Senhor Presidente em exercício da Câmara Municipal de São Vicente,
Senhores Membros dos Governos de Cabo Verde e de Portugal,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Senhores Vereadores,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Permitam-me que comece por endereçar uma saudação muito amiga à Senhora Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, a quem quero agradecer, muito sensibilizado, tudo o que fez pelo sucesso desta minha Visita e a quem desejo um pronto restabelecimento.
É com muita alegria que regresso a São Vicente e ao Mindelo, uma cidade que exibe, orgulhosa, a vitalidade da sua cultura e o dinamismo dos seus habitantes. Uma vitalidade e um dinamismo ainda mais assinaláveis, uma alegria que é quase comovente se levarmos em conta o percurso que foi necessário percorrer para aqui chegar. Um percurso feito de esforço e de luta, de suor e sacrifício.
Durante anos, muitos e muitos anos, a Ilha de São Vicente, com a aridez das secas que a assolavam, não foi um lugar fácil para viver. O povoamento desta ilha constituiu, por isso, uma tarefa heróica.
Ao longo dos séculos, houve provações e fomes, falta de emprego e emigração, dramas que a literatura registou nas páginas imortais de obras como Chiquinho, de Baltasar Lopes da Silva, ou O Galo Cantou na Baía, de Manuel Lopes.
Hoje, residem aqui cerca de oitenta mil pessoas e São Vicente encara o futuro com a confiança daqueles que sabem que o seu querer é maior do que qualquer adversidade.
Nos nossos dias, é já um lugar-comum falar-se da importância do saber e do conhecimento como elementos essenciais para o desenvolvimento dos povos. Os habitantes do Mindelo perceberam, primeiro do que muitos outros, que esse era o seu caminho. Ninguém lhes ensinou o valor da cultura como factor de progresso.
Não é por acaso que os livros da primeira biblioteca pública da cidade, inaugurada em 1880, por ocasião do tricentenário de Camões, foram adquiridos graças aos donativos dos munícipes. Como também não é por acaso que foram os próprios habitantes do Mindelo que, em 1900, pediram para que aqui fosse instalada uma escola de instrução secundária e uma outra para a aprendizagem de línguas estrangeiras. Havia fome de tudo, mas, acima de tudo, havia fome de saber. E ânsia de fazer e ser melhor.
Hoje, todos louvam o cosmopolitismo de São Vicente e a riqueza da atmosfera cultural desta cidade. Recordam que foi a partir daqui que a voz de Cesária Évora conquistou a projecção internacional que tão justamente merece, abrindo caminhos que garantem à música cabo-verdiana, protagonizada por tantos nomes de prestígio, a admiração de que goza nos cinco cantos do mundo. Que é aqui que residem e trabalham pintores e escultores cuja qualidade e criatividade de há muito ultrapassaram as fronteiras deste país. Que aqui se escreve alguma da melhor literatura que a língua portuguesa produz. Que aqui ocorrem festivais de nomeada, como aquele que tem lugar nesse lugar idílico que é Baía das Gatas.
Esta efervescência cultural e a alegria que respiramos nestas ruas e nestas praças devem-se ao esforço e à inteligência dos mindelenses. Entre tantas dificuldades, descobriram um caminho. A Claridade foi muito mais do que um movimento criado por intelectuais nas horas vagas, nessas “horas vagas” que deram título aos poemas de Manuel Lopes. A Claridade é uma atitude perante as adversidades da vida. É a expressão de quem não se resigna às agruras da terra, de quem aspira a um futuro melhor. É, sobretudo, a atitude indomável de quem sabe bem o que quer e o que tem de fazer para o alcançar.
O Mindelo apostou no conhecimento e na cultura. Durante muitos anos, aqui existiu o único liceu do Barlavento. Jovens de outras ilhas do arquipélago vieram para São Vicente, aprender a ser melhores. Baltasar Lopes foi professor e Reitor no Liceu do Mindelo, e Chiquinho, personagem da sua ficção, seguiu-lhe os passos. No Mindelo estudaram grandes personalidades, como Amílcar Cabral ou Pedro Pires.
O Mindelo apostou na sua vocação de centro portuário, de capital de cultura, de pólo de atracção do comércio e dos serviços. Onde havia uma terra inóspita e despovoada, existe agora uma cidade cosmopolita e empreendedora, onde o encanto do seu rico património histórico convive com realizações e projectos que apontam decididamente para o futuro.
«Trabalho e Disciplina» são os lemas desta cidade. Poucas haverá em que a divisa que ostentam seja tão apropriada ao carácter dos seus habitantes. Diante de vós, curvo-me perante a memória dos que fizeram este Mindelo e presto homenagem ao vosso esforço, à vossa Claridade, ao vosso exemplo.
Muito obrigado