Teixeira Gomes (1923-1925)

Manuel Teixeira Gomes

Nasceu a 27 de Maio de 1860, em Vila Nova de Portimão. Era filho de José Libânio Gomes e de Maria da Glória Teixeira Gomes.

Além de proprietário abastado, o pai dedicava-se ao comércio de frutos secos em larga escala, sendo um homem muito viajado, instruído em França, onde assistiu à revolução de 1848, advogava princípios republicanos, chegando a ser cônsul da Bélgica no Algarve.

Teixeira Gomes casou com Belmira das Neves, oriunda de famílias modestas de pescadores e tiveram duas filhas.

Morreu em 18 de Outubro de 1941, em Bougie, na Argélia.

 

ACTIVIDADE PROFISSIONAL

Foi educado pelos pais até entrar no Colégio de São Luís Gonzaga em Portimão, onde estuda o ensino básico.

Aos 10 anos, como era uso nas famílias abastadas da época, é enviado para o Seminário de Coimbra, tendo por condiscípulo José Relvas.

Aos 15 anos, matricula-se na Faculdade de Medicina daquela cidade. Desiste do curso, contrariando a vontade paterna, e instala-se em Lisboa onde frequenta a Biblioteca Nacional e se torna amigo de João de Deus e de Fialho de Almeida.

Após ter cumprido o serviço militar, vai viver para o Porto, onde acamarada com Sampaio Bruno, Basílio Teles, Soares dos Reis e outros. Com Joaquim Coimbra e Queirós Veloso publica o jornal de teatro Gil Vicente, colaborando no Primeiro de Janeiro e na Folha Nova.

Cansado da estúrdia, regressa a Portimão reconciliando-se com a família.

Entretanto, em 1891, o pai formara, com outros sócios, uma sociedade intitulada "Sindicato de Exportadores de Figos do Algarve", que durou três anos. Manuel foi encarregado de encontrar mercados na França, na Bélgica e na Holanda. Viaja então imenso, visita a Europa, demorando-se na Itália. Alarga o seu campo cultural, deambulando pela África do Norte e pela Ásia Menor.

Dissolvida a sociedade, pai e filho continuam o negócio agora por conta própria. Em breve, o êxito motiva o alargamento do mercado pelas novas áreas que, embora já reconhecidas anteriormente, isto é, Norte de África e Próximo Oriente, o obrigam a viajar nove meses por ano, regressando a Portugal só para estar presente durante a campanha do figo.

A partir de 1895, estabelece novos contactos com os meios literários de Lisboa. Por intermédio de Fialho de Almeida conhece Marcelino Mesquita, Gomes Leal e outros. Alfredo Mesquita, Luís Osório e António Nobre entusiasmam-no para a publicação da sua primeira obra O Inventário de Junho, que aparece a público em 1899.

Mais tranquilo, dispondo de mais tempo, pois a idade avançada de seu pai obriga-o a estadas maiores em Portimão, publica Cartas sem Moral Nenhuma e Agosto Azul, em 1904, Sabrina Freire, em 1905, Desenhos e Anedotas de João de Deus, em 1907 e Gente Singular,
em 1909.

 

PERCURSO POLÍTICO

Democrata e republicano desde muito jovem, colaborou assiduamente no diário A Luta de Brito Camacho, de quem também era amigo pessoal.

Após a implantação da República é convidado para exercer o cargo de ministro de Portugal em Londres. Em Abril de 1911, segue para a capital inglesa, apresentando credenciais ao rei Jorge V, em 11 de Outubro.

Substituir o marquês de Soveral e enfrentar o facto de que a família real portuguesa residia em solo inglês, não constituíam, à partida, factores de bom augúrio para início de carreira, mas Teixeira Gomes, através de uma acção diplomática adequada, cedo soube grangear a simpatia, amizade e a confiança das autoridades britânicas.

É de salientar a sua acção na problemática das negociações anglo-germânicas acerca da divisão das colónias portuguesas e a colaboração prestada aos governos de Portugal, acerca da entrada de Portugal na Grande Guerra, a ser solicitada pelo Estado inglês. Esta colaboração custou-lhe o ódio dos sectores não guerristas, tais como Brito Camacho, e a destituição do cargo durante o consulado de Sidónio Pais.

Em 1919, depois da morte do caudilho, desempenha o cargo de ministro de Portugal em Madrid, mas a breve trecho é reempossado nas suas antigas funções em Londres.

Em 1922, é nomeado delegado de Portugal junto da Sociedade das Nações, desempenhando as funções de um dos seus vice-presidentes.

Em 6 de Agosto de 1923, é eleito Presidente da República, cargo de que toma posse em 5 de Outubro do mesmo ano.

ELEIÇÕES E PERÍODO PRESIDENCIAL

Manuel Teixeira Gomes foi eleito Presidente Da República na sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1923, após um acto eleitoral muito renhido, em que o resultado final só foi conhecido ao fim do terceiro escrutínio.

Na primeira votação, com a presença de 197 congressistas, foram escrutinados os resultados seguintes:


Teixeira Gomes 108 votos
Bernardino Machado 73 votos
Duarte Leite 3 votos
Augusto Soares 2 votos
Magalhães Lima 1 voto
Listas brancas 10
No segundo escrutínio, com a presença dos mesmos 197 congressistas, o resultado ficou assim traduzido:

Teixeira Gomes 114 votos
Bernardino Machado 71 votos
Augusto Soares 2 votos
Duarte Leite 1 voto
Listas brancas 9
Como nenhum dos candidatos tivesse obtido os dois terços de votos exigidos pela Constituição, procedeu-se finalmente ao terceiro escrutínio em que dos 195 congressistas presentes, 121 votaram em Teixeira Gomes, somente 5 em Bernardino Machado e 68 votaram em branco.

O novo Presidente da República tomou posse em 6 de Outubro desse ano, depois de ter prestado juramento de fidelidade à Constituição, perante o mesmo Congresso.

De início, com o objectivo de se inteirar dos problemas, pede a António Maria da Silva para prosseguir no Governo, ao mesmo tempo que convida Afonso Costa. Depois deste ter, finalmente, declinado o convite, recomeçou a dança dos executivos.

O de Ginestal Machado dura um mês e três dias, o de Álvaro de Castro, seis meses e dezanove dias, quatro meses e onze dias o de Alfredo Rodrigues Gaspar, que terminará a 22 de Novembro de 1924, abrindo uma crise geral que só terminará com a queda da I República. Os dois meses e vinte e três dias de José Domingos dos Santos, os quatro meses e meio de Vitorino Guimarães, os trinta e um dias de António Maria da Silva, e os quatro meses e meio de Domingos Pereira, só vêm confirmar o ambiente de perturbação existente.

Perante o quadro de efervescência política, social e militar, se nos lembrarmos das greves e das tentativas de tomada do poder, de que são exemplo os acontecimentos militares de 18 de Abril de 1925, Teixeira Gomes sentindo, por um lado, que as forças republicanas estão cada vez mais isoladas e desunidas, e, por outro, que não dispõe de poderes para poder intervir no quadro legal imposto pela Constituição, resigna do seu mandato, em 11 de Dezembro de 1925.

Em 17 de Dezembro, embarca no paquete grego Zeus, não regressando mais em vida a Portugal.

 

ACTIVIDADE PÓS-PRESIDENCIAL

Em 1931, instalou-se em Bougie, na Argélia, onde viveu os seus últimos dez anos. É desta localidade que continua a colaborar com o jornal O Diabo e com a revista Seara Nova.

Morreu, como já foi referido, em 18 de Outubro de 1941, no quarto número 13, do Hotel I'Étoile, e foi sepultado no cemitério de Bougie.

Em 16 de Outubro de 1950, a pedido da família, os seus restos mortais foram trasladados daquele último local, para o cemitério de Portimão, transportados a bordo do contra torpedeiro Dão.

Durante a cerimónia fúnebre, o antigo Presidente da República foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz das três Ordens Militares Portuguesas, a Legião de Honra e as mais altas condecorações inglesas.


OBRAS PRINCIPAIS

Às obras já referidas há que acrescentar as escritas no seu retiro argelino, Cartas a Columbano, de 1932, Novelas Eróticas e Regressos, em 1935, Miscelânea, em 1937, e, por último Mana Adelaide e Carnaval Literário, em 1938. Elas espelham bem a ânsia de justiça e o desejo de espalhar benefícios do autor, e noutra vertente, o seu gosto pela sensualidade e o reconhecimento do direito à vida plena de cada ser humano, denunciando enfim, o grande conteúdo humanista e estético que o caracterizava.