É com um sentimento de profunda amizade que saúdo Sua Majestade o Rei D. Juan Carlos e o Senhor Presidente da República de Itália, Giorgio Napolitano, nosso caríssimo anfitrião.
Foi muito feliz a decisão de realizar este Encontro num dos centros económicos e industriais mais poderosos da Europa: a bela cidade de Génova, a que chamam ‘La Superba’, notável pela sua História, pelo seu património arquitectónico, pela sua gastronomia, pelo seu influente porto mediterrânico, pela sua prestigiada universidade.
Aos genoveses se atribui, desde há muitos séculos, a ambição de utilizar o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico como ferramentas para criar prosperidade económica, explorando estes recursos à escala global. Deles se diz, também, que são empreendedores e audaciosos, que tomam os seus destinos nas próprias mãos. Estas são qualidades preciosas, adequadas ao espírito de um tempo de mudança e de grandes desafios.
Afirmei há um ano, no Encontro do Porto, que aproximar, cada vez mais, a investigação ao mercado era o caminho para atenuar a reconhecida debilidade da Europa na transformação efectiva dos resultados da investigação tecnológica e do conhecimento em inovação e vantagens competitivas.
Se é consensual que a Europa se tem mantido na vanguarda da produção de conhecimento e excelência científica, é igualmente indesmentível que o seu desempenho comercial tem ficado aquém do desempenho das economias concorrentes, as quais têm ganho vantagem no registo de novas patentes, na criação de emprego de elevada qualificação, ou no lançamento de produtos tecnologicamente superiores. O tipo de questão que nos devemos colocar é se será possível emergir dos sistemas europeus de inovação o próximo Google.
Temos de reconhecer que, apesar de todos os progressos dos últimos anos, a capacidade de inovação ainda não atingiu o nível de consolidação necessário para se tornar no desejado propulsor central da competitividade das nossas economias e de criação de novo emprego qualificado. Esta tendência de baixa eficiência de muitos dos sistemas de inovação europeus, reconhecida pela própria Comissão no seu recente Relatório sobre inovação e competitividade, não sendo novidade, tem vindo a manter-se.
A resolução destas deficiências poderá não decorrer simplesmente da intensificação dos níveis de despesa dirigidos à produção de conhecimento, ainda longe do mítico valor de 3 por cento do Produto. É decerto uma ambição atraente para os decisores políticos e confortável para os receptores habituais do investimento público, mas dificilmente, por si só, será a solução para as nossas dificuldades em competir à escala global, que tem sobretudo a ver com a nossa capacidade de transferência, em larga escala, de conhecimento e da tecnologia para o tecido produtivo.
A experiência dos nossos programas nacionais indica que, para melhorar a capacidade inovadora e aumentar a participação das empresas, se torna necessária também maior agilidade, maior simplificação, e acima de tudo, a substituição do primado da burocracia administrativa pela substância técnica na gestão dos projectos de inovação financiados com capitais públicos. Impõe-se, assim, a reforma inteligente das instituições de inovação nacionais, em favor de maior eficiência de funcionamento e de uma melhor articulação com as instituições europeias.
Com justa expectativa, acolhemos a estratégia de inovação da Comissão Europeia, cuja fase de execução já está em curso. As medidas inscritas na Innovation Union serão um importante teste à capacidade de orientar a actividade de toda a cadeia de inovação para as necessidades do mercado.
O progresso registado pelos nossos países em dimensões-chave da cadeia de inovação não nos deve deixar satisfeitos. Queremos ir mais além do estatuto de “inovadores moderados”. Devemos intensificar os esforços de participação das nossas organizações científicas e empresariais nos diferentes instrumentos disponíveis pela União Europeia, de forma estimular e alargar o dinamismo das redes já constituídas.
Estamos certos que existem boas ideias na Europa e, em particular, nos nossos países. A prioridade é encontrar um quadro de cooperação mais favorável à sua exploração, em benefício da recuperação económica e do padrão de qualidade de vida que desejamos.
Senhoras e Senhores,
Enfrentamos a perspectiva de um período de estagnação económica, a persistência de elevados níveis de desemprego e o risco de deterioração da qualidade de vida e dos níveis de prosperidade dos nossos concidadãos.
Os nossos países estão a realizar ambiciosos programas de correcção dos desequilíbrios orçamentais. Em simultâneo, estão em curso profundas reformas económicas que agora, por força das circunstâncias, se tornaram consensualmente inadiáveis e aceites como necessárias.
As mudanças em curso são condições imprescindíveis para o reforço da sustentabilidade financeira e para a recuperação económica dos nossos países. Todavia, representam sacrifícios pesados que se imporão aos nossos cidadãos por vários anos. O apoio da sociedade só se manterá se os sacrifícios não forem em vão, se existir a convicção de que as reformas irão permitir retomar uma trajectória de crescimento sustentado.
Continuar a investir na criação de conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico deverá ser, por isso, uma prioridade. Mas, na actual conjuntura de rigor orçamental, devemos também sublinhar o papel dos empreendedores como peça fundamental do bom funcionamento do sistema de inovação.
Conseguir um crescimento económico mais robusto e saudável e, ao mesmo tempo, criar emprego qualificado são as nossas metas. São propósitos que exigem novas soluções tecnológicas, vontade empreendedora, mas também forte liderança e o reforço de uma cultura de realismo e de responsabilidade.
A tecnologia e o conhecimento são forças transformadoras e geradoras de progresso das economias e das sociedades. Esta é a ideia fundadora das nossas Instituições COTEC. Uma ideia que tem inspirado uma agenda de mudança nas nossas economias e nos nossos empresários e gestores.
O projecto da COTEC Europa, desde o seu início, está alicerçado na ideia da concertação e cooperação, de partilha de um conceito comum da inovação no plano europeu, no qual o desenvolvimento tecnológico é o motor da competitividade e produtividade das economias e a força maior de criação de emprego. Esta é uma das razões porque nos reunimos hoje aqui, em Génova.
A participação dos empresários é a prova de que, apesar das crises que teimam em persistir, a força da inovação empresarial está bem viva.
Estou certo de que este Sétimo Encontro contribuirá, tal como os anteriores, para uma reflexão proveitosa e inspiradora sobre as metas estabelecidas pelos nossos países. Assumindo as nossas responsabilidades, estaremos mais confiantes e mais determinados a atingi-las.
Muito obrigado.