Santo Padre,
É com profundo júbilo que, em meu nome e em nome de todo o Povo Português, dou as boas-vindas a Vossa Santidade, no início de uma Visita plena de significado para Portugal.
O Povo Português tem por tradição receber com hospitalidade todos quantos o visitam. No caso de Vossa Santidade, a essa hospitalidade vem juntar-se a profunda alegria e o intenso fervor dos fiéis que em Vós acolhem o sucessor do Apóstolo Pedro.
Não é possível explicar Portugal sem convocar as nossas relações com a Santa Sé. Relações que ditaram o reconhecimento da nossa própria existência como realidade política independente, em 1179, e que marcaram a afirmação universal da Nação a que os antecessores de Vossa Santidade chamaram “Fidelíssima”.
Relações multisseculares que encontram, hoje, a sua expressão normativa na Concordata assinada pelo Estado português e pela Santa Sé, em 2004. Nos seus termos, que confirmaram os vínculos que nos ligam, Portugal reconhece o papel da Igreja Católica e respeita e apoia o serviço inestimável que presta à sociedade. Um serviço que quero, de forma solene, na presença de Vossa Santidade, agradecer.
Santo Padre,
O país que Vos acolhe é um Portugal livre e plural, cuja identidade se deve a múltiplos contributos, e que se rege pelos princípios da promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça e da paz.
Um país onde a separação entre a Igreja e o Estado convive com as marcas profundas da herança cristã presente na cultura, no património e, acima de tudo, nos valores humanistas que determinam o nosso modo de ser e de estar no mundo.
Um modo de ser e de estar que se revê na procura do diálogo com outros credos e com o mundo da cultura, que vem distinguindo o Vosso pontificado e de que cumprireis mais uma etapa, em Lisboa.
Noutros tempos, dando um contributo precioso para a expansão da fé cristã, abrimos o mundo ao diálogo universal. Somos, por isso, um povo vocacionado para o reconhecimento do valor da diversidade.
Uma atitude particularmente adequada a um tempo em que, porventura mais do que nunca, se reclama um entendimento entre o discurso da razão e o discurso da Fé.
Esse é o diálogo que incessantemente vindes promovendo como Pastor de uma Igreja que vive na cidade dos homens e que nela faz ouvir a sua voz.
Santo Padre
Recebemo-Vos em tempos de incerteza que põem à prova a solidez das convicções e a força dos laços que unem as comunidades.
Nestes momentos, os homens precisam de quem traga uma mensagem de esperança à sua sede de justiça e de solidariedade.
Solidariedade entre nações, num mundo marcado por abissais diferenças de bem estar e prosperidade.
Solidariedade entre as pessoas, nos nossos próprios países, em particular quando se fazem sentir, tantas vezes de forma brutal e injusta, os efeitos de uma crise económica de dimensões globais.
Solidariedade que está na base do extraordinário projecto de paz e de desenvolvimento que é a construção da unidade europeia.
Solidariedade, valor que distingue os homens de bem, independentemente da sua Fé, e componente essencial do “Mandamento novo” do amor pelo próximo.
Os Portugueses vão escutar-Vos.
Escutar-Vos-ão aqueles que, com alegria, Vos esperam nesta capital de Portugal, junto ao rio em que foi dado sinal de partida para o abraço armilar que levou a Fé católica a tantos Povos, que, hoje, a abraçam como sua.
Escutar-Vos-ão no Santuário de Fátima, que bem conheceis e a que Vos ligam laços tão particulares, local de peregrinação dos católicos que a ele acorrem de todas as partes do mundo.
Escutar-Vos-ão, ainda, na cidade do Porto, nesse Norte onde Portugal nasceu e onde Vos será confirmada, mais uma vez, a devoção e fidelidade de tantos Portugueses.
Santidade,
Foi em nome do Povo Português que Vos convidámos a visitar Portugal. É, pois, com profundo regozijo e sentida emoção que, também em nome dos Portugueses Vos digo: sede bem-vindo Santo Padre!