Senhor Presidente da Câmara Municipal do Funchal,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Senhor Representante da República para a Região Autónoma da Madeira,
Senhor Presidente da Assembleia Legislativa Regional,
Senhor Presidente do Governo Regional,
Senhor Bispo do Funchal, Excelência Reverendíssima,
Senhores Vereadores e Membros da Assembleia Municipal,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
As Saudades da Terra, assim se chama a obra que Gaspar Frutuoso dedicou às Ilhas Atlânticas e que, em boa hora, foi reeditada no âmbito destas comemorações dos 500 anos da cidade do Funchal.
Se me é permitida uma nota pessoal, tinha saudades desta terra. Todos os que aqui vêm, com saudades partem e regressam ao Funchal e à Madeira.
Não existem muitas cidades que, como o Funchal, se possam orgulhar de cinco séculos de História. Mais do que isso, o Funchal pode orgulhar-se de ter sido a primeira cidade a ser instituída nos vastos domínios dos Descobrimentos.
Ao comemorarmos a instituição do Funchal como cidade, recordamos, naturalmente, diversos momentos da sua História multissecular. Por aqui passaram grandes navegadores: Cristóvão Colombo, Luís de Cadamosto ou James Cook. Por aqui passaram personagens como Napoleão Bonaparte, o futuro imperador Maximiliano do México, e a imperatriz Isabel da Áustria, que ficou imortalizada pelo nome de Sissi.
Mas o Funchal não foi apenas uma terra de passagem. Desde os tempos de João Gonçalves Zarco, o Funchal foi um local de destino e fixação de homens e de vontades. Da vontade de ir mais longe, que levou os aviadores Sacadura Cabral, Gago Coutinho e Ortins de Bettencourt a fazerem o primeiro raid internacional sobre o Atlântico, que terminou no Funchal e serviu de ensaio ao voo épico que, no ano seguinte, os levaria a realizarem a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
É esta mesma vontade de chegar mais longe que, ao fim de cinco séculos, continuamos a encontrar no povo da Madeira. A modernização e o desenvolvimento do Funchal são um sinal de que os madeirenses querem sempre ir mais longe, mesmo quando permanecem na sua terra. O progresso que encontramos em cada paragem desta cidade, tão antiga quanto bela, mostra bem a vontade indomável dos habitantes da Região Autónoma da Madeira.
Comemorar quinhentos anos de História é, sem dúvida, uma ocasião de festa. Mas só faz pleno sentido celebrar o passado quando nele se inscreve uma certeza de presente e uma esperança de futuro.
O que torna o Funchal uma cidade tão singular é, precisamente, este cruzamento entre uma memória de cinco séculos e uma modernidade que é motivo de orgulho para todos os madeirenses. Sob o manto de uma Natureza que fascina pela sua exuberância, o passado e o futuro entrelaçam-se, aqui, numa combinação fascinante. A explosão de cor que, no início de cada novo ano, se reflecte nas águas da baía do Funchal tornou-se um dos mais expressivos exemplos de uma terra que deixa saudades em todos os que a conhecem.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Nesta ocasião, que é um acto de festa mas também uma cerimónia solene, quero saudar muito vivamente os cidadãos do Funchal. São eles que merecem, acima de tudo, ser homenageados. Ao longo de cinco séculos, revelaram a capacidade extraordinária de construir, no meio do imenso Atlântico, uma capital que atrai visitantes de todas as partes do globo. Dir-se-ia que há algo de enigmático neste eterno retorno da História.
O Funchal foi um ponto decisivo para que os Portugueses descobrissem o mundo. Agora, é um ponto decisivo para que os estrangeiros descubram Portugal. Mas, se observarmos mais de perto a realidade, seremos capazes de decifrar o que torna agora o Funchal numa terra de chegada, ao invés de uma terra de partida. Basta olharmos para a vitalidade da sociedade civil madeirense, para o espírito de aventura dos seus empresários, para o empenho e a capacidade de realização das autoridades regionais para percebermos que, no fundo, nada existe de enigmático neste destino de cinco séculos. O que existe, isso sim, é vontade de vencer, trabalho, orgulho de ser maior, desejo de chegar mais além. Com estas qualidades, o Funchal soube erguer-se ao longo de quinhentos anos, sem se deixar aprisionar pelo lastro do seu passado, mas sem, tão pouco, o enjeitar.
Respeitar e valorizar esse longo passado é hoje obrigação de memória. Daí a minha preocupação com a salvaguarda do nosso património, que me tem levado a diversos pontos do País. É algo que também hoje me traz à Madeira.
Aproveito para saudar as autoridades locais pelo esforço que têm colocado na preservação do património histórico-cultural da cidade e para fazer um apelo a que nunca percam de vista este imperativo de preservar para as próximas gerações aquilo que recebemos das gerações que nos precederam. Estou certo de que todos os madeirenses, neste ano em que comemoram o quinto centenário do Funchal, acompanham este desejo de edificar o futuro sem sacrificar o passado.
Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara, bem como todos os vereadores desta edilidade, podem orgulhar-se de, com o vosso dinamismo e a vossa ambição, terem contribuído para fazer do Funchal uma cidade ainda mais atraente e acolhedora, de onde se parte sempre, de facto, com vontade de regressar.
É, pois, com a maior honra que agradeço a Medalha de Ouro da cidade do Funchal, com que quiseram distinguir-me. Interpreto esse gesto como um acto de boas-vindas e de homenagem relativamente ao Presidente da República, mas dirigido, também, a todos os Portugueses.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Ao longo dos próximos dias, irei percorrer as ilhas da Madeira e de Porto Santo. Quero conhecer de perto o muito que tem sido feito nesta Região. E é também meu propósito conhecer melhor a ambição dos madeirenses quanto ao seu futuro, bem como os desafios e problemas que enfrentam no seu presente.
Esta minha visita à Região Autónoma da Madeira teria, naturalmente, de começar pela cidade do Funchal. Não apenas porque este ano se comemoram os seus quinhentos anos, mas também porque aqui se iniciou um caminho. Uma jornada que nos levou às sete partidas do mundo, nessa aventura que deixou uma marca indelével nos destinos da Humanidade. O contributo que a Madeira deu aos Descobrimentos portugueses está bem inscrito na História. O papel que a cidade do Funchal desempenhou na epopeia marítima lusitana é algo que todos conhecemos.
No entanto, é nosso dever, até perante as gerações vindouras, assinalar devidamente uma efeméride desta grandeza. Temos a obrigação patriótica de comemorar esse momento alto da nossa História que foi a instituição da cidade do Funchal. Felicito, por isso, todos os que contribuíram para o vasto e rico programa destas Comemorações, que se prolongam por todo este ano de 2008, com múltiplas e diversificadas iniciativas.
Gostaria de terminar saudando, na cidade do Funchal, todos os Madeirenses. A vós pertencem estes quinhentos anos de vida, de trabalho e de luta em nome de um desígnio colectivo que se chama Portugal.
Muito obrigado.