Iniciámos há pouco, na Praça Luís de Camões, as comemorações de mais um Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o segundo que se celebra nesta Cidade da Guarda.
Diante da imponente Sé Catedral, monumento emblemático da urbe que nos acolhe, evocamos o nosso país: passado, presente e futuro.
Estamos em região de montanhas, de onde se contempla um extraordinário panorama. Estamos nesta terra da fronteira, onde os homens se confrontavam e hoje se encontram.
Hoje, Portugal encontra-se de novo na Beira.
Há 37 anos, esta cidade que se ergue na serra, vestida de granito e envolta na rudeza altiva da paisagem, recebeu as primeiras comemorações do 10 de junho fora de Lisboa.
A Guarda é hoje uma cidade muito diferente. Portugal é também um país muito diferente.
Outrora cingida pelas muralhas, a cidade desceu as encostas, suavizando o relevo. As montanhas, antes obstáculo, são agora sulcadas pelas novas vias de comunicação.
Essas vias quebraram o nosso enclausuramento secular, próprio de quem era europeu à distância. Tornámo-nos inteiramente europeus e também aqui, na Guarda, dispomos de melhor acesso ao resto da Europa.
A Guarda sempre foi uma zona de passagem que facilitava a circulação entre o litoral e o interior, entre o Norte e o Sul, uma porta de entrada em Portugal.
Só que a Guarda, que noutros tempos parecia tão distante, é hoje protagonista de um projeto estratégico dinamizado pelos responsáveis autárquicos e empresariais.
A sua localização, afinal privilegiada, pode representar um ativo económico e permite-lhe aspirar a ser mais que um local de passagem.
A implantação de novas empresas no concelho e no distrito da Guarda, com forte aposta na inovação e desenvolvimento, é a prova de que a interioridade pode ser vencida e de que à fatalidade da geografia não corresponde a fatalidade da desertificação.
Cabe às autarquias, com o apoio do Governo central, um papel fundamental como entidades catalisadoras do desenvolvimento dos seus Municípios.
Mais do que esperar que o investimento chegue, devem procurá-lo ativamente, explorando as potencialidades endógenas, apostando na divulgação do património histórico e das tradições, atraindo turistas.
O ar que a aqui se respira, o Ar da Guarda, valeu a esta cidade há alguns anos a designação de “Cidade Bioclimática Ibérica”. O ar puro que lhe ganhou esta nomeação é, ele próprio, uma mais-valia que deve ser explorada.
A Guarda, centro histórico e cultural, transporta-nos também a outros tempos, entre pedras trabalhadas e erigidas pelo homem, que assim modelou a natureza e assentou a sua vida enfrentando os rigores do clima. A conservação, divulgação e valorização do património e das tradições da Guarda não devem deixar de ser prioridades da ação política local.
Senhor Presidente da Câmara Municipal,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
37 anos depois, e apesar de tudo o que a torna hoje uma cidade europeia, é no essencial a mesma Guarda que recebe as Comemorações do Dia de Portugal: formosa e farta, fria, forte e fiel.
Formosa, pelo encanto das paisagens que a envolvem e pela imponência dos seus monumentos.
Farta, pela riqueza das suas terras, a diversidade dos seus recursos naturais e pelas potencialidades que comporta.
Sempre Fria, pelos ventos gélidos das serras que a rodeiam, mas não no acolhimento com que brinda os que a visitam.
Forte, porque de fortaleza inexpugnável passou a cidade de referência no interior do nosso país.
E sempre Fiel, como Álvaro Gil Cabral, Alcaide-Mor da Guarda, que se manteve sempre leal ao seu povo, opondo-se aos castelhanos no momento determinante em que se forjava a nossa nacionalidade.
Quero agradecer, Senhor Presidente da Câmara, as palavras que me dirigiu e a receção que nos foi proporcionada no início destes dias de comemorações, tempo de reflexão sobre o que fomos, o que somos e o que queremos ser.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
A Praça onde solenemente se ergueu esta manhã a Bandeira Nacional ostenta o nome do grande poeta que nesta data comemoramos. Luís de Camões é símbolo maior da Língua Portuguesa, património que nos coloca no centro nevrálgico de uma comunidade de milhões de pessoas, com as quais temos relações únicas de proximidade.
No seu Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço, que Portugal reconhece como um dos seus grandes pensadores, diz-nos que Camões é “expressão exemplar de um momento da nossa existência histórica e da aventura mais vasta da expansão do Ocidente”.
Contudo, alerta-nos precisamente para a necessidade de não nos deixarmos enredar no labirinto saudosista que a epopeia camoniana pode sugerir.
Os Guardenses conhecem por Jardim do Medo um labirinto desta cidade, justamente pelo sentimento que pode evocar o desconhecimento do caminho a seguir.
No labirinto que, enquanto povo, a História nos reservou, experimentamos momentos de dificuldades.
Questionámo-nos sobre onde começámos a trilhar esta vereda, compreendemos como e porque chegámos aqui. É fundamental que evitemos erros passados, para que no futuro as novas gerações não tenham de voltar a fazer os mesmos sacrifícios.
Finalmente, vemos para onde nos devemos dirigir. Com os olhos postos no horizonte que é o nosso futuro, temos de, em conjunto, no tempo presente, reencontrar o rumo certo para o nosso país.
É tempo de o medo dar lugar à esperança.
Muito obrigado.
http://www.presidencia.pt/diadeportugal2014/?idc=788&idi=84847