Senhor Ministro de Estado e da Administração Interna
Senhor Presidente da Direcção da Associação Industrial Portuguesa
Senhor Presidente da Assembleia-Geral da AIP
Senhor Comissário das Comemorações dos 170 Anos da AIP
Senhor Dr. Jorge Sampaio
Senhores Empresários
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
É com muito gosto que me associo à comemoração dos 170 anos de actividade da Associação Industrial Portuguesa. Trata-se de um marco histórico na vida de qualquer instituição, mas tanto mais significativo quanto se reporta a uma das nossas primeiras manifestações de associativismo empresarial e a uma entidade tão profundamente envolvida em todo o processo de mudança que temos vivido em Portugal e nas transformações económicas e sociais que lhe corresponderam.
Acompanhei com atenção o percurso da AIP ao longo das três últimas décadas, quer no âmbito das funções governativas que exerci, quer como economista e cidadão interessado na dinâmica e na intervenção dos movimentos associativos.
É justo reconhecer a ambição com que a AIP procurou responder aos desafios que se colocaram ao desenvolvimento económico do País e a visão estratégica por que tem pautado a sua actuação em prol da modernização e do fortalecimento do tecido industrial português.
Essa ambição e essa perspectiva estratégica de actuação conferem à AIP- Confederação Empresarial, agora como no passado, um papel relevante no apoio à superação dos novos desafios que Portugal enfrenta, num mundo em que o ritmo e a escala das mudanças se revelam cada vez mais intensos e em que o quadro competitivo global em que se inscreve a nossa economia é cada vez mais exigente.
O desenvolvimento económico português, o nível de emprego e a melhoria das condições de vida dos portugueses dependem da nossa capacidade de inovar e assegurar níveis mais elevados de produtividade e de alcançar, por essa via, novos - e imprescindíveis - patamares de competitividade à escala global. É essa a realidade e aí reside o grande desafio que temos pela frente.
As nossas empresas precisam de ser mais competitivas. Os nossos recursos humanos precisam de ser mais qualificados. As envolventes macro e micro económicas devem, por seu turno, ser mais propícias a um crescimento sustentável, favorecendo a confiança e o investimento das empresas e abrindo espaço à iniciativa, à inovação e ao mérito.
Se, por um lado, os agentes económicos têm todo o direito de exigir que o Estado seja mais eficiente na utilização dos seus recursos, que actue com rapidez e transparência, e que adopte políticas que favoreçam a produtividade, também é verdade que existe uma ampla margem para aperfeiçoamentos pelo lado do sector empresarial, seja a nível das capacidades e práticas de gestão, seja a nível de incorporação de factores críticos de competitividade nos bens e serviços que oferece.
Como tenho sublinhado por diversas vezes, importa que se afirme entre nós uma cultura de responsabilidade e de exigência, em que cada um, na sua esfera própria de actuação e ao lado dos seus direitos, veja como seu dever contribuir para o progresso do País, fazendo bem e com qualidade aquilo que lhe compete fazer, numa atitude de iniciativa criadora e de autonomia cívica.
Entendo, nessa perspectiva, que cabe à classe empresarial o papel de verdadeiro agente de mudança, promovendo a modernização tecnológica e a inovação nos produtos e processos, fomentando a qualificação da mão de obra, investindo mais, e, sobretudo, investindo melhor.
Compete aos empresários e gestores apostar na especialização em produtos de maior valor acrescentado, na melhoria da qualidade da gestão e da organização da produção, na conquista de novos mercados, na acrescida integração do conhecimento produzido nas Universidades ou nos centros de investigação.
Acredito, também, que, em muitas destas vertentes, o contributo dos movimentos associativos pode e deve ser importante, em especial no que toca ao grande universo das Pequenas e Médias Empresas portuguesas, através de iniciativas geradoras de ganhos de dimensão e de densidade crítica, do estímulo ao estabelecimento de parcerias e à cooperação competitiva, ou da promoção e consolidação das melhores práticas empresariais. Registo, assim, com satisfação o facto de o programa dos órgãos sociais da AIP, hoje empossados, estabelecer como prioridade o apoio às Pequenas e Médias Empresas.
Temos hoje em Portugal muitos casos de empresas de sucesso, modernas e competitivas em mercado aberto, mas precisamos de muitos mais.
