“Os Jovens Agricultores”, artigo do Presidente da República publicado no semanário Expresso, em 10 de Junho de 2011

Se há alguma coisa consensual em Portugal no domínio da agricultura é, sem dúvida, a necessidade de haver um sistema de apoio público activo aos jovens agricultores, à sua instalação e à expansão do seu número e da sua actividade.

Todos os especialistas o reconhecem, todos os partidos políticos o mencionam nos seus programas, todos os governos têm sublinhado atribuir-lhes grande prioridade e atenção.

Apesar disso, os resultados, completamente contrários aos objectivos, estão à vista. Os jovens agricultores com menos de 35 anos representam apenas 2% e com menos de 45 anos apenas 10%, do número total de agricultores portugueses.

Portugal é o país agricolamente mais envelhecido da União Europeia, uma vez que tem a mais elevada percentagem de agricultores com mais de 65 anos (48%, a comparar com 27% da UE).

Além disso, estes valores têm-se vindo a agravar de ano para ano. Entre 1999 e 2009 (entre os dois últimos recenseamentos) a redução dos jovens até 35 anos foi de 60% e entre 35 e 45 anos foi de 51%.

Alguma coisa estará, portanto, a impedir o sucesso das políticas públicas nesta matéria e a merecer uma atenção aprofundada, de modo a que possamos rapidamente inverter a tendência e melhorar a situação.

As razões serão certamente mais do que uma. Muito provavelmente, decorrerão do efeito do carácter depressivo que acompanha há largos anos o nosso sector agrícola, conjugado com as dificuldades naturais da profissão, com o apego à terra das gerações mais idosas, com a má imagem pública que, muitas vezes erradamente, se tem difundido da profissão de agricultor e, naturalmente, com o afastamento acentuado dos rendimentos agrícolas relativamente aos rendimentos das actividades não agrícolas.

Outras razões haverá, consequência indirecta das anteriores, tais como as dificuldades de acesso à terra por parte dos jovens, o elevado risco da profissão, a burocracia, as dificuldades de financiamento, a insuficiência de acompanhamento e apoio técnico, quer público, quer privado.

E, no entanto, nunca como hoje foi tão necessário interessar os jovens portugueses nas actividades do sector agrário. Só eles poderão alavancar e apressar o salto qualitativo de que a nossa agricultura necessita para poder contribuir, como se espera, de forma muito significativa para atenuar a crise em que vivemos.

Todos os agricultores, de todas as idades, podem, e devem, contribuir para esse efeito, mas são os jovens os únicos que poderão trazer-nos a sustentabilidade futura de que necessitamos. Só eles nos poderão trazer a abertura de espírito, a energia, a inovação, a criatividade e o conhecimento, sem o qual não deixaremos de nos afastar da Europa e do mundo.

Se tivesse dúvidas sobre isso, tê-las-ia dissipado durante o encontro que recentemente promovi, no Palácio de Belém, com um conjunto de jovens agricultores e agricultoras de todas as regiões do país, com diversas formações, representando diferentes tipos de agricultura e quase todas as actividades praticadas no nosso país, dirigidas ao mercado interno e à exportação.

Se tivesse dúvidas sobre o valor acrescentado para o país que representa cada um destes jovens, teria ficado esclarecido.

Nenhum deles se mostrou arrependido da profissão escolhida. Todos revelaram a sua criatividade, na escolha das actividades e dos produtos, nas relações com o mercado, nas soluções técnicas adoptadas e, sobretudo, no entusiasmo, dedicação e até amor, que têm pela sua actividade.

Queixaram-se da burocracia e das dificuldades de financiamento. Alguns, do acesso à terra e do insuficiente acompanhamento e apoio técnico, por parte das instituições públicas com responsabilidade na matéria.

Foi quase uma lição de vida, de entusiasmo e de fé no futuro, o que recebi destes jovens e, no fim, várias certezas. A certeza de que se torna absolutamente vital para Portugal a abertura de um espaço de diálogo construtivo e permanente entre os jovens agricultores e o Governo para que os seus problemas e aspirações sejam examinados à luz das nossas necessidades e aspirações; a certeza de que os jovens agricultores ocuparão a linha da frente de um vasto e patriótico movimento nacional que coloque a agricultura como sector fundamental para a sustentabilidade futura do nosso país; a certeza de que Portugal só tem a ganhar se acreditar nos seus jovens e se lhes proporcionar os meios e as condições para que estes possam mobilizar a sua inesgotável generosidade, vitalidade e energia criadora.