Senhor Presidente do Conselho de Administração da Lisnave,
Senhora Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
Senhoras e Senhores,
A minha visita à Lisnave não é apenas uma visita de cortesia.
Perante os esforços, o sucesso e os resultados que esta empresa tem conseguido atingir nos últimos dez anos, a visita do Presidente da República é um acto de reconhecimento e quase que um acto de justiça.
Com efeito, todos sabem como tenho insistido na necessidade da economia portuguesa conseguir exportar mais e como tenho procurado chamar a atenção para as empresas que se destacam pelas exportações que originam, até para fazer delas um exemplo.
E, a Lisnave, da segunda metade de 1997 para cá, reparou mais de 1.500 navios estrangeiros, a isso correspondendo 1360 milhões de euros de exportação. Ou seja, trata-se de uma empresa fortemente exportadora, com uma taxa de produto exportado perto dos 97%.
Por este facto apenas, a Lisnave, com a sua actividade a que está associada um Valor Acrescentado Nacional de cerca de 95%, reveste-se de uma grande importância não só para a região em que está inserida, a região de Setúbal, mas também a nível nacional.
Em bom rigor, uma vez que no seu segmento de mercado a Lisnave é a maior empresa de reparação naval da Europa e uma das cinco maiores do mundo, pode-se mesmo dizer que estamos perante um gigante mundial e que não há muitas empresas portuguesas que se possam inserir neste tipo de categoria.
Por outro lado, a empresa tem mantido um elevado nível de empregabilidade, directa e indirectamente, a que corresponde a utilização no estaleiro em média de 2.500 trabalhadores.
A Lisnave, que foi no passado uma jóia da coroa da indústria e da economia portuguesa, volta hoje a ser um “case study” mundial na área em que opera e a ser muito importante para a economia do país.
É essencialmente isto, ou seja, o retorno da Lisnave à liga de honra das empresas exportadoras portuguesas, que a minha presença pretende reconhecer e dar a conhecer.
Esta visita não poderia ocorrer em altura mais oportuna, dado que se celebra este ano o décimo aniversário da construção do Hydro-lift, o mais inovador complexo de docas deste estaleiro, que tivemos oportunidade de visitar e que foi construído com know how e engenharia portuguesa. Trata-se ainda hoje do sistema mais avançado da Europa para navios em reparação. Com ele, garante-se um nível de preservação ambiental muito mais elevado que nas docas tradicionais.
Este ano celebram-se também os dez anos da transferência da actividade da Lisnave para este estaleiro da Mitrena.
Esta decisão e as demais opções estratégicas definidas no princípio da década para a empresa têm-se revelado adequadas e são um claro exemplo de como mesmo numa situação extremamente difícil – como era a situação da Lisnave nessa altura - é possível a uma empresa portuguesa reinventar-se e adaptar-se com sucesso às novas realidades.
Pelo que sei, infelizmente, ainda não será neste ano de 2010 que o mercado alvo da Lisnave dará sinais de uma clara recuperação. A queda da economia mundial, levou a uma acentuada contracção do comércio internacional e, consequentemente, a uma forte redução da procura do transporte marítimo e, decorrente desta, uma quebra do mercado da reparação naval.
Este facto exige cautelas e certamente obrigará a contenções de custos e despesas, mas estes deverão salvaguardar, claro está, as responsabilidades sociais da empresa, bem como o espírito de justiça que urge promover na economia mundial e também na economia portuguesa.
Igualmente importante é compreender que indústria naval, tal como a indústria aeronáutica, é uma indústria estratégica para os países que a possuem porque é uma indústria qualificadora que integra conhecimento e tecnologia.
Portugal, por maioria de razão, deverá compreender a grande importância estratégica para o país da indústria naval, dinamizadora que é de inovação no sector marítimo.
Mas devemos reconhecer que nas últimas décadas não tem havido uma política pública que promova a indústria naval e incentive as aquisições domésticas por parte de uma armação nacional, que é hoje diminuta, mas que interessa fazer crescer.
A importância da Lisnave e da reparação naval para Portugal não advém apenas da sua elevada taxa de valor nacional incorporado ou da taxa de exportação, nem mesmo dos postos de trabalho que se geram, e que tão necessários são na conjuntura actual.
Ela decorre da importância estratégica que têm para todo um cluster marítimo.
Preocupa-me, e tenho-o manifestado com cada vez maior insistência, que um país como Portugal não consiga tirar partido do seu maior recurso natural que é o mar.
Foi por isso que na minha intervenção a quando da celebração do último 25 de Abril me interroguei sobre qual a justificação que pode existir para que um país que dispõe de tão formidável recurso natural não o explore em todas as suas vertentes, como o fazem os outros países costeiros da Europa.
Por isso, também, afirmo que Portugal tem de repensar a sua relação com o mar. É essencial que criemos condições e incentivemos os agentes económicos a investir no conjunto dos sectores que ligam economicamente Portugal ao mar.
O percurso recente da Lisnave é uma demonstração cabal de que é possível Portugal voltar a ter um sector marítimo desenvolvido.
Não só a meritória recuperação da Lisnave, que a catapultou de regresso ao posto de empresa de referência mundial na reparação naval, nos prova que podemos desenvolver as actividades marítimas do nosso país, como a sua clientela internacional nos indica que a situação geográfica de Portugal afinal pode ser uma vantagem e não uma limitação, pelo menos quando falamos do cluster marítimo.
A Lisnave, com a sua clientela originária de todas as partes do mundo, é a prova acabada que Portugal, pela sua localização e pela sua natureza de país costeiro, não é o país periférico que insistimos em pensar que somos.
Concluindo, as indústrias da construção e reparação navais são indústrias chave para as demais indústrias do mar.
Por esta razão elas serão igualmente peças-chave para uma estratégia nacional para o mar.
Por tudo isto, é de saudar, muito vivamente, o trabalho que está a ser desenvolvido pela Câmara de Setúbal, em conjunto com diversas entidades ligadas aos sectores do turismo e das actividades náuticas, tendo por objectivo a criação do “Centro do Mar do Estuário do Sado”.
Por outro lado, na próxima semana terá lugar, sob o meu patrocínio, um Congresso sobre Portos e Transportes Marítimos, organizado pela Associação Comercial de Lisboa, conjuntamente com várias confederações e organizações empresariais. Esta iniciativa e outras em preparação indicam-nos que o mar começa novamente a ser visto em Portugal pelo prisma da economia e como recurso base para a criação de valor e promoção do desenvolvimento.
Não queria terminar sem dirigir uma palavra à feliz associação da Ourivesaria Leitão, - a mais antiga ourivesaria da Europa ainda em funcionamento na mesma família -, com a Lisnave, que culminou na criação de um conjunto de jóias inspiradas num grande estaleiro aberto ao mar e ao mundo e no lançamento hoje do Livro «Lisnave, uma jóia da indústria portuguesa».
Esta iniciativa conjunta, que em boa hora foi também apadrinhada pelo meu antecessor, o Dr. Jorge Sampaio, diz-me que estamos certos quando nos propomos partir à redescoberta da geografia de Portugal e reencontramos no mar a principal imagem de marca do nosso país.
Muitos parabéns a ambas as empresas e aos designers que realizaram tão prestigiantes jóias.
Muito obrigado pela vossa atenção.