Discurso do Presidente da República por ocasião das Comemorações do 140º aniversário da elevação da Covilhã a Cidade
Covilhã, 20 de Outubro de 2010

Senhor Presidente da Câmara Municipal da Covilhã,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Senhora Governadora Civil de Castelo Branco,
Excelência Reverendíssima Bispo da Guarda,
Senhoras e Senhores,

Se hoje nos reunimos neste Salão Nobre para celebrar os 140 anos da elevação da Covilhã a cidade, num acto de inteira justiça que a edilidade em boa hora decidiu promover, devemos recordar que é bem antiga, muito mais antiga, a História do local onde nos encontramos.

A toponímia da Covilhã tem uma origem lendária, que remonta aos tempos dos Mouros e dos Godos. Outros atribuem-lhe o nome às actividades que se desenvolviam nas pastagens da Serra. Covilhã ter-se-á chamado originalmente «Covil da Lã» e só com o passar dos séculos ganhou a designação por que hoje a conhecemos.

A Lã e a Neve, para recordar o título da imorredoura obra de Ferreira de Castro, são duas marcas distintivas desta terra. Na sua alvura, a lã e a neve são também sinal da pureza das gentes que aqui habitam, homens e mulheres francos e de uma só palavra, Portugueses de palavra dada, cidadãos inteiros e de carácter, para quem a verdade está acima de tudo.

Há 140 anos, D. Luís elevou a Covilhã a cidade e, por isso, iremos homenagear a figura deste monarca, que deixou boa lembrança entre os seus contemporâneos. Ramalho Ortigão evocou a sua personalidade, dizendo que o rei era «afável, compadecido, liberal, generoso». A imprensa da época afirmou que o seu reinado foi «feliz», «tranquilo», «próspero», de «consolidação e consagração do regime representativo». E, do tempo de D. Luís, um catedrático de Direito de Coimbra deixou à posteridade um balanço extremamente positivo: «o Rei foi fiel ao pacto fundamental da nação sem abdicações de fraqueza e sem intervenções ilegítimas; o reinado foi de paz, de liberdade, de prosperidade e de progresso», escreveu o eminente jurisconsulto José Frederico Laranjo.

A fidelidade à Constituição, ao «pacto fundamental da nação», é, de facto, o princípio basilar de um bom governo. A isso aliou D. Luís duas qualidades essenciais: firmeza na defesa da ordem constitucional e não interferência no livre jogo das forças partidárias.

A decisão de elevar a Covilhã a cidade é mais um exemplo da sua grandeza como Chefe de Estado. Essa decisão demonstra algo que é essencial a todos os governantes: conhecer a realidade do País e reconhecer o mérito onde ele existe.

Não faltam méritos a esta cidade, tanto no passado como nos dias de hoje. A presença da Universidade e dos estudantes, a quem dirijo uma calorosa saudação, faz da Covilhã uma cidade de futuro e de conhecimento. O município projectou o lema «Covilhã – Cidade de Investimento», criando um Gabinete de Actividades Económicas e Investimento.

As inúmeras potencialidades naturais e humanas que aqui existem estão a ser aproveitadas. As realizações concretas estão à vista, sendo muito oportuna a iniciativa de ilustrar os 140 anos da elevação a cidade com a exposição de outras tantas obras aqui levadas a cabo.

A região soube trilhar os caminhos da inovação e da criatividade, como tive ocasião de verificar ainda em Fevereiro deste ano, no âmbito do Roteiro das Comunidades Locais Inovadoras. Visitei uma unidade industrial de um grupo que soube adaptar-se aos desafios da contemporaneidade, exportando mais de 80% da sua produção têxtil, e um hotel termal que corresponde aos padrões do novo turismo: mais exigente, mais especializado, mais qualificado. Antes tinha visitado o Parque de Ciência e Tecnologia e testemunhado a capacidade empreendedora aí instalada e os resultados dos esforços desenvolvidos pelas autoridades locais na captação de investimento empresarial de qualidade.

A autarquia soube ler os sinais da mudança, que se impõem no nosso tempo. Em 2008, lançou uma nova imagem, sob o lema «Covilhã – Uma Cidade 5 Estrelas», projectando a urbe centenária como um espaço ideal para o investimento, para as actividades de lazer e para viver com qualidade.

Esta última dimensão – a qualidade de vida das populações – é, de facto, essencial para combater a desertificação, para fixar habitantes e para atrair novos residentes.

A aposta na qualidade de vida das populações, feita no quadro das cidades de média dimensão, é um elemento decisivo para captar jovens dinâmicos, activos e empreendedores. Não por acaso, alguns inquéritos mostraram que a Covilhã é das cidades portuguesas com melhor qualidade de vida. No fundo, mostraram o acerto das opções tomadas, revelando que esta cidade se encontra no rumo do futuro.

A Covilhã é, sem dúvida, uma cidade em que vale a pena viver. Longe vão os tempos do isolamento e das agruras do clima. Hoje, graças às novas vias de comunicação, às acessibilidades, ao dinamismo dos covilhanenses e à presença dos estudantes, a Covilhã é uma cidade moderna, orgulhosa do seu passado mas esperançosa quanto ao seu futuro. Há razões para isso. Há razões para ter esperança. Apesar de perfazer 140 anos, esta é uma cidade que não teme o amanhã.

A Covilhã é a prova inequívoca de que, se tivermos visão de futuro e a arte de tomar as decisões certas, é possível conciliar um passado ilustre e um futuro promissor. Hoje é um dia de festa nesta cidade e a ela me associo com imenso prazer.

Há muitos anos, um vosso antepassado, ao ser desterrado para Toledo, disse: «Pode El-Rei Filipe meter-me em Castela, mas Castela em mim é impossível». Estas palavras de Frei Heitor Pinto são consideradas uma das manifestações mais eloquentes da identidade portuguesa.

A Covilhã é Portugal e, em nome de todo o Portugal, quis partilhar convosco a grande alegria destas comemorações. Saúdo calorosamente os covilhanenses e dou-lhes os meus parabéns pelos 140 anos da sua cidade.

Obrigado.