Iniciamos hoje a quarta e última edição das conferências internacionais que integram os «Roteiros do Futuro».
Sempre entendi que uma das funções primordiais do Presidente da República consiste em apontar caminhos de futuro, lançar sementes para que os agentes políticos e a sociedade civil estejam mais atentos aos problemas que nos irão afetar numa perspetiva de médio e longo prazo.
Nesse sentido, decidi promover, através da iniciativa Roteiros do Futuro, debates plurais e informados que deram voz a especialistas nacionais e internacionais sobre assuntos de indiscutível interesse coletivo.
No nosso sistema político-constitucional, o Presidente da República deve revelar independência perante as controvérsias que marcam o quotidiano da luta política, as quais têm um tempo e um lugar próprios em todas as democracias, mas que correm o risco de concentrar-se em aspetos acessórios ou efémeros da realidade, perdendo de vista uma abordagem serena e desapaixonada das questões que irão verdadeiramente condicionar as novas gerações e o futuro de Portugal.
Neste contexto, e logo na primeira conferência destes Roteiros do Futuro, foram discutidos os desafios da demografia e, em particular, da natalidade. A segunda conferência foi dedicada à reflexão sobre o posicionamento estratégico de Portugal, quer no quadro europeu, quer à escala global. Em 2014, e por ocasião das comemorações do 40º aniversário do 25 de abril, abordámos as encruzilhadas em que vivem os regimes democráticos e a necessidade de uma cultura cívica e política de compromisso que permita alcançar o desenvolvimento económico e social que todos ambicionamos.
A última edição destes encontros é dedicada aos jovens, pois serão eles os grandes intérpretes dos «Roteiros do Futuro». Serão os jovens que, no seu futuro, terão de se confrontar com os efeitos da quebra de natalidade, com o papel que Portugal assumirá na Europa e no Mundo, com as exigências de uma democracia de qualidade.
São eles os construtores da esperança dos Portugueses na edificação de uma sociedade mais avançada, mais desenvolvida, mais justa e mais fraterna.
Renovo os meus agradecimentos ao Professor João Lobo Antunes, Comissário das Conferências, e ao Professor David Justino, pela eficiência demonstrada na sua organização.
Agradeço à Dra. Leonor Beleza, Presidente da Fundação Champalimaud, que, mais uma vez, disponibilizou estas magníficas instalações para a realização desta iniciativa.
Saúdo todos os que aceitaram o convite para, com o seu saber e a sua experiência, darem corpo a esta conferência “Portugal e os Jovens”.
Senhoras e Senhores,
Ao longo dos meus mandatos, dediquei uma especial atenção à juventude. Além de um tempo da vida, a juventude representa uma parcela significativa da nossa sociedade, com problemas específicos e aspirações legítimas, a que devemos dar resposta. Para as ambições dos jovens exige-se respostas concretas, visíveis. Com meras palavras, por mais bonitas que estas sejam, não se resolvem os problemas dos Portugueses. Como dizia Florbela Espanca, «palavras são como as cantigas: leva-as o vento.»
Mais do que falar dos jovens, temos de ouvi-los. Enquanto Presidente da República, foi o que procurei fazer, promovendo inúmeros encontros com jovens, de que destaco as seis jornadas do “Roteiro para a Juventude”. A primeira, dedicada à autonomia dos jovens e ao associativismo, constituiu um momento ímpar de diálogo com dirigentes de associações académicas, jovens agricultores e empresários e criadores da indústria da moda.
A segunda jornada do Roteiro para a Juventude incidiu sobre o associativismo juvenil no campo da arte e da cultura como instrumento de emancipação económica e social dos jovens.
Em dezembro de 2009, no âmbito da terceira jornada, desloquei-me ao Porto, a Braga e a Matosinhos para conhecer de perto bons exemplos de iniciativa dos jovens nos domínios empresarial, da cidadania, da cultura, do voluntariado e da solidariedade.
No Alentejo, na quarta jornada, conheci de perto o empreendedorismo jovem no espaço rural, exemplos de boas práticas que podem ser replicados noutros pontos do País. Promovi depois uma nova jornada sobre o empreendedorismo jovem, desta feita dedicada à criatividade e inovação. Realizada na área da Grande Lisboa, deu-me oportunidade de estar novamente com representantes de associações juvenis e estudantis e jovens empresários, escutando os seus anseios e as suas preocupações, estimulando as suas ambições e vontade de vencer.
Na sexta jornada do Roteiro da Juventude, que teve lugar na área do Grande Porto, vi demonstrada, uma vez mais, a vitalidade e o dinamismo dos nossos jovens, desta vez no campo das indústrias criativas.
Considero que é dever dos titulares dos cargos públicos prestarem contas aos cidadãos pela ação que desenvolveram. A iniciativa «Roteiros para a Juventude», que decidi lançar em 2008, na sequência do Encontro que promovi sobre “Os Jovens e a Política”, e que se desenvolveu ao longo do tempo em diversos pontos do País, permitiu-me sublinhar a importância dos nossos jovens e, sobretudo, a importância de os ouvir, em vez de falarmos em seu nome sem conhecermos de perto a realidade das suas vidas e os problemas concretos com que se defrontam.
Além destas iniciativas, devo destacar a realização de um encontro sobre os jovens e a política, no qual académicos extremamente qualificados puderam analisar, com base num inquérito rigoroso, o atual estado de afastamento da juventude portuguesa em relação à vida coletiva do seu país, problema a que ainda recentemente me referi perante a Assembleia da República.
Senhoras e Senhores,
Reunimo-nos hoje para debater «Portugal e os Jovens». Quis que, nesta Conferência dos Roteiros do Futuro, as intervenções e o diálogo fossem primordialmente protagonizados por jovens, pois os jovens não precisam que falem em nome deles. Em cada um dos quatro painéis que integram este Encontro ouviremos o testemunho de jovens cujas experiências evidenciam o seu espírito empreendedor e inconformista. É tempo de os ouvirmos, de sabermos o que pensam do seu País, de conhecermos a visão que cada um tem sobre temas tão distintos como o emprego e a cidadania, a mobilidade e a cultura.
Esta é, como todos sabemos, a geração de portugueses mais qualificada da nossa História. Mas é, de igual modo, a geração que irá enfrentar os grandes desafios deste novo milénio. Os jovens do nosso tempo terão de lidar com a incerteza de uma forma que não conhecemos no passado. À incerteza e à insegurança quanto ao futuro, alia-se a decisão sobre onde trabalhar e fazer frutificar o seu talento, em Portugal ou no estrangeiro.
Portugal não pode desperdiçar o imenso capital humano dos seus jovens. É essencial criarmos condições para atrair aqueles que, por diversos motivos, optaram por fixar-se no estrangeiro. Como já tive ocasião de afirmar, em intervenção recente na Assembleia da República, é agora, em que os laços com o seu país ainda se mantêm vivos, que devemos fazer um esforço acrescido para o regresso dos nossos jovens. Se nada fizermos, o País perderá duplamente: por um lado, perde o investimento feito na formação de uma geração de excelência; por outro lado, perde o contributo desses jovens para, com o seu talento e a sua iniciativa, ajudarem Portugal a regressar a uma trajetória sustentável de crescimento económico e de criação de emprego e riqueza.
Ao reunir, no dia de hoje, um conjunto de jovens que se destacam pelo seu trabalho e pela sua capacidade de iniciativa, manifesto a minha confiança no futuro de Portugal. Temos muitos motivos de esperança no nosso País. O maior deles, sem dúvida, é a juventude portuguesa.
Agradeço a presença de todos e, em particular, daqueles que se deslocaram do estrangeiro para hoje estarem connosco.
Da janela deste auditório contempla-se o estuário do Tejo, onde o rio se encontra com o mar. Estou certo de que esta paisagem luminosa será fonte de inspiração para a Conferência que agora se inicia.
A todos, votos de bom trabalho.
Muito obrigado.