Evocamos hoje a figura de um grande português, Eusébio da Silva Ferreira.
A Assembleia da República decidiu, nos termos da lei, conceder a Eusébio da Silva Ferreira honras de Panteão Nacional.
De acordo com a resolução aprovada por unanimidade pelos Senhores Deputados, com esse gesto pretende-se homenagear, e cito, «o símbolo nacional, o homem solidário, o futebolista e o desportista nacional, evocando o seu estatuto de verdadeiro marco na divulgação e na globalização da imagem e da importância de Portugal no Mundo».
Tratou-se, sublinho, de uma decisão tomada por unanimidade dos Deputados e dos grupos parlamentares. Estamos perante um gesto dos representantes do povo que reflete, de forma muito expressiva, o sentimento nacional de apreço e de reconhecimento pela figura de Eusébio da Silva Ferreira.
Associo-me, com profunda emoção, a esse gesto da Assembleia da República.
Como desportista, como ser humano, Eusébio da Silva Ferreira esteve sempre acima, muito acima, das querelas e das controvérsias que marcam o nosso quotidiano. A admiração que temos pela sua personalidade invulgar é partilhada por todos os Portugueses, sendo transversal a divisões ideológicas ou simpatias clubísticas.
Eusébio é, na verdade, património de todos. Na família e nos seus próximos, naqueles que tiveram o privilégio de o conhecer de perto, deixou um indelével e bem português sentimento de saudade. Para todos os outros, incluindo para as novas gerações, o «Pantera Negra» é uma referência como desportista, que se destacou, como poucos no mundo, pela sua arte nos relvados mas também pelo seu calor humano e pela simpatia que de imediato despertava nos seus semelhantes.
Eusébio é, verdadeiramente, uma figura nacional.
Como tive ocasião de afirmar logo que soube do seu falecimento, «foi das personalidades mais cativantes que conheci na minha vida».
Na verdade, Eusébio encarava com surpreendente humildade a grandeza do seu génio. Admirado por milhões, tratava todos e cada um com uma extraordinária simplicidade, a simplicidade natural dos que são verdadeiramente grandes, que nada precisam de mostrar e exibir, porque têm a consciência serena do seu valor e da sua grandeza.
Serviu a Seleção Nacional com uma dedicação sem limites. Por Portugal, numa ocasião inesquecível, derramou lágrimas. As lágrimas de Eusébio, nesse dia, foram as lágrimas de Portugal, no dia da sua morte.
Hoje evocamos a sua personalidade da forma mais elevada e solene com que a República homenageia os seus maiores.
Ao conceder a Eusébio da Silva Ferreira honras de Panteão Nacional, o Estado português exprime a sua gratidão por um campeão do desporto, uma lenda do futebol que é admirada em todo o mundo. Mas, acima de tudo, Portugal homenageia uma pessoa que, pelo seu talento natural mas também pela força do trabalho, deu tantas alegrias aos nossos compatriotas.
Eusébio da Silva Ferreira é um traço de união entre os Portugueses, mas também no mundo lusófono. Pude testemunhar o carinho com que foi recebido em Moçambique, na sua terra natal.
É o imenso afeto que nos deu que hoje queremos devolver-lhe, em sinal de gratidão pelo que significou como desportista e pelo que foi como ser humano.
O seu exemplo irá perdurar na nossa memória. E agora, a partir de hoje, Eusébio não estará apenas nos nossos corações. Repousará, lado a lado, com os grandes nomes da nossa vida pública e da nossa cultura. Eusébio da Silva Ferreira, como poucas personalidades do século XX, foi amado genuinamente pelo povo português, por um país inteiro.
A República portuguesa, ao prestar-lhe esta homenagem, vai ao encontro desse sentimento do nosso povo, praticando um ato verdadeiramente democrático, através do qual se faz justiça a um português excecional e raro, cuja memória devemos honrar.
À memória de Eusébio, muito obrigado.