Hoje faz precisamente 135 anos que foi comemorado pela primeira vez o dia 10 de Junho, como Dia de Portugal, celebrando-se a história da nação mais antiga da Europa e prestando simultaneamente homenagem ao príncipe de todos os poetas: Luís Vaz de Camões.
No último ano do seu mandato, o Senhor Presidente da República quis homenagear e lembrar mais uma vez a riquíssima história de Portugal, tornando a cidade de Lamego testemunha viva do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Contam as lendas, e por vezes as lendas também são história, que se realizaram aqui as célebres cortes de Lamego que elegeram D. Afonso Henriques como Rei de Portugal. Se é verdade ou não, não sabemos, contudo sabemos que Lamego com o passar dos séculos foi ganhando cada vez mais importância para a qual muito contribuiu o incremento do comércio do vinho generoso do Douro, tendo sido criadas, pelo Marquês de Pombal, a Região Demarcada do Douro e a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
Nesta ocasião, e porque estamos em Lamego, não podíamos deixar de lembrar uma das personagens mais importantes desta cidade e de Portugal: D. Miguel de Portugal. Foi há precisamente 374 anos que D. Miguel de Portugal, Bispo de Lamego, foi nomeado “embaixador extraordinário” e enviado a Roma por D. João IV com o objectivo de obter o reconhecimento do Papa Urbano VIII para a independência de Portugal, conseguida a 1 de Dezembro de 1640. Muito embora não tenha conseguido ter sido recebido pelo Papa face a todos os problemas vividos na altura com o Reino de Castela, sabe-se que enfrentou com grande coragem vários obstáculos, tendo inclusivamente resistido heroicamente a uma cilada. D. Miguel de Portugal morreu em Lisboa em 1644, com a consciência do dever cumprido e com a certeza de ser um Português de um Portugal independente.
É com a grandeza destes homens que se fez e se continua a fazer a história de um país e são eles que nos fazem unir num sentimento comum da nossa diáspora, em particular no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
É para mim uma grande Honra poder estar hoje aqui, e se me é permitido gostava de agradecer ao Senhor Presidente da República neste seu décimo 10 de Junho, ter querido assinalar e reconhecer desta forma a Ciência e o Conhecimento, que se foram alicerçando em Portugal nos últimos 41 anos. Podemos dizer que o caminho percorrido ainda é curto, mas os resultados já alcançados demonstram que estamos no caminho certo e um país que não aposte no conhecimento e desenvolvimento científico é um país que vai ficar pobre para sempre!
E porque estamos a falar de Ciência, não podia hoje deixar de recordar o Prof. José Mariano Gago, que nos deixou no passado dia 17 de Abril, e que teve a visão e a ousadia de fazer uma aposta na área da Ciência, como mola motora do desenvolvimento e criadora de riqueza substantiva. Se calhar, eu hoje estou aqui devido a ele. Teve um papel interventivo e muito assertivo na área da ciência, não só em Portugal mas também na Europa. Esteve na génese da criação do Conselho Europeu de Investigação, destinado a apoiar a investigação de alto nível, através da atribuição de bolsas a cientistas de topo de qualquer nacionalidade. Este movimento foi liderado pela Iniciativa para a Ciência na Europa, dirigida então por Mariano Gago.
Para além da política científica, Mariano Gago criou, na minha opinião, o que de melhor se fez em Portugal em prol da Divulgação Científica, que foi o Ciência Viva. Com o programa Ciência Viva, nas suas várias vertentes, foi e é possível levar a ciência à escola, levar a ciência aos cidadãos, levar a ciência à sociedade. Por tudo isto, obrigada Mariano Gago, a Ciência ficou muito mais rica e agradece tudo o que conseguiu fazer.
Gostaria aqui de destacar algumas áreas (e perdoem-me por não fazer referência a todas) em que investigadores portugueses contribuíram de forma decisiva, quer em sectores mais emergentes como seja o caso das ciências farmacêuticas com o desenvolvimento de novos produtos, ou na área dos materiais multi-funcionais avançados para uma miríade de aplicações trans-sectoriais, que vão das tecnologias de informação à área da saúde, tornando possível muitas das aplicações que hoje conhecemos, como mostradores interactivos ou sistemas de teste e diagnóstico avançados, ou mesmo em sectores mais tradicionais onde a investigação e tecnologia tiveram um papel decisivo, como seja o caso da indústria do calçado, renascendo uma outra indústria competitiva em termos internacionais, ou mesmo no caso da indústria do vinho, onde para se manter a qualidade secular adquirida há que recorrer à investigação e tecnologia.
E porque estamos a falar de futuro, não nos podemos esquecer que Portugal conseguiu nestes últimos anos dar um salto quantitativo e qualitativo na área da formação de jovens recursos humanos extremamente especializados e competentes, e que muitos deles estão a ficar esquecidos. Não podemos desperdiçar esta mais valia e há que tirar retorno do grande investimento que foi feito, caso contrário outros farão isso por nós. Não podemos deixar que jovens altamente especializados abandonem Portugal. Podem fazê-lo por opção mas não por obrigação. Mais, devemos saber cativa-los e fazer com que os criadores e empreendedores potenciem todo o seu dinamismo a construir um Portugal de futuro que queremos e ambicionamos para todos.
A criação de valor através do Conhecimento é hoje um dos ativos mais importantes do nosso País. O nosso futuro passará pela transferência das qualificações dos nossos jovens para as empresas, para que produzam resultados concretos na criação de técnicas e de produtos inovadores, estimulando a economia e a criação de emprego.
A nossa maior e quiçá única riqueza são as pessoas. Não temos ouro, petróleo nem diamantes, mas temos um legado para deixar às novas gerações, legado esse que pode ficar seriamente comprometido, pois a universidade no seu todo está demasiado envelhecida, não tem havido rejuvenescimento nos últimos anos, e vai chegar uma altura em que grande parte do conhecimento construído durante as últimas gerações não será transmitido às futuras. Peço a quem de direito que não vacile nesta aposta de futuro: nos jovens, nos portugueses!
Hoje o Senhor Presidente da República vai distinguir um conjunto de jovens que se destacaram em diversas áreas: na Ciência, nas Artes, na Agricultura e no Empreendedorismo Social. Este reconhecimento é sobretudo um incentivo a que continuem o bom trabalho e a que continuem a ser relevantes na nossa sociedade, dando o seu melhor e almejando estar ao nível dos melhores que nos antecederam.
O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas faz-nos sentir grandes e, acima de tudo, transporta-nos até às memórias dos nossos navegadores, que há 500 anos mostraram ao mundo a garra, determinação e brio em chegar mais longe. Fomos os maiores empreendedores, assim como tivemos a melhor escola de engenharia à data, descobrimos o mundo e mostrámos ao mundo que mesmo sendo um país pequeno, conseguimos ser grandes.
Temos hoje, como tivemos no passado, Portugueses que se destacam entre os melhores do mundo nas mais distintas áreas. E devemos sentir um orgulho sem limites nestas gerações que marcam o nosso quotidiano, dando-lhes todas as oportunidades para que possam alcançar o sucesso.
E porque a poesia é o alimento da alma, não posso deixar de invocar Fernando Pessoa, com este poema:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Portugal tem uma história da qual nos orgulhamos, e a história não se apaga, antes pelo contrário, faz-nos recordar que nunca deixaremos de ser Grandes no presente e no futuro.
Parafraseando João Bénard da Costa:
“Senhor Presidente: muito obrigada por me ter dado a palavra
Minhas Senhoras e Meus Senhores: muito obrigada por me terem escutado.”