Numa sociedade cada vez mais baseada no conhecimento, a dimensão das empresas, tal como a dos países, não é, em si mesma, determinante. São-no, isso sim, a abertura à inovação e ao mundo, a vontade de empreender, a capacidade de identificar e de integrar conhecimento e de o traduzir em novos negócios ou métodos de trabalho.
Num mundo fortemente concorrencial, mas que é, em simultâneo, um mundo de acrescidas complementaridades e interdependências, torna-se imperativa a cooperação e a partilha de informação entre os empresários e o desenvolvimento de parcerias e de redes de contacto, tanto à escala nacional como à escala internacional.
Cabe, em boa parte, aos líderes empresariais antecipar os novos caminhos, fazer as roturas necessárias e estimular um novo rumo estratégico para a nossa economia. Há que criar espaço para que o potencial empreendedor existente nas pessoas e nas empresas se exprima sem condicionalismos burocráticos obsoletos ou entraves à concorrência. Precisamos de nos afastar definitivamente do paradigma da passividade, da dependência do Estado, da aversão ao risco e da resignação à mediania.
Os empresários portugueses devem antes afirmar a sua capacidade empreendedora, utilizar as janelas abertas pelas tecnologias de informação e comunicação e ir ao encontro do novo campo de oportunidades que a globalização oferece. O que os empresários devem exigir ao Estado é, acima de tudo, que não seja um empecilho à sua liberdade empreendedora.
É uma ilusão pensar que a solução dos problemas económicos do País está na retórica contra a globalização ou na criação de proteccionismos para que empresas ineficientes sobrevivam face à concorrência externa.
Mas já faz todo o sentido pensar que eventuais transferências para mãos estrangeiras do comando de grandes empresas nacionais devam ser acompanhadas com todo o cuidado e não devam ser facilitadas, porque podem envolver custos para o País como um todo. Isto mesmo é reconhecido praticamente por todos os governos europeus.
Como afirmei na Faculdade de Economia do Porto, em Abril de 2005: “Os custos [da transferência dos centros de decisão estratégica de mãos nacionais para mãos estrangeiras] estão na menor capacidade do País para defender os seus interesses no plano externo, no menor aproveitamento dos recursos humanos qualificados nacionais, no enfraquecimento dos centros de saber e investigação, no menor grau de auto estima nacional e de coesão social, na menor capacidade de resposta do País em momentos de crise e perante choques exógenos”.
É preciso instituir entre nós uma cultura empresarial dotada de agilidade e flexibilidade, sem prejuízo de uma forte responsabilidade ética e social. Muitos empresários portugueses já entenderam que o melhor apoio de que dispõem começa em si próprios, na sua atitude perante os problemas e os desafios. E são já muitas, igualmente, as empresas portuguesas que entenderam não haver conflito entre o seu bem-estar económico e a sua acção como agentes activos de aperfeiçoamento da sociedade de que fazem parte, e para quem a dimensão social é uma componente relevante de actuação.
É preciso mobilizar os portugueses para as tarefas do desenvolvimento. O tempo urge e o resto do mundo não espera por nós. Há que ir mais longe e mais depressa. Não podemos conformar-nos com a mediania, com as rotinas ou com as soluções de aparente facilidade que escondem a complacência ou a falta de ambição para progredir. Não basta sobreviver. É preciso vencer, marcar um lugar que projecte o País e inscreva as nossas capacidades num mundo que é extremamente exigente e penaliza, mais tarde ou mais cedo, quem resiste à mudança. Para os empresários portugueses, este é um tempo de decidir, não um tempo de adiar.
O aumento da produtividade e da competitividade das nossas empresas é, em todo o caso, um desígnio que devemos encarar com confiança. Portugal está inserido num espaço económico privilegiado e o intenso debate, a nível europeu e mundial, em torno das melhores práticas promotoras do progresso económico e social permite-nos pensar o futuro num quadro de relativa estabilidade quanto às opções em matéria de política económica. Não é por acaso que Portugal se apresenta como um dos quinze países mais globalizados do mundo, de acordo com os resultados mais recentes do índice de globalização de um reputado instituto suíço de investigação económica (KOF).
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Os Portugueses já deram mostras da sua abertura ao mundo, da sua capacidade de adaptação e da sua vontade de arriscar e de vencer. Este é o momento de voltar a afirmar estas qualidades. O País precisa da acção empreendedora dos seus empresários e conta com a força impulsionadora da Associação Industrial Portuguesa, cujos 170 anos hoje aqui assinalamos.