É nos tempos mais difíceis que devemos ter a ousadia de pensar o futuro.
A dureza do presente não nos deve impedir de ver mais longe.
Todos conhecemos as dificuldades por que passam Portugal e os Portugueses no atual contexto de crise económica e financeira.
A opinião pública pode dividir-se quanto aos diagnósticos ou quanto às formas de encontrar as melhores saídas.
Porém, há um consenso muito alargado sobre os problemas que, no curto prazo, não podemos deixar de resolver.
Conseguimos criar uma alargada convergência política sobre um programa de assistência financeira que se tornou inevitável.
Dispomos de um orçamento de Estado para 2012 que, não obstante a dureza das medidas nele contidas, reuniu o apoio da maioria parlamentar e a abstenção do maior partido da oposição.
Conseguimos um acordo tripartido entre Governo, Sindicatos e Associações Patronais, onde se consagram algumas das reformas consideradas indispensáveis à melhoria da competitividade da nossa economia.
As instituições internacionais e os nossos parceiros europeus fazem uma avaliação positiva da execução dos compromissos que assumimos. Reconhecem os grandes sacrifícios que estão a ser exigidos ao povo português e sublinham o seu sentido de responsabilidade e a vontade de vencer as dificuldades.
Importa, no entanto, olhar o futuro para além do calendário do programa de ajustamento e construir uma visão de mais longo prazo.
Uma visão que vá para além dos ciclos políticos e partidários.
Uma visão que nos mobilize e nos una no fundamental.
Se hoje vivemos o presente possível, não temos de pôr de lado o sonho de construirmos um futuro de que nos possamos orgulhar.
Se hoje não aceitamos a resignação perante os tempos difíceis, o futuro exige de todos nós a ambição de construir os alicerces de um Portugal mais forte, mais próspero e mais justo, credível e respeitado na cena internacional.
Por isso se torna urgente promover uma reflexão prospetiva e multidisciplinar sobre os problemas da sociedade portuguesa.
É este o principal objetivo dos Roteiros do Futuro. Incentivar os portugueses a refletirem sobre o Portugal que queremos deixar às novas gerações.
Não estamos preocupados em inventariar soluções e anunciar medidas ou políticas.
Essa é uma responsabilidade dos órgãos de soberania que têm a competência de legislar e de governar.
Queremos compreender os problemas de Portugal em todas as dimensões da sua complexidade. Queremos saber para onde vamos. Só assim poderemos construir desígnios, definir objetivos e escolher os melhores caminhos para os alcançar.
O propósito destes novos Roteiros é o de ajudar quem decide e sensibilizar a opinião pública portuguesa para a urgência de olharmos em frente, para o longo prazo, e de construirmos, em conjunto, uma esperança fundamentada.
A esperança de quem sabe onde quer chegar e como quer chegar.
Nesta primeira Conferência, escolhemos um tema que de há muito me vem preocupando.
Em 1 de janeiro de 2008, na mensagem de Ano Novo, chamei a atenção dos Portugueses para a baixíssima taxa de natalidade que se registava em Portugal. Disse então: “se não nascem crianças, é o nosso futuro coletivo que está em causa”.
“Nascer em Portugal”, é, antes de mais, um desafio para podermos pensar sobre o que somos, mas, acima de tudo, sobre o que queremos e podemos ser.
Portugal, à semelhança de muitos países europeus, enfrenta um problema de sustentabilidade demográfica e, em torno dele, outros problemas emergem: a desertificação humana de vastas zonas do território, o declínio do nosso potencial produtivo, a continuidade do chamado Estado Social, a degradação do princípio da solidariedade entre gerações, enfim, o enfraquecimento dos laços fundamentais que conferem coesão à sociedade portuguesa.
São problemas que exigem rigor, espírito científico e sentido de futuro na sua abordagem.
Por isso decidimos reunir a comunidade científica nacional que tem refletido sobre estes problemas e convidar alguns dos melhores investigadores europeus para que, em conjunto, possamos identificar as suas causas, compreender os contextos sociais e culturais em que se inscrevem, e, se possível, esboçar os cenários que se podem colocar na sua resolução.
O declínio tendencial da fecundidade não é um fenómeno exclusivamente português.
É, antes de mais, um problema europeu. Por isso, importa que privilegiemos a análise comparada e, a partir dela, consigamos identificar os exemplos de boas práticas no domínio das políticas públicas.
Deposito fundada esperança no contributo dos nossos convidados, na ajuda que eles nos podem prestar. Por isso, quero agradecer a vossa disponibilidade.
Aos investigadores estrangeiros que nos honraram com a sua presença e com o seu contributo, o meu muito obrigado.
Aos investigadores portugueses, devo dizer que gostaria que entendessem esta minha iniciativa como o reconhecimento público pelo esforço que têm desenvolvido na pesquisa, análise e reflexão sobre esta temática.
Uma última palavra aos jovens investigadores que estão entre nós.
Faço votos de que esta Conferência possa constituir um estímulo para iniciarem ou darem sequência a uma carreira de investigação que se ocupe deste e de outros temas igualmente decisivos para o futuro de Portugal.
A todos desejo uma conferência estimulante e um trabalho profícuo.
Muito obrigado.