Senhor Presidente da Fundação Casa de Mateus,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Real
Ilustres Membros do Júri,
Senhor Presidente da Caixa Geral de Depósitos,
Senhora Directora-Geral do Livro e Bibliotecas,
Distinto Laureado,
Senhoras e Senhores,
A atribuição do Prémio Dom Dinis ao poeta Manuel Alegre reveste-se de um significado muito especial, que me apraz aqui registar.
Todos nós acabámos de ouvir as palavras do representante do júri a respeito da qualidade do livro premiado.
Todos sabemos quanto a obra do poeta é de há muito apreciada e, sobretudo, o êxito que ela conheceu junto de tantos leitores, praticamente desde o aparecimento dos seus primeiros versos.
Pela minha parte, gostaria ainda de sublinhar a feliz coincidência de ser um poeta, que é também um político, a receber um prémio com o nome de alguém que, além de político, foi igualmente um notável trovador: el-rei D. Dinis.
A obra de Manuel Alegre é, sem dúvida, uma das que mais se identificam com a nossa história e com alguns dos sentimentos que, ao longo dos séculos, se enraizaram profundamente na nossa maneira de ser e de sentir.
Alguns dos seus versos exprimem o essencial daquilo que fomos e somos ainda hoje, daquilo que fez de nós um povo agarrado ao torrão natal e um povo que, ao mesmo tempo, é capaz de se fazer ao mais longínquo dos oceanos.
«Da minha língua vê-se o mar», dizia Vergílio Ferreira. Foi, de facto, no mar que se escreveram algumas das páginas mais admiráveis da história portuguesa. Não admira, por isso, que o mar continue a marcar presença e a inspirar, tal como já acontecia em outras obras de Manuel Alegre, as páginas deste seu último livro, significativamente intitulado Doze Naus.
De alguma forma, o mar faz parte da nossa identidade e constituiu sempre uma fonte, não só de inspiração literária e artística, mas também de riqueza nacional. Conforme escreve Manuel Alegre:
«Somos um país pequeno e pobre e que não tem
Senão o mar
Muito passado e muita história e cada vez menos
Memória».
Temos, realmente, um passado notável, um passado de que nos podemos orgulhar e para o qual não devemos olhar de forma nostálgica, conforme já tive algumas vezes ocasião de afirmar.
Não creio, no entanto, - que me perdoe Manuel Alegre - que a memória desse passado esteja em risco. Pelo contrário, estou firmemente convicto de que a memória daquilo que fomos não se há-de apagar, pelo menos, enquanto houver poetas a escrevê-la e a declamá-la, em versos que o povo admira e sente realmente como seus.
Poetas como Camões, Almeida Garrett, Fernando Pessoa e o próprio Manuel Alegre, para quem Portugal sempre representou, mais do que um destino, uma verdadeira causa, por maiores que fossem as desgraças que cada um deles, a seu tempo, pôde observar e lamentar na Pátria comum.
Quero, por isso, felicitar vivamente Manuel Alegre, antes de mais, por este prémio e pelo muito que a sua obra tem feito em prol da língua e da cultura portuguesas.
Tanto os seus leitores, como todos aqueles que acreditamos nos valores da liberdade e da cidadania, respeitam o poeta e o cidadão empenhado na construção de um Portugal fiel à sua História.
Quero, finalmente, apresentar os meus parabéns à Fundação Casa de Mateus, na pessoa do seu presidente, o Eng.º Fernando de Albuquerque, pelo êxito que representa o prémio D. Dinis e por tudo quanto ela tem feito pela cultura portuguesa.
Ao longo das últimas décadas, a Casa de Mateus tem sido um bom exemplo de como a fidelidade à herança histórica se pode conjugar com o dinamismo na divulgação das artes e das letras.
Oxalá os exemplos como este prevaleçam e se multipliquem, tanto a nível regional, como a nível nacional.