Intervenção da Dra. Maria Cavaco Silva no I Colóquio Internacional Pais em Rede
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 6 de Novembro de 2010

Este é o primeiro Colóquio dos Pais em Rede.

E esta é uma Rede em que, desde o início, me quis deixar enredar.

Espero que o mesmo aconteça com muitos mais, como já aconteceu com tantos até hoje.

Uma Rede que, apesar do seu nascimento recente, cresceu de modo a deixar-nos cheios de Esperança no seu futuro.

E todos nós precisamos muito desse futuro.

Não queremos um futuro escondido para os nossos cidadãos diferentes.

Estes Pais tiveram a noção de que era preciso quebrar, ou começar a quebrar, a invisibilidade dos seus filhos.

Olhos que não vêem, coração que não sente, dizemos nós.

Estes Pais quiseram abrir os nossos olhos, para assim chegarem ao nosso coração. E pô-lo a sentir, obrigá-lo a sentir.

Se temos cerca de 800.000 pessoas com deficiência no nosso mundo de 10 milhões de cidadãos, eles não podem continuar invisíveis.

Têm de andar connosco nas ruas, nos jardins, nas lojas, nas escolas, nas universidades, nos museus, nos teatros. Isto é, na vida de todos os dias de toda a gente.

Quando a Luísa Beltrão foi receber o Prémio da Mulher Activa este ano, no dia 8 de Março, definiu-o precisamente como o Prémio da visibilidade.

Se a legislação é boa – e todos acham que é – vamos fazer com que essa bondade se verifique na vida das pessoas para quem foi criada.

Não é fácil ser uma pessoa diferente, não é fácil ser familiar de uma pessoa diferente. Será mais difícil em Portugal? Não sei.

Mas sei que já foi muito mais difícil e tenho constatado, com a minha presença assídua no terreno, que se percorreu muito caminho na direcção certa.

A origem primeira desses avanços no caminho certo tem sempre o mesmo ponto de partida – a rede do Amor.

E o amor primeiro que envolve estas pessoas diferentes é sempre o da família.

As famílias que ficam sempre aflitas, desorientadas, confusas, sem saberem o que hão-de fazer, mas que a pouco e pouco se erguem do seu sofrimento e, com a força que lhes dá esse amor, vão tentando encontrar, e encontram mesmo, soluções.

Os Pais em Rede nasceram para, em união e numa rede que cubra todo o país, conseguirem