Ao longo da nossa existência, todos temos acontecimentos que nos marcaram de uma forma inesquecível. Na vida pessoal e familiar, na nossa profissão, há factos que perduram indelevelmente na nossa memória. Recordamos exactamente onde estávamos e como nos sentimos quando nasceram os nossos filhos, o primeiro dia de trabalho ou a hora em que recebemos a notícia da morte de entes queridos.
Na vida colectiva, muito poucos acontecimentos têm esta capacidade de mobilização da memória. O 11 de Setembro de 2001 é um desses acontecimentos. Milhões e milhões de seres humanos sabem exactamente onde estavam e como se sentiram quando receberam a notícia dos bárbaros atentados que atingiram Nova Iorque e outros lugares dos Estados Unidos.
Sem dúvida que, para esse sentimento, contribuiu decisivamente o poder global dos meios de comunicação de massas. Assistir em directo, na televisão, aos atentados contra as Torres Gémeas é algo que nunca iremos esquecer. Acredito, porém, que não foi somente a visão daquela coreografia apocalíptica que deu ao 11 de Setembro de 2001 o lugar que ocupa na nossa memória. Lembramo-nos dessa data como se fosse parte da nossa vida pessoal e familiar porque, na realidade, tivemos a percepção de que, nesse dia, as vítimas daquele gesto criminoso também fomos nós.
Muitos sentimentos se cruzaram na altura: o medo, a raiva e a incredulidade, a compaixão pelos que morreram, e a admiração profundíssima pelo maior dos heroísmos, o heroísmo daqueles que têm a coragem de dar a sua vida para salvar a vida de outros que não conhecem. Os que socorreram as vítimas do 11 de Setembro arriscaram a vida para salvar a vida de outros que não eram, na maior parte dos casos, seus familiares ou amigos, que eram apenas pessoas que partilhavam entre si a pertença à Humanidade.
Nesse dia, em que a crença na bondade e na razão dos homens foi posta em causa pela barbárie de um punhado de assassinos, a esperança no ser humano foi resgatada e devolvida por centenas e centenas de heróis.
Alguns deles, ou os familiares de alguns deles, encontram-se, hoje, nesta sala. Como Presidente da República de Portugal, orgulho-me, de uma forma muito particular, pelo facto de se encontrarem portugueses nas operações de resgate das vítimas dos atentados de Nova Iorque, bem como no árduo trabalho de preservação da memória desse dia. Quis estar com eles nesta minha passagem por Nova Iorque, no ano em que assinalamos os dez anos do 11 de Setembro. Agradeço, muito sensibilizado, a vossa presença. Mas agradeço, sobretudo - como homem, como português e como Presidente da República - o vosso exemplo de Humanidade.
Não devemos recordar o 11 de Setembro apenas como um dia de tragédia e dor. Devemos lembrar-nos que, nesse dia, a empatia e a solidariedade que atravessaram continentes e fronteiras foram mais fortes do que o fundamentalismo que levou à crueldade da morte absurda e à cegueira da destruição sem sentido. Nesse sentido, o dia 11 de Setembro de 2011 foi, paradoxalmente, um dia de triunfo do espírito do bem.
Evocamos esse espírito, todos os anos. Especialmente este ano, no seu décimo aniversário, a melhor forma de o fazermos é saudando e agradecendo a todos os que participaram nas acções de resgate e nos trabalhos de construção do Memorial de Nova Iorque.
Na verdade, o Memorial do 11 de Setembro não se encontra em Nova Iorque, na praça onde antes se erguiam as Torres Gémeas. O memorial mais autêntico está nos nossos corações e no nosso espírito, e aí permanecerá para sempre. Nunca nos esqueceremos.
Muito obrigado.
http://www.presidencia.pt/eua2011/?idc=853&idi=58883