alcochete, e às Caixas de Pernes e de S. Teotónio, todas elas criadas em 1911.
Conheço bem a importância da acção do Crédito Agrícola Mútuo, cujas raízes históricas vêm do século XVIII, mas cuja verdadeira fundação data do início da República.
É indiscutível a sua contribuição para o desenvolvimento da nossa economia, em especial das nossas zonas rurais. As micro, pequenas e médias empresas que se dedicam à agricultura e a outras actividades no mundo rural têm beneficiado, de forma expressiva, da organização do crédito agrícola, do seu modelo de gestão e do seu desempenho, sobretudo através da relação de proximidade desenvolvida com as comunidades locais, que permite uma acção particularmente ajustada à realidade do nosso país.
A já longa história do Crédito Agrícola Mútuo regista, como é natural, períodos de expansão e outros de estagnação e de dificuldades. Mas, num balanço deste caminho centenário, concluiremos que o Crédito Agrícola chegou aos nossos dias com pujança, com objectivos de futuro e com resultados de que se podem orgulhar os seus dirigentes e associados. A sua importância é bem demonstrada pelo facto de os associados das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo serem hoje já mais de 500 mil e o total dos seus clientes superar claramente o milhão.
Apesar da sua notável evolução e do alargamento da sua actividade, as Caixas de Crédito Agrícola não se afastaram quer da sua missão original de apoio à agricultura, onde maioritariamente recrutam os seus associados, quer das áreas essencialmente rurais, onde se situa a generalidade dos seus balcões.
O Grupo do Crédito Agrícola transformou-se, por direito próprio, conquistado graças à obra feita, num dos principais grupos financeiros portugueses. Trata se de um Grupo moderno, parceiro de desenvolvimento do mundo rural, bem integrado no tecido económico e social de todas as regiões do País, com respostas adaptadas às necessidades locais.
Assim, e não obstante as dificuldades generalizadas que o sistema financeiro nacional enfrenta, não posso deixar de assinalar os bons resultados registados pelo Grupo nos últimos anos, fruto, em larga medida, de uma progressiva adopção de boas práticas no seu sistema de crédito, da sua filosofia de proximidade, do conhecimento da realidade local e de um importante esforço de consolidação financeira, cujo sucesso é bem visível.
De facto, este Grupo tem sabido e conseguido, num tempo de particular incerteza, salvaguardar os critérios de solvabilidade e robustez que tão cruciais são para o funcionamento saudável do sistema financeiro e da economia.
Como todos sabemos, os cem anos do Crédito Agrícola, em cujas comemorações este Congresso se insere, coincidem com uma fase muito difícil para Portugal e para todos os Portugueses.
Vivemos hoje um dos períodos mais complexos da nossa História recente. Um período conturbado a nível internacional, muito delicado quanto à solidez dos laços que têm unido a Europa e, sobretudo, muito crítico para a nossa economia, hoje marcada pela necessidade imperiosa de corrigir desequilíbrios insustentáveis que se vinham acentuando.
Apesar dos sacrifícios que a todos são exigidos para que possamos superar as dificuldades do presente, as instituições financeiras, em particular, continuam a ter uma missão muito relevante a desempenhar. Desde logo, no apoio ao empreendedorismo, à iniciativa privada e local e como esteio das empresas e dos cidadãos expostos à actual crise, mas cujo potencial não está em causa.
O flagelo do desemprego prolongado e a emigração de milhares de jovens contrastam com o despovoamento dos campos, o envelhecimento e a desertificação do interior do País. Este aparente paradoxo obriga-nos a pensar em soluções inovadoras, de forma a criar novas oportunidades de auto-emprego e de empreendedorismo rural, em especial nas regiões demograficamente mais carenciadas e com maior potencial agrícola.
Precisamos de um programa de repovoamento agrário que consiga captar uma parte dos recursos humanos desaproveitados.
Por isso veria com muitos bons olhos que existisse uma concertação de esforços, entre entidades públicas e privadas, visando criar medidas de incentivo à fixação e atracção de activos nas zonas rurais, proporcionando-lhes uma oportunidade de contribuir para o aumento da produção e para a recuperação do património do mundo rural português.
Os incentivos ao emprego e aos jovens agricultores, o apoio a empresas de inserção, a concessão de microcrédito para projectos de desenvolvimento rural, podem ser algumas dessas soluções.
O que vos peço, a todos, é um esforço adicional no sentido de darem uma oportunidade, neste momento, a quem está disposto a trabalhar e a contribuir para a superação da crise por que passamos.
Tenho a certeza de que os valores da cooperação e da solidariedade, que desde 1911 norteiam a actividade do Crédito Agrícola, permanecem bem vivos nos dias de hoje.
O Portugal rural, com especial destaque para o sector agro-florestal e alimentar, as micro e pequenas e médias empresas e a iniciativa local, cujo desenvolvimento é determinante para assegurar os equilíbrios fundamentais do nosso País, precisa de instituições como as Caixas de Crédito Agrícola.
As Caixas estão sujeitas, como as demais instituições creditícias, a uma lógica concorrencial que lhes exige grande capacidade de gestão. Mas não devemos esquecer que a sua tradição, a sua cultura centenária e os seus objectivos específicos as transformam em instrumentos de desenvolvimento de proximidade, em que a solidariedade e até a inclusão social estão presentes. Nesta altura, em que além dos riscos económicos existem também riscos de grave retrocesso social, esta missão das Caixas adquire importância redobrada.
Termino, desejando ao Crédito Agrícola e a todas as Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, aos seus dirigentes, colaboradores e associados, os maiores êxitos profissionais e pessoais.
A vossa já longa história, a vossa determinação, o vosso sentido de responsabilidade são uma das melhores garantias de que continuarão a servir Portugal e os Portugueses, servindo o desenvolvimento económico e social de todas as nossas regiões.
A todos, muitos parabéns por estes cem anos de vida.
Muito obrigado.