Cabe-me encerrar esta primeira Conferência de um ciclo que designámos por Roteiros do Futuro.
Fiz questão de assistir a todas as comunicações e debates que tiveram lugar ao longo deste dia de trabalho.
Pude registar sinais de preocupação, mas, simultaneamente algumas notas de esperança.
O declínio da fecundidade não é uma inevitabilidade, mas há que reconhecer que, muito provavelmente, teremos de nos habituar a níveis que não correspondem à reposição das gerações.
Como demonstrou a obra do Prof. Livi Bacci, a fecundidade no Portugal pré-moderno nunca foi muito elevada, não obstante as diferenças regionais que identificou.
As alterações profundas a que se assistiu nas últimas décadas projetam-se nos estilos de vida, nas estruturas familiares, no próprio sistema de valores sociais, o que orienta condutas e cria expectativas muito diferentes das que estavam habituadas as gerações mais velhas.
O papel da organização do mercado de trabalho e das condições económicas de distribuição do rendimento foi destacado por vários dos participantes.
O caso português foi muito bem identificado e permite-nos compreender o impacto de uma mudança relativamente rápida sobre uma sociedade que mantinha, até há bem pouco tempo, algumas características dos regimes demográficos tradicionais.
Correspondendo aos objetivos a que esta Conferência se tinha proposto atingir, identificaram-se várias problemáticas para investigação futura.
A abordagem comparada do caso português com os de outros países europeus deixa-nos pistas importantes e oportunidades de estudo e reflexão para os próximos anos.
A produção científica portuguesa sobre esta temática recomenda-se, mas seria bom que os jovens investigadores, alguns dos quais aqui presentes, assumissem a responsabilidade de prosseguir e de desenvolver esse esforço de reflexão científica.
Estou convencido de que a riqueza dos contributos desta Conferência animará os mais jovens a aceitar este desafio.
Por fim, cumpre-me assinalar a feliz oportunidade de contarmos entre nós com o Prof. Massimo Livi Bacci.
Senhor Professor, é para mim uma grande honra ter aceite o convite que lhe dirigi para partilhar connosco a sua vasta experiência e o seu profundo conhecimento sobre os problemas demográficos da Europa e do Mundo.
Em 1971, o Professor Livi Bacci publicou na Universidade de Princeton um dos estudos pioneiros sobre a fecundidade em Portugal. A Century of Portuguese Fertility representou muito para a nova geração de demógrafos e cientistas sociais que em Portugal se afirmou a seguir à instauração do regime democrático.
Tornou-se numa obra de referência e incentivou muitos jovens investigadores, à época, a refletirem sobre os processos de mudança social num país que havia mantido até então estruturas tradicionais, ainda que coexistindo com ilhas de modernidade.
Senhor Professor Massimo Livi Bacci, Portugal e a sua comunidade científica não esquecem o seu interesse pelo nosso país e o contributo analítico que nos trouxe.
Acontece, além do mais, que de então para cá, sempre acolheu com a maior simpatia e dedicação os muitos pedidos de ajuda e de aconselhamento de jovens investigadores portugueses.
A sua carreira de investigação, entretanto, representou um inestimável avanço na história da população europeia.
A forma como consegue colocar os problemas da transição demográfica, no quadro da diversidade da Europa e numa ótica de longo prazo, abre perspetivas extremamente enriquecedoras para o desenvolvimento dos estudos demográficos, em particular, e para a reflexão sobre a identidade e o futuro da Europa, em geral.
É pelo reconhecimento da sua obra, mas também pela carreira de cientista, de cidadão, e mais recentemente, de homem de Estado que decidi agraciá-lo com as insígnias de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.