Bem-vindo à página oficial da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 1)
 

Associativismo e Inovação Social

último post: 18:02 29OUT2008
nº de posts: 10
  • Ivo Santos
  • Edgar Romão
  • Tiago Sá Carneiro
  • Pedro Soares
  • André Oliveira
  • Paulo Pinheiro
  • Ricardo Pinto
  • Cláudia Melo
  • Pedro Barrias
  • João Pina
  • Luiz Nicolau
  • Jean Barroca
João Pita
Pensar o passado e o presente para olhar o futuro
A democracia, tal como a conhecemos, é uma conquista diária de homens e mulheres que, gerações após gerações, aperfeiçoaram o menos imperfeito de todos os sistemas imperfeitos. Para a nossa geração, a democracia em Portugal é um dado adquirido, um facto dado como certo e onde só um esforço de imaginação ficcional nos consegue transportar para outra realidade. Imagens como as de Abril de 1969, em Coimbra, não passam senão de recordações perdidas na história que a história teima em recordar. É, pois, num momento de consolidação democrática, de total inserção de Portugal na Europa e de um claro refluxo participativo que a minha geração vive o movimento associativo estudantil e a visão da cidadania participativa em geral.
Partilho do que o Pedro Barrias escreve no seu depoimento. De facto, a democracia que existe nas Associações de Estudantes é, para muitos de nós, o primeiro contacto com os meandros da conquista democrática: a elaboração de um programa eleitoral, a gestão de uma equipa e sua gestão de conflitos, a sensação da responsabilidade na vitória e a necessidade de reconhecer a justiça da derrota – tão ou mais importante do que saber vencer em democracia é o assumir dignamente a derrota. No momento seguinte ao da conquista a dupla sensação de dever cumprido e de enorme responsabilidade. Hoje, mais que no passado, as responsabilidades sociais, económicas e empresariais que as Associações de Estudantes têm no seu dia-a-dia não deixam margem para erros, para estudos ou mesmo para vida pessoal. É difícil a quem nunca passou por uma destas Associações perceber as múltiplas tarefas diárias, as várias funções que a mesma pessoa ocupa e a necessidade de a elas dedicar todo o seu tempo num real, mas não explícito, profissionalismo.
É, pois, nesta encruzilhada que, no dealbar do século XXI, os jovens universitários se encontram. Por um lado, maior pressão familiar e social para terminarem os seus cursos e se lançarem rumo ao mercado de trabalho; por outro lado, a vontade de fazer algo por “nós”, pelos outros e pela sociedade. Por isso é que o trabalho cívico associativo mudou, tal como a juventude mudou no acompanhar certo e responsável da restante sociedade. Processo de Bolonha, consolidação da democracia e um cada vez mais afastamento do poder político das populações, por exemplo, faz com que a participação estudantil tenha vindo a mudar radicalmente na forma e no conteúdo, como será visto mais à frente.
Resumir as Associações de Estudantes a meros “representantes” estudantis é redutor. Hoje, são verdadeiros clubes desportivos, produtores culturais de excepção, empregadores de inegável dimensão local e regional e dinamizadores das maiores festas de muitas das localidades onde estão inseridas. Coloque-se então a questão: estarão as Associações a valorizar demasiado a sua vertente de associação sócio-cultural e menos a sua veia de legítimo defensor dos direitos dos seus estudantes? Eu penso que sim.
Ligue-se a constatação anterior às mudanças no Ensino Superior e da sociedade e veremos como são simbióticas. Paradoxalmente, defende-se mais participação democrática das populações, mais educação cívica nas escolas, maior desenvolvimento do sentido de participação cívica e de democracia participativa e ao mesmo tempo concentra-se os poderes das Instituições de Ensino Superior e reduz-se a participação estudantil na governação das Instituições. Paradoxalmente, a sociedade entende que a valorização de competências adquiridas fora das salas de aula é uma óptima forma de formação pessoal e de cidadania e, por outro lado, cada vez são menos os fóruns em que a voz da juventude é realmente ouvida. A democracia não pressupõe vozes simbólicas mas sim vozes que se liguem a um real poder eleitoral. É, por isso, que vivemos num momento em que discurso e a actuação política andam de costas voltadas.
Permito-me em discordar, agora, com o Pedro Barrias quando ele diz “que os nossos colegas saberão sempre distinguir entre o silêncio dos que trabalham do barulho dos que nada fazem”. Para mim, o movimento estudantil cresceu nos últimos anos em responsabilidade, maturidade e evoluiu também na forma como faz a sua política educativa. Contudo, prescindir da contestação de rua fez cair os temas de política educativa estudantil no esquecimento. Toda a boa contestação política se faz no apresentar sério e credível de propostas e de alternativas viáveis e não demagógicas, aliadas a um sentimento de apoio dos “nossos colegas” que se expressa nas grandes manifestações de massas que ocorreram na década de 90 e início desta década. Senão correm os dirigentes estudantil o mesmo risco que os políticos: um tão grande distanciamento dos seus representados que entram num discurso anacrónico e num ciclo vicioso de afastamento progressivo difícil de contrariar.
Pede-se demais a poucos dirigentes. Pede-se um compromisso total num momento em que famílias e sociedade não entendem o motivo por detrás da participação cívica e democrática. Hoje, mais do que no passado, o quotidiano impede a frequência de aulas e a realização de exames. Para muitos o maior exame durante o ano é a elaboração do Relatório e Contas, as posições a entregar ao Ministério e o debate político interno nas Instituições. O desenvolvimento humano, pessoal e cognitivo de uma experiência destas é muito acima do que se aprende nos compêndios, em exercícios académicos ou em trabalhos práticos.
“O sonho comanda a vida” de muitos dos que andam pelas Associações de Estudantes. A multiplicidade de tarefas tolhe a capacidade de separar o fundamental do acessório e enquanto tal acontecer as Associações crescerão para fora mas deixarão desguarnecido o apoio aos seus estudantes e a visão sistémica do Ensino Superior que poucos, como os estudantes, faziam num passado recente.
06OUT2008
16:24
|
|
Roteiro para a Juventude
© 2008 Presidência da República Portuguesa