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Elogio do ConhecimentoEm traços gerais, para criar empresas é necessário atitude, capital e conhecimento. A atitude resulta das características idiossincráticas do indivíduo, sendo comummente aceite que um empreendedor é alguém que tem iniciativa própria, coragem para assumir riscos, capacidade de decisão e sentido de oportunidade. O capital, pelo contrário, já não depende tanto do perfil do promotor do negócio, mas sim da adequação do projecto empresarial às necessidades do mercado. Ou seja, se um determinado produto ou serviço for pertinente à luz da lógica de mercado, então o respectivo projecto empresarial terá fortes possibilidades de ser financiado pelos diversos instrumentos existentes (crédito bancário, sistemas de incentivos públicos, capital de risco, business angels…).
Já o conhecimento, por seu turno, tem uma natureza diferente tanto da atitude como do capital, embora seja transversal a estes dois factores. O conhecimento é percepção, intuição, raciocínio, compreensão, mas também dúvida, incerteza, expectativa e procura. Neste sentido, influencia quer a atitude perante os negócios, quer a capacidade para elaborar projectos empresariais susceptíveis de obter financiamento. Mas o conhecimento vai mais longe, ao assumir-se como estratégia central para a competitividade de empresas. Isto numa época em que se verifica uma transição acelerada para um paradigma económico que valoriza o saber em detrimento de outras variáveis do negócio, como as vantagens da localização e o acesso a mão-de-obra barata, recursos naturais e capital financeiro.
Importa ressalvar, a propósito, que o conhecimento vai muito para além do investimento em tecnologia ou da própria gestão da inovação. Nas organizações, o conhecimento passa, necessariamente, pela compreensão das características e necessidades do ambiente competitivo; pela criação permanente de novos produtos, serviços, processos produtivos e sistemas de gestão; e pela criatividade, capacidade de aprendizagem e aptidão para as novas tecnologias que os colaboradores da empresa demonstrem. Neste sentido, também os trabalhadores por conta de outrem devem aumentar, ao longo do respectivo ciclo profissional, os seus níveis de formação.
Ora, tudo isto nos remete para a questão da qualificação, quer dos empreendedores, quer dos trabalhadores por conta de outrem. Esta preocupação está, de resto, plasmada na Estratégia de Lisboa e no QREN. Esperemos, portanto, que as verbas consignadas para a qualificação (os 5,8 mil milhões destinados ao Potencial Humano) no novo quadro comunitário de apoio sejam correctamente aplicadas, de modo a que seja adoptado, em Portugal, um paradigma económico assente no brainware, na ciência e na tecnologia. Se assim não for, o nosso país arrisca-se a “perder o pé” num mundo onde as vantagens competitivas estão permanentemente a ser reinventadas e onde os sectores de baixa intensidade tecnológica e conhecimento são cada vez menos competitivos.30OUT200818:14
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