É com grande satisfação que, mais uma vez, aceito o convite para presidir à entrega do Prémio Champalimaud de Visão, o maior galardão mundial na área da oftalmologia e do combate à cegueira.
Hoje assistimos ao 5º ano sucessivo de um prémio que concretiza a vontade de um português – António Champalimaud – que sonhou um dia poder vir a contribuir para a saúde e o bem-estar das pessoas com deficiência visual em todo o Mundo.
Esse sonho concretizou-se na criação deste prémio e na atribuição de um relevante valor pecuniário à causa da luta contra a cegueira evitável ou passível de ser tratada.
António Champalimaud deu um exemplo de grande sensibilidade humanitária e de grande responsabilidade social que, não só enobrece o fundador da Instituição a que a Dra. Leonor Beleza preside com sabedoria e dedicação, como muito prestigia Portugal, pelo estímulo e contributo que este prémio representa ao fomento da investigação científica, ao desenvolvimento tecnológico e à cooperação a nível global.
Estamos hoje perante uma iniciativa da Fundação Champalimaud de grande projecção internacional, tal como o é o seu Centro de Investigação, que tive a honra de inaugurar no ano passado e que alberga cientistas e investigadores de base e clínicos que, quer nas neurociências quer no cancro, trabalham, produzem e aplicam a ciência ao bem das pessoas.
A Fundação Champalimaud, sob o impulso da Dra. Leonor Beleza, tem vindo a desenvolver um esforço no sentido de uma investigação científica de proximidade entre a investigação básica e os doentes, entre a investigação clínica e o tratamento dos doentes, procurando maximizar as possibilidades de encontrar diagnósticos e soluções para os problemas clínicos do presente, nas áreas científicas em que se vocacionam.
O impacto directo da investigação levada a cabo pela Fundação Champalimaud, na saúde e bem-estar das pessoas, não escapa aos olhos do Mundo e a sua perspectiva global está bem patente no prémio anual que distingue, alternadamente, aqueles que se destacam na intervenção social de combate à cegueira e os que se notabilizam pela investigação nesta área.
Neste ano de 2011, o Prémio Champalimaud de Visão distingue o Programa Africano de Controlo da Oncocercose (APOC), um programa de grande alcance humanitário, destinado a abranger dezenas de milhões de pessoas, 99% das quais vive em áreas endémicas do continente africano, onde esta doença parasitária tem consequências devastadoras.
Este programa de controlo da chamada “cegueira do rio” é posto em prática de uma forma inovadora, através de mecanismos de base comunitária, envolvendo as próprias populações doentes na distribuição do medicamento específico ao tratamento desta forma de cegueira.
O APOC, com sede operacional em Burkina Faso, conta com o apoio de prestigiadas organizações envolvidas nesta luta: a Organização Mundial da Saúde, o Banco Mundial, os Ministérios da Saúde dos países em desenvolvimento, várias organizações não-governamentais que lutam contra a cegueira e uma empresa farmacêutica que distribui à OMS, sem custos e para este programa, o medicamento que investigou e que é o único para o tratamento e controlo da doença.
A luta contra esta forma de cegueira, evitável e curável, é um trabalho gigantesco frente a uma fortíssima causa de desigualdade social.
Trata-se de uma doença muito expressiva em todo o continente africano, sobretudo na África ocidental onde, nas zonas endémicas, as populações são infectadas aos 14-15 anos e cegam antes dos 30 anos.
Não posso deixar de manifestar o que, para mim e para os portugueses em geral, representa a execução deste programa em países como Guiné, Angola e Moçambique, com os quais Portugal mantem laços de grande estima.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
O Prémio António Champalimaud de Visão nasceu de um desejo de apoiar as inúmeras organizações ou grupos que se distinguem por contributos excepcionais na compreensão dos mecanismos da visão ou no combate à cegueira nos países em vias de desenvolvimento.
Anualmente, milhões de pessoas em todo o Mundo são tragicamente privadas de visão, no entanto, a maioria dos casos de cegueira é evitável.
É imenso e de grande relevância à escala global o trabalho e o empenhamento de todas as organizações analisadas e seleccionadas pelo Júri do Prémio.
Todos os homens e mulheres que dedicam as suas vidas a auxiliar os outros no combate à cegueira são heróis.
Este Prémio é para eles, para os que nunca desistem de lutar para garantir melhores condições de saúde e bem-estar aos mais fracos e desfavorecidos do mundo em que vivemos.
Muito obrigado.