Senhor Presidente do Grupo Europeu das Empresas Familiares,
Senhor Presidente da Conferência,
Senhoras e Senhores,
Começo por felicitar, nas pessoas do seu Presidente, Senhor Michael Worley, e do Fundador e seu Presidente Honorário, D. Mariano Puig, os membros do Grupo Europeu das Empresas Familiares, que celebra, este ano, o 10º aniversário da sua fundação. Gostaria também de dirigir uma saudação especial ao Prof. Ernâni Lopes, Presidente desta Conferência, e ao Dr. Peter Villax, Presidente da Associação Portuguesa de Empresas Familiares, que certamente terão tido um papel decisivo na escolha de Lisboa, que julgo tão feliz quanto oportuna, como palco para a sua realização.
Apesar da natural especificidade dos trabalhos desenvolvidos pela Conferência, os temas abordados interessam-nos a todos, não apenas numa perspectiva nacional mas também na perspectiva da União Europeia.
O futuro das nossas economias e das nossas sociedades depende em muito da forma como as nossas empresas, os nossos empresários e gestores, enfrentem as rápidas mudanças desta viragem do século, em que a intensidade do ritmo da inovação científica e tecnológica vai de par com a dos desafios competitivos associados ao aprofundamento da integração europeia e à irreversível globalização dos mercados.
O tecido empresarial europeu é constituído, na sua maioria, por empresas familiares, com uma presença praticamente transversal em todo o domínio produtivo e ao longo da cadeia de valor, que representam uma forte proporção tanto do produto interno como do volume de emprego dos diferentes Estados-membros. Este está longe, aliás, de ser um fenómeno exclusivo das economias europeias: existem estimativas que indicam que entre 65 e 80 por cento de todas as empresas do mundo são familiares.
É curioso notar o crescente interesse dos meios académicos e profissionais pelo estudo das empresas familiares e o desenvolvimento, desde há alguns anos, de todo um novo corpo teórico sobre a dinâmica destas organizações.
A exemplo de algumas das melhores universidades e escolas de gestão norte-americanas e europeias, que foram pioneiras na oferta de cursos e programas de especialização dirigidos a accionistas e herdeiros, verifica-se, na generalidade dos países, incluindo Portugal, um alargamento significativo desta área de formação, a nível quer universitário quer associativo.
As próprias entidades públicas com responsabilidades no domínio das políticas empresariais lhe vêm prestando uma atenção acrescida, cientes da particular importância de aspectos como os da profissionalização da gestão ou do planeamento da sucessão para o desempenho e para o sucesso das empresas familiares.
Ainda que apresentem formas jurídicas e dimensões muito variadas – creio, aliás, que cerca de 200 das 1000 maiores empresas europeias são, precisamente, empresas familiares –, no seu universo predominam, de forma nítida, as micro e as pequenas e médias empresas.
Na comunidade das PME’s e, por maioria de razão, no universo das empresas familiares, coexistem realidades organizativas extremamente diversas, com grandes disparidades nas estruturas e nas competências, às quais correspondem, naturalmente, diferentes problemas, necessidades e capacidades.
Algumas das características que são apontadas às empresas familiares conferem-lhes particulares aptidões para enfrentar com sucesso os desafios desta viragem de século.
Em primeiro lugar, pelo instinto empreendedor e pela cultura de empreendedorismo que tendem a cultivar no âmbito da família e a transmitir às novas gerações.
Em segundo lugar, pela sua tendencial propensão a privilegiar uma visão estratégica, de mais longo prazo, em detrimento de horizontes empresariais pressionados pelo retorno rápido ou meramente inspirados pelo proveito momentâneo.
E, por último, pela nítida percepção de que lhes cabe uma efectiva responsabilidade social, percepção que decorre seja dos seus valores fundacionais, seja do papel tradicionalmente desempenhado junto das comunidades mais próximas. Esta é, aliás, uma dimensão da actividade empresarial que vem ganhando uma nova atenção e que surge tanto mais importante quanto mais avançamos na globalização dos mercados.
Mas, e ainda a propósito de activos de afirmação, gostaria de sublinhar uma frase que me parece, na sua simplicidade, quase lapidar: “As empresas familiares duradouras são as que inovam”.
Na realidade, o ritmo e a escala das mudanças afectam, com intensidade crescente, muitos dos nossos paradigmas económicos e sociais. A dimensão dos ciclos de vida das tecnologias, dos produtos e dos processos coincide cada vez menos com a do ciclo de vida de uma família.
A abertura e a capacidade de fazer frente às necessidades de inovação e de renovação tornam-se, por isso mesmo, requisitos cada vez mais indispensáveis aos propósitos de preservação e de continuidade que estão, nas empresas familiares, singularmente presentes.
Para atingir patamares mais elevados de produtividade e bem-estar, é importante que os recursos económicos sejam afectos às empresas e entidades que melhor os utilizam e sabem valorizar. Às empresas familiares, para além da preservação do património familiar, cabe igualmente garantir que os recursos económicos que controlam são usados de forma eficiente para a sociedade.
Negligenciar os contributos positivos das empresas de base familiar seria tão grave como negligenciar os contributos que a profissionalização da gestão, as práticas de boa governação e a acrescida qualificação das novas gerações podem trazer para o seu desempenho económico.
Todos temos consciência de que o progresso económico envolve um processo de alteração estrutural dos processos produtivos. Mas a verdade é que as nossas economias e as nossas sociedades necessitam do contributo de todos os tipos de empresas, familiares ou não, grandes, médias ou pequenas.
Tive ocasião de sublinhar, recentemente, que a necessária reestruturação do nosso tecido empresarial não pode ser feita contra as pequenas e médias empresas, nem pode ser o mero corolário estatístico do seu desaparecimento. A sua sustentabilidade constitui, diria que em todos os Estados-membros, um elemento fundamental ao equilíbrio do desenvolvimento económico e à própria coesão social e territorial.
Torna-se crucial, por isso, que a qualidade das políticas públicas, europeias e nacionais, evolua de modo a permitir desbloquear o potencial de crescimento e de criação de emprego das pequenas e médias empresas e a fazer pleno uso das suas capacidades inovativas. Este é, de resto, um dos aspectos que tem vindo a ganhar importância na avaliação da Nova Estratégia de Lisboa.
A sustentabilidade competitiva de qualquer empresa tem de integrar a responsabilidade social como um dos seus activos de afirmação e de sucesso. Creio que este é um dos principais desafios que hoje se colocam, tanto aos líderes políticos como aos líderes empresariais, no sentido de encontrar um modelo de crescimento económico equilibrado e uma verdadeira estratégia de desenvolvimento.
Estou convencido de que os participantes nesta Conferência estarão especialmente inclinados a concordar comigo e que esta será uma motivação adicional para os trabalhos do Grupo Europeu de Empresas Familiares.
Muito obrigado.