Senhor Presidente Luís Inácio Lula da Silva, Meu Caro Amigo,
Dr. António Lobo Antunes,
Digníssimas autoridades
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Estamos aqui, neste magnífico Mosteiro dos Jerónimos, símbolo da abertura de Portugal ao mundo e do seu encontro com outros povos, para entregar um Prémio que leva o nome de um Poeta, porventura o maior que alguma vez se exprimiu numa Língua que é hoje património de oito Estados soberanos.
Camões é, ele próprio, também um símbolo.
Dificilmente alguém incarnaria melhor o apego às raízes e, ao mesmo tempo, aos valores universais. Dificilmente uma outra personalidade evocaria melhor as potencialidades do Português enquanto língua de comunicação nos quatro cantos do mundo e, ao mesmo tempo, língua em que se forma e afirma a identidade de cada uma das nossas nações e se exprime a diversa sensibilidade de cada um dos nossos cidadãos.
Ao darem o nome de Camões a este Prémio, os seus fundadores souberam vincar a vocação universal da língua portuguesa, uma língua suficientemente amadurecida, trabalhada por séculos de História, flexível o bastante para se moldar a culturas tão diversas como aquelas em que se transmite.
A projecção internacional dos escritores distinguidos com este Prémio mostra que o português continua a ser, além de um veículo de comunicação à escala global, uma língua viva, que se renova e transforma em criações literárias de excepção.
As melhores provas da vitalidade e do dinamismo da nossa língua são, de resto, as diversas literaturas que se desenvolvem no seu interior, um espelho multifacetado da diversidade de territórios, de culturas, de modos de ver o mundo e de tonalidades que habitam o espaço da lusofonia.
É este Prémio que tenho, hoje, o grato prazer de entregar, com o Presidente Lula da Silva, ao escritor António Lobo Antunes, na sequência da decisão tomada por um júri de especialistas provenientes dos vários países lusófonos.
As razões de uma tal decisão foram, em devido tempo, dadas a conhecer pelo júri. Podemos todos imaginar que não terá sido uma tarefa difícil, de tal maneira é vasto e internacionalmente reconhecido o curriculum literário de António Lobo Antunes.
Desde há quase três décadas, a sua obra tem-se avolumado e diversificado. Por toda a parte, sucedem-se as traduções e edições dos seus romances, as críticas de imprensa e os trabalhos académicos que lhes são dedicados, os prémios que, tanto a nível nacional, como, sobretudo, a nível internacional, o consagram como um autor universal.
As suas personagens retratam o comum dos portugueses e, simultaneamente, o ser humano em toda a sua complexidade.
A originalidade da sua escrita e a invenção de que dá mostras a sofisticada arquitectura das suas histórias são um exemplo claro da pujança da língua portuguesa neste dealbar do século XXI.
Todos nós, os falantes do português, lhe estamos gratos pelo enorme contributo que tem dado à projecção da nossa língua. Através dos seus livros, a lusofonia demonstra que não é um espaço nostálgico de evocação do passado: é, e deve continuar a ser, sobretudo, um espaço dinâmico de criação cultural e de produção de conhecimentos, um espaço que possui uma voz própria num mundo em uniformização acelerada.
Minhas senhoras e meus senhores,
Sei que o momento é de regozijo e que celebramos o mais prestigiado Prémio literário atribuído a uma obra em língua portuguesa.
Não podemos, no entanto, esquecer que a projecção do português e a sua afirmação no mundo, em termos que permitam aos nossos povos colher os benefícios inerentes, é também uma tarefa e uma responsabilidade.
As Conclusões da VII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, fixam-nos objectivos claros, que implicam o compromisso de todos no reforço dos meios ao serviço da promoção e valorização da língua portuguesa. Agora, é preciso passar das palavras, aos actos.
Só uma política séria de preservação e promoção da Língua portuguesa fará jus aos nossos maiores e àqueles que, como António Lobo Antunes, a quem hoje entregamos o Prémio Camões, continuam a enriquecê-la e a testemunhar a sua universalidade.
Só uma verdadeira política da Língua portuguesa permitirá a cada um de nós continuar a dizer, no futuro, com as palavras e a sinceridade com que o dizia Clarice Lispector: «Eu penso e sinto em português, e só esta língua me satisfaria».
Muito obrigado.