Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Entrega do Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
Lisboa, CGD, 21 de Abril de 2010

Senhor Presidente da Caixa Geral de Depósitos,
Senhor Presidente da Associação Portuguesa de Escritores,
Senhora Professora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira,
Senhoras e Senhores,

Estamos hoje aqui reunidos para homenagear a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, a quem a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu, com toda a justiça, o Prémio Vida Literária. Personalidade de grande prestígio nacional e internacional, a sua obra fala por si.

Ela é a nossa mais reputada especialista em estudos clássicos. A familiaridade com que lida com os textos antigos - traduzindo-os para português, editando-os no original, analisando-os, ou comparando-os com obras recentes da nossa literatura – fez dela um exemplo e um símbolo vivo do que é verdadeiramente o humanismo contemporâneo.

A cultura portuguesa ficar-lhe-á eternamente grata, pela forma perseverante e pelo entusiasmo com que tem sabido contribuir para manter vivo o interesse pelas humanidades e o diálogo com a nossa matriz greco-romana.

Mas a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, além dessa dimensão de intelectual humanista, que sem dúvida possui como poucos, é também uma professora brilhante, se bem que jubilada, um mestre em quem os seus discípulos continuam a rever-se.

Não quis ser apenas uma investigadora, entregue ao legítimo prazer de estudar e escrever os seus livros, mas dedicou-se também de alma e coração àquela que foi a sua casa, a Universidade de Coimbra. Aí ensinou e formou sucessivas gerações de estudantes. Aí liderou e dinamizou equipas de investigação. Aí fez discípulos. Numa palavra, aí fez escola.

Num tempo em que somos quase todos os dias confrontados com problemas ligados à educação, é extremamente gratificante podermos também apontar o exemplo de pessoas que se dedicam à causa do ensino e nela se realizam profissionalmente, contagiando os outros na paixão pelo conhecimento, a cultura e a arte.

Sabemos que não é fácil, muito menos quando se trabalha numa área do saber, como os estudos clássicos, em que os alunos escasseiam e que a sociedade a não incentiva, por não lhes ver utilidade prática imediata.

Mas as sociedades não vivem só do imediato. Elas precisam, tal como as árvores, que lhes cuidemos das raízes, pois só aí encontram o cimento que lhes assegura a coesão e lhes permite olhar para o futuro com confiança.

Toda a história da cultura europeia tem sido um constante retorno às suas origens, à Antiguidade Clássica. E se podemos acreditar que o projecto de uma Europa Unida continua, hoje em dia, mais actual do que nunca, é porque as nações europeias ainda possuem no seu código genético, e partilham em comum, um conjunto de saberes, valores e crenças, que os gregos e romanos lhes deixaram em herança.

Por tudo isto, nunca será demais o nosso reconhecimento e gratidão para com investigadores como a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, cujo talento e dedicação vão preservando e rejuvenescendo esse património, possibilitando assim aos cidadãos de hoje uma relação de proximidade com as nascentes mais recuadas da nossa cultura e da nossa civilização.

Em meu nome pessoal e em nome dos portugueses, quero, Senhora Doutora, apresentar-lhe as mais sinceras felicitações por este prémio, pela «vida literária» que ele vem coroar, e por tudo quanto tem feito pelo prestígio das nossas letras e do nosso País. Oxalá possa continuar, por muitos e bons anos, a partilhar connosco os frutos do seu tão rigoroso e fecundo labor intelectual.