Entrevista do Presidente da República publicada na Revista Fora de Série em 21 de Março de 2009

“As lideranças constroem-se com verdade”


O júri Fora de Série distinguiu-o como Homem do Ano com base no seu perfil de solidez e equilíbrio. Identifica-se com esta descrição?

A autoria dessa descrição não me pertence, é inteiramente vossa. Mas, sem dúvida, considero que a solidez e o equilíbrio são dois valores que sempre cultivei em todos os planos da minha vida.


Que valores preza mais num político?

Dois deles são, justamente, aqueles que apontaram, a solidez e o equilíbrio, a que juntava o bom senso. Mas, acima de tudo, a dedicação à causa pública, naquilo que esta exige de rigor, de conhecimento dos problemas reais das pessoas, de lealdade para com os outros agentes políticos e, enfim, de autenticidade na relação com todos os cidadãos.


Na última década muito se tem falado de crise de lideranças, não apenas na política, mas até no sector empresarial. Até que ponto o presidente Cavaco Silva quer mostrar-se como referência neste plano e até onde este problema se coloca hoje em Portugal?

As lideranças constroem-se com verdade nos comportamentos e com credibilidade nos resultados. Cada vez mais se exige às lideranças uma visão muito clara dos objectivos, assim como dos meios que importa mobilizar, a cada momento, para os tornar exequíveis.

No que me diz respeito, pretendo ser, isso sim, uma referência de estabilidade e uma força mobilizadora, de modo a que, em todos os planos da vida nacional, da política à actividade empresarial, passando pela cultura ou pelo desporto, o espírito empreendedor e ganhador – mais do que a busca da liderança pela liderança – seja um traço marcante do carácter português.


Quando, antes de ser eleito Presidente, falou da necessidade de entrar na política uma “boa moeda”, sentiu que foi compreendido?

Creio que sim. Senti que lancei um tema de reflexão, uma interrogação sobre o caminho trilhado pela nossa democracia. E a prova disso é que a questão me está agora a ser novamente colocada. A qualidade da nossa democracia, ponto em que tenho insistido em diversas intervenções, passa também pela qualidade dos nossos agentes políticos.


“Nesta altura de crise, temos a sorte de ter um economista na Presidência da República”. Aceita o argumento que serviu, também, para esta sua nomeação. Sente que, neste período, pode servir como apoio para os tempos que se seguem?

Não escondo que, na actual conjuntura, a minha formação académica e o conhecimento que possuo da envolvente internacional e da realidade económica do País, bem como dos seus problemas sociais, constituem uma mais-valia para o exercício das funções de Presidente da República. Tenho procurado que esta mais-valia esteja ao serviço dos Portugueses.


Na sua opinião, os poderes do Presidente da República chegam? Nomeadamente para fazer valer a estabilidade e uma resposta eficaz à crise?

O equilíbrio de poderes definido na Constituição parece-me adequado – daí a importância de o não subverter através de lei ordinária.


A experiência de ministro das Finanças e de primeiro-ministro dá-lhe que tipo de mais-valias para este período da vida nacional?

Essas experiências têm-se revelado da maior utilidade porque mostraram-me, nomeadamente, a necessidade de encontrar respostas para os problemas dos cidadãos e para os grandes desafios que se nos colocavam, como foi o caso da modernização do país.

Tal como a minha formação académica, creio que, de facto, a experiência governativa que possuo dá-me uma capacidade de análise das políticas e da sua execução muito importante para o exercício das funções que actualmente desempenho.


Esta semana disse, no roteiro que está a fazer sobre inclusão, que não tem soluções imediatas para travar o desemprego. Pede, ao mesmo tempo, que os portugueses mantenham acesa a esperança no futuro. Como é que as duas premissas podem coexistir? Acredita que os portugueses podem ter esperança?

Nos termos da nossa Lei Fundamental, que jurei cumprir e fazer cumprir, a condução da política geral do País é da competência do Governo. Ao Governo cabe encontrar as soluções que, no âmbito das suas atribuições, considere adequadas para os problemas com que os Portugueses se defrontam. Foi isso que eu quis dizer a um grupo de trabalhadores que tinham perdido o seu emprego.

O Presidente da República deve apontar caminhos – como o fiz na jornada do Roteiro a que se referem –, lançar sementes, mobilizar as energias nacionais e, através da magistratura do exemplo, ser um referencial para todos os Portugueses. Nunca virei a cara à luta, por isso acredito sempre na capacidade humana. Aos Portugueses, não hesito em dizer que, existindo determinação, coragem e força de vencer, existem motivos de esperança. Se não nos resignarmos às adversidades do presente, não devemos ter medo do futuro.


Na sua opinião o que distingue um homem fora de série de um homem comum?

Confesso, sinceramente, que essa é uma questão a que não sei responder.


Quais são os seus grandes objectivos para 2009?

Gostaria que o ano de 2009 trouxesse motivos para que os Portugueses possam acreditar num futuro melhor para o seu País.