Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bragança,
Senhor Presidente da Fundação Rei Afonso Henriques,
Senhor Professor Doutor Adriano Moreira,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É sempre com grande prazer que regresso a Bragança.
Bragança, cidade que tem tido um papel liderante no processo de desenvolvimento do Nordeste, promovendo uma mudança que melhora a qualidade de vida de todos, sem romper o equilíbrio do ambiente natural e dos traços históricos e culturais da região.
Bragança, cidade com mais de cinco séculos, povoação de fronteira que, desde D. Afonso Henriques, sempre persistiu em ser portuguesa.
Saúdo a Fundação Rei Afonso Henriques. Trata-se de uma instituição privada com participação pública que, aprofundando as relações entre os lados da fronteira que o Fundador criou, contribui para o desenvolvimento económico, social e cultural do Vale do Douro.
Eis aquilo de que Bragança e esta região mais necessitam: formas inovadoras de valorização do seu património e de dinamização das suas capacidades, consistentes com uma acrescida centralidade no contexto ibérico e uma maior proximidade ao centro da Europa.
Bragança é a cidade da Domus Municipalis, símbolo do municipalismo português. A casa dos cidadãos bragançanos, onde sempre se manifestou o espírito altivo e livre dos transmontanos.
Homenageamos hoje um desses transmontanos, um português ilustre.
O Professor Adriano Moreira, português de Trás-os-Montes que reencontra nas suas origens, em Grijó de Vale-Benfeito, e usando as suas palavras, “a Pátria pequenina que é a aldeia de cada um”.
A “Pátria pequenina” que é Trás-os-Montes da vida austera, que produz homens de porte agreste e alma sensível.
Aqui nasceram, ao longo dos séculos, portugueses que interpretaram, como poucos, o sentido do dever e da honra. O dever e a honra que obrigam à frontalidade e à inteireza.
Na universidade, onde foi Mestre da lucidez, o Professor Adriano Moreira construiu escola, em torno da “convergência dos saberes”. A convergência que, só ela, permitirá conduzir à compreensão de uma sociedade inexorável e crescentemente complexa.
Anunciador de uma idade da convergência e da convivência das civilizações, o Professor Adriano Moreira nunca foi daqueles que procuram agradar a todos.
Na vida pública, pertenceu à estirpe dos que permanecem fiéis à sua palavra e ao seu trajecto.
Foi testemunha da mudança dos tempos e da mudança das vontades. Imitou, então, aqueles penedos graníticos transmontanos que contemplam, serenos, as volubilidades da vida e dos homens.
Nunca foi, no entanto, um dos silenciosos. Sempre foi capaz de dizer o que tinha de ser dito.
Disse o essencial, nem mais, nem menos do que o essencial.
Dizendo, iluminou. É daqueles homens do pensamento e da reflexão que nos fazem compreender melhor o mundo em que vivemos.
Transformou as ideias em palavras e as palavras em acção. Como homem que agiu, sabe o valor do tempo. Sabe, sobretudo, que não se pode perder tempo.
Nas suas avisadas palavras: “é absolutamente inadmissível que alguém, sobretudo quando é responsável pela coisa pública, perca o tempo dos outros, porque o tempo dos outros é o futuro de todos”.
Sempre soube que as instituições duram mais que os homens. Por isso, para servir os fins dos homens, defendeu ser imperativo reforçar as instituições.
São suas, ainda, estas palavras:
“Quando um homem consegue dar uma palavra de conselho, acrescentar uma ideia, remediar um mal, elucidar uma dúvida, preservar um valor, inovar uma solução, deve agradecer em silêncio a graça de um dia ter vivido, em plenitude, o espírito do seu povo.”
Nós, portugueses, temos o dever de agradecer publicamente, por palavras e por actos de reconhecimento como este a que hoje assistimos, ao Professor Adriano Moreira.
Agradecer a quem sempre alimentou a esperança de fazer convergir os valores da História com as exigências do futuro.
Agradecer a quem tanto se ocupou, acima de tudo, da questão de como podemos continuar a ser portugueses.
Agradecer a quem nos fez sentir que o património que legámos ao mundo, mais do que pedras edificadas, pode ser uma verdadeira força moral.
Agradecer, por último, esta prova de devoção à terra dos seus antepassados, a doação da sua biblioteca, um contributo para a preparação dos transmontanos de amanhã. Quem ama os livros sabe o que custa separar-se deles. Só um profundo afecto à sua terra e à sua gente pode sustentar tão generosa decisão.