Discurso do Presidente da República nas Cerimónias de Comemoração do 171º aniversário da presença militar ininterrupta em Lamego e do 50º aniversário das Operações Especiais
Lamego, 6 de Setembro de 2010

Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Presidente da Câmara de Lamego,
Senhor Chefe do Estado-Maior do Exército,
Excelência Reverendíssima, Bispo de Lamego,
Senhor Comandante do Centro de Tropas de Operações Especiais,
Senhoras e Senhores,
Militares,

É sempre com particular satisfação que visito Lamego, esta histórica, nobre e linda cidade das Beiras. Saúdo calorosamente a população do concelho.

Quando, à chegada, vislumbro o Castelo, no cimo do monte mais alto da cidade, velando ainda pelas suas terras e pelos seus habitantes, penso em Lamego também como um esteio da nossa nacionalidade, no carácter e na alma fortes do seu povo e no heroísmo resistente e humilde dos seus militares.

Neste período das Festas, Lamego engalanada torna-se especialmente acolhedora, com a hospitalidade das suas gentes a ter paralelo apenas na beleza que os olhos podem contemplar e na riqueza das manifestações da sua cultura tradicional, que tão bem a caracterizam e identificam.

Lamego é uma cidade exemplar na forma como recebe e se relaciona com os militares e tem hoje mais um motivo de festa, com as comemorações dos 171 anos de presença militar ininterrupta e do 50º aniversário das unidades de Operações Especiais aqui localizadas.

O Regimento de Infantaria 9, em Lamego desde 6 de Setembro de 1839, foi a primeira unidade do Exército aquartelada nesta cidade. O seu comportamento heróico na I Guerra Mundial, nomeadamente em Neuve Chapelle, em Março de 1918, valeu-lhe o lugar de honra na sua Brigada: a prerrogativa de formar à direita de todos os batalhões.

Participou em várias campanhas na defesa da Pátria, aquém e além-mar. Na década de 60 do século passado, com a evolução da arte da guerra e do contexto estratégico internacional, tornou-se necessário criar uma unidade militar do Exército que dominasse com mestria as novas capacidades exigidas no âmbito das operações especiais e, particularmente, no da contra-subversão.

Surge assim, em 1960, o Centro de Instrução de Operações Especiais, com a divisa «QUE OS MUITOS, POR SER POUCOS, NAM TEMAMOS».

A aposta na qualidade e na excelência dos recursos humanos começou cedo, com alguns militares fundadores das Operações Especiais a visitar a Argélia, onde a França combatia então a insurreição, de onde retiram lições fundamentais para a elaboração dos manuais de contra-subversão do Exército, apreendendo conceitos ainda hoje válidos para aquele tipo de combate, tão presente nos teatros de operações actuais.

Durante 15 anos, saíram de Lamego quadros e subunidades combatentes - Caçadores Especiais e Comandos - que, em África, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e Guiné, deram provas inequívocas de heroísmo e demonstraram possuir elevada noção do dever, em toda a sua intensa actividade operacional.

O Centro de Instrução de Operações Especiais, actual Centro de Tropas de Operações Especiais, participou activamente nas operações que, em 25 de Abril de 1974, conduziram à restauração da democracia em Portugal. No passado recente, a actividade desta Unidade continuou a ser notória, com o seu empenhamento em operações de evacuação de cidadãos nacionais e de apoio à paz.

Intensa formação e treino, ministrados por quadros competentes e com grande motivação, permitiram criar e manter um corpo de tropas de elite altamente especializado e de elevadíssima prontidão, que constitui um instrumento de grande valia ao dispor da defesa nacional e da política externa portuguesa, com provas sobejamente dadas em combate e em teatros de operações de elevado risco.

Na Guiné, no Senegal, em Cabo Verde, na República do Congo, em São Tomé, na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo e em Timor-Leste, entre outros locais, esta Unidade tem estado sempre presente onde quer que Portugal dela precise.

Os elementos das operações especiais fazem jus à sua divisa, não temendo o inimigo pelo seu número, nem as múltiplas missões que lhes são cometidas, pela sua exigência ou complexidade. Este pequeno grupo de militares cumpre o seu dever com coragem, determinação e patriotismo, pois sabe que está na vanguarda da defesa de Portugal e dos Portugueses.

É, assim, de inteira justiça o público reconhecimento que lhes irei prestar nesta cerimónia, ao conceder ao Centro de Tropas de Operações Especiais o título de Membro Honorário da Ordem Militar de Avis e ao impor o respectivo distintivo no Estandarte Nacional à sua guarda.

Sendo o valor e o profissionalismo das Forças Armadas largamente reconhecidos pelos Portugueses, Lamego é, um dos melhores exemplos de grande afinidade da Instituição Castrense com a população e com as autoridades locais.

O apoio, o respeito e o carinho que os militares sempre sentiram por parte das gentes de Lamego tem sido, certamente, um factor de motivação para o exercício da sua missão em defesa da coesão e segurança nacionais.

Aqui, percebem-se as Forças Armadas como aquilo que na realidade são: não um corpo estranho à sociedade, mas antes parte integrante do povo de que emanam. São os nossos familiares e amigos que se dispuseram dar o seu esforço e a própria vida para que possamos todos cumprir Portugal.

Uma palavra final de louvor aos militares do Centro de Tropas de Operações Especiais que, à semelhança dos seus antepassados do “Nove”, têm deixado pelos caminhos da História um rasto de valor e bravura, mas também de uma profunda humanidade, em todas as campanhas onde têm participado.

Encorajo os presentes, civis e militares, para que continuem a trabalhar em conjunto. Apelo aos portugueses para que ponham de lado as divisões, pois é de coesão e união de esforços que Portugal necessita para fazer face às dificuldades que enfrenta. Juntos somos melhores, juntos somos mais fortes, juntos venceremos os obstáculos que se nos deparam, como sempre o fizemos ao longo da nossa História.

Bem hajam.