Encerramos agora, no Centro de Formação Profissional, esta 5ª Jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica, dedicada à Indústria do Mobiliário, que tem nesta região raízes históricas e culturais de muitos séculos.
O fabrico de mobiliário é uma atividade central na estrutura económica dos municípios de Paredes e de Paços de Ferreira, que hoje visitei. Não é possível pensar o desenvolvimento económico, social, ambiental, cultural desta região sem ter em conta a influência da arte de trabalhar a madeira e produzir mobiliário.
Estamos perante um tecido económico particularmente associado à atividade de pequenas e médias empresas familiares e, por isso, muito fragmentado: a dimensão média das empresas é inferior à de outros sectores e à dos seus congéneres na Europa.
O setor é responsável por cerca de 30 mil postos de trabalho e, embora tendo sofrido uma intensa consolidação, na sequência das dificuldades que a economia portuguesa atravessou nos anos mais recentes, tem ainda um peso muito significativo no sector industrial nacional, com especial predominância nesta região.
Não obstante as limitações do mercado interno e a forte concorrência que se verifica nos mercados externos mais desenvolvidos, o sector do mobiliário e afins tem evidenciado um dinamismo muito significativo nos últimos anos. O volume de negócios dá claros sinais de recuperação e apresenta um crescimento robusto de 5 por cento ao ano, segundo os últimos dados disponíveis, referentes ao período 2012-2013.
Estes dados, que por vezes não têm a devida visibilidade na esfera pública, mostram indiscutivelmente que a força dos empresários e das empresas deste sector está bem viva, sendo essencial o seu contributo para o equilíbrio da balança comercial, a recuperação económica e a criação de emprego.
Há que salientar, igualmente, que o dinamismo do setor advém de uma profunda transformação, que não tem passado despercebida aos observadores atentos, quer internos, quer externos. Hoje encontrei bons exemplos do resultado dessa transformação.
Encontrei empresários de espírito aberto a novas ideias, que abraçam a inovação e não temem o risco. Perante a debilidade do mercado interno, os empresários deste sector não baixaram os braços e viraram-se para a sempre exigente expansão internacional.
Tive oportunidade de comprovar os traços mais importantes desta transformação em todas as empresas que hoje visitei. Poderia assinalar a capacidade tecnológica e de fabrico, a organização da produção, a flexibilidade dos processos, elementos que se refletem num serviço muito valorizado pelos clientes. Mas quero destacar um fator igualmente decisivo: a aliança entre o design e os processos de fabrico avançado.
A aceleração tecnológica, o avanço dos métodos de fabricação e a expansão global dos mercados forçam as empresas a diferenciar os seus produtos para atraírem a atenção dos consumidores. Atualmente, o sucesso passa pela combinação do artesanato e das técnicas tradicionais com a capacidade de industrialização flexível, que gera produtos de elevado valor e qualidade comprovada em todo o mundo.
A criação de peças de mobiliário é fruto da imaginação criativa, que combina conceitos funcionais inovadores com traços tradicionais e culturais. O apuramento do design e a relação harmoniosa e tecnologicamente avançada de materiais tradicionais com produtos que se adaptam às necessidades dos consumidores e respeitam as exigências de salvaguarda do ambiente tem sido uma aposta bem sucedida da indústria portuguesa do mobiliário.
O projeto Art on Chairs, ao qual me associei em 2012, no projeto “Duets”, e cujo espólio tive a oportunidade de visitar no Museu do Design de Mobiliário de Paredes, é uma abordagem inteligente de criação de uma rede internacional de designers ligados às empresas da região. Portugal é hoje, indiscutivelmente, um polo de atração de designers internacionais e uma referência neste sector.
Precisamos de estimular novas formas de pensar a ligação entre a inovação criativa e as características endógenas da região, associadas à cultura e ao próprio turismo.
Esta dinâmica de cunho simultaneamente regional e cosmopolita, que testemunhei durante este dia, é inspiradora e valorizadora do sector do mobiliário e da marca Portugal.
O talento e o trabalho da nova geração de designers portugueses estão a atrair a atenção internacional e a projetar o sector e as suas empresas a nível global. A formação profissional no sector do mobiliário, por seu turno, pode proporcionar carreiras de sucesso aos jovens. Os jovens que terminam neste Centro as suas formações têm elevada empregabilidade. É importante, por isso, não abrandar o investimento na formação e aprendizagem profissional, quer aos níveis intermédios quer superiores, já que este é um dos principais fatores de sustentação da indústria. Cabe a este Centro contribuir para o reforço da competitividade desta região e do seu sector do mobiliário.
Saúdo, com particular apreço, o espírito de colaboração presente na iniciativa de subscrever um protocolo de cooperação entre as Câmaras de Paredes e de Paços de Ferreira e as associações empresariais.
Na verdade, só uma perspetiva de gestão integrada, ligando a atividade produtiva e comercial ao turismo e à cultura da Região Norte, criará sinergias verdadeiramente proveitosas. As associações empresariais, assim como as experiências bem sucedidas de consolidação associativa, mostram que, juntos, todos podem fazer mais e servir melhor os seus associados.
O protocolo, cuja assinatura agora testemunhei e ao qual atribuo um significado muito especial, reflete a conjugação das vontades do poder autárquico e dos agentes económicos de corrigir os erros do passado e de dar um novo impulso ao cluster do mobiliário.
Senhoras e Senhores,
Nas várias Jornadas do Roteiro para uma Economia Dinâmica, tenho procurado dar visibilidade a empresas que se destacam pela qualidade da sua produção, pelas suas marcas de prestígio, pela sua presença nos mercados mais competitivos e exigentes. Empresas, muitas delas, que se especializam em nichos de mercado e que competem com grandes multinacionais. Empresas que apostam na inovação, em métodos de produção mais modernos e em capital humano qualificado.
É nas lideranças empresariais que vejo uma outra transformação assinalável. A transição geracional está bem patente nas empresas que visitei nesta Jornada. Mantendo o espírito familiar que norteou a atividade das respetivas empresas desde a sua fundação, uma nova geração de gestores e empresários assume gradualmente a liderança das organizações que integram o motor económico do país.
Nas empresas que visitei, a transição geracional, que é sempre um desafio, fez-se com naturalidade, permitindo aliar a experiência e a sabedoria com a força e as novas ideias da juventude.
Trata-se de uma geração especialmente bem preparada e motivada para ultrapassar os desafios da liderança num contexto global.
A esta nova geração, gostaria de transmitir a minha confiança nas suas capacidades. Estou certo de que podem levar ainda mais longe o esforço e a herança do “saber fazer” dos vossos antepassados.
Quero homenagear, nesta ocasião, a indústria portuguesa de mobiliário, distinguindo um conjunto de empresários cuja fibra e persistência lhes trouxeram carreiras de grande destaque. Através deles, presto tributo a todos os industriais do setor. Assim, é com toda a justiça que lhes irei impor as insígnias da Ordem do Mérito Empresarial.