Senhor Burgomestre,
Digníssimas Autoridades,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Agradeço as palavras de V. Exa., Senhor Burgomestre. Interpreto-as como um sinal de reconhecimento que se dirige a todo o povo português.
Não escondo que é com emoção que regresso a Berlim.
Berlim é uma cidade que nos emociona pela grandeza da sua História, pela imponência da sua arquitectura, pelo modo extraordinário como soube vencer as adversidades do passado. Admiro, acima de tudo, a força e o carácter do seu povo. Os berlinenses sempre se destacaram ao longo da História da Europa. Há precisamente vinte anos, mostraram ao mundo que não existem muros capazes de separar os homens, mas que existem homens capazes de derrubar muros, quando estes procuram amordaçar a liberdade, dividir famílias, amigos e pessoas, separar ideias, projectos de vida, caminhos que se percorreram em comum.
No tempo difícil em que vivemos, seria bom que nos lembrássemos deste exemplo. O povo de Berlim nunca se deixou vencer pelo desânimo. Mesmo nos piores momentos, cultivou sempre a alegria de viver e o espírito cosmopolita que fazem da capital da Alemanha uma cidade única e tão singular.
Separados por um muro sem sentido, os cidadãos de Berlim nunca deixaram de acreditar que um dia todos viveriam em liberdade e em democracia.
Há precisamente vinte anos, todos fomos berlinenses, para usar as palavras imortais que o Presidente Kennedy aqui proferiu, num dos momentos mais difíceis da História recente desta cidade.
Em 1989, todos nos sentimos a derrubar o Muro, todos estivemos com aqueles que estendiam as mãos aos que estavam do outro lado.
Nesses dias memoráveis, festejámos a queda de um muro que também nos agredia, porque agredia o que de mais profundo e essencial existe no ser humano, a liberdade, o desejo da partilha e da comunhão com os outros.
Tenho bem presente esse momento único que marcou a vida de todos quantos tiveram o privilégio de o testemunhar, directamente, ou através de imagens que são autênticas páginas de verdadeira História.
No que me diz respeito, recordo a emoção que senti ao realizar que a cidade dividida que antes visitara, não mais existia e o que isso representava para o mundo e, em particular, para a Europa.
Porque, com a queda do muro, mudava o mundo e nascia uma nova Europa. Uma Europa que queremos que seja exemplo do espírito de Berlim, uma Europa que se abra aos outros, que não tenha medo, nem se resigne, que se afirme pelos seus valores e pela sua capacidade de vencer as adversidades.
Estive no Conselho Europeu em que, pela primeira vez, foram avaliadas as consequências do que acabara de acontecer. Foram momentos únicos que jamais poderei esquecer.
Berlim pode orgulhar-se deste passado recente, como pode orgulhar-se do contributo que, ao longo dos séculos, deu para as artes, as ciências, as humanidades.
Mas Berlim pode também olhar o futuro com confiança, porque em cada paragem desta cidade, nos seus novos edifícios de surpreendente modernidade, nos seus centros de investigação, no arrojo dos movimentos artísticos que aqui nascem e que daqui irradiam somos capazes de ver quanto vale a força indomável de um povo. Berlim soube erguer-se e superar um passado que ninguém quer ver repetido.
O grande símbolo de Berlim não é mais um Muro que dividia, mas as Portas que se abrem para que os homens convivam entre si, Portas que nos lembram que, em Berlim, todos somos cidadãos da esperança.
Muito obrigado.