É com grande satisfação que venho aqui hoje, à Casa de Mateus, para entregar o Prémio D. Dinis a António Manuel Pires Cabral, pelos seus dois últimos livros de poesia.
António Pires Cabral tem uma ligação profunda a esta região e às suas gentes. Delas tem feito crónica na sua obra vasta e diversificada, numa linguagem com sabor às raízes que nunca abandonou, iluminando a alma destas terras que conhece tão bem.
Pires Cabral é um escritor que se impôs no meio literário português pela qualidade e excelência do seu trabalho, tanto em poesia como no romance, no conto ou no teatro, géneros que tem cultivado com igual mestria e sucesso.
Na verdade, depois de Camilo e Miguel Torga, poucos autores terão interpretado com tanta subtileza a realidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Poucos terão sido tão sensíveis à imponência desta paisagem e à memória antiquíssima do seu povo, onde se misturam ecos das mais variadas culturas.
Poucos terão sido tão atentos à dureza e perseverança com que o homem aqui luta para ganhar a vida.
O Prémio do Círculo de Leitores, atribuído há mais de 20 anos ao seu primeiro romance, Sancirilo, era já uma prova de que Pires Cabral tinha ultrapassado as fronteiras da cultura nordestina e vencido esse desafio, sempre difícil, que é dar a conhecer e a sentir à generalidade dos leitores a singularidade de uma região.
O Prémio D. Dinis, que hoje lhe é entregue - e com o qual já anteriormente foram distinguidos nomes tão marcantes das nossas letras como Agustina Bessa Luís, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner ou Eduardo Lourenço - representa a justa consagração e o reconhecimento nacional de um percurso que se tem pautado pela exigência, a sensibilidade e a fidelidade às origens.
Mas António Manuel Pires Cabral não é apenas o escritor de talento que hoje homenageamos, um escritor com nome firmado na literatura portuguesa e com obra já traduzida no estrangeiro.
A dedicação à região nordestina, que está presente e é visível no seu trabalho literário, tem sido igualmente constante na sua actividade, quer como professor, quer como cidadão empenhado na vida local.
No momento em que assinalamos a sua consagração como poeta, gostaria de sublinhar também esse seu compromisso com a comunidade em que nasceu e em que tem vivido, compromisso que se traduziu em múltiplas actividades e projectos realizados, ora por iniciativa privada, ora em colaboração com o poder municipal.
Numa região que foi tantas vezes esquecida e de onde muitos dos naturais foram obrigados a emigrar, não será de mais realçar o papel daqueles que aqui permanecem e preservam a vida, a identidade e a memória locais.
Felicito, pois, António Manuel Pires Cabral por este prémio, desejando-lhe muitos sucessos futuros.
Felicito igualmente a Fundação Casa de Mateus, na pessoa do seu Presidente, Dr. Fernando Albuquerque, que instituiu este prémio e que tem vindo a realizar um trabalho assinalável em prol das letras, das artes e do desenvolvimento regional.
Graças à dedicação e persistência dos seus responsáveis, a Casa de Mateus é hoje um marco obrigatório no roteiro da nossa cultura. Faço votos para que ela continue a ser, como até aqui, um pólo de criação e divulgação artística e para que outras iniciativas similares possam surgir em Portugal.
Muitos parabéns à Casa de Mateus. Muitos parabéns, uma vez mais, ao premiado, o escritor António Manuel Pires Cabral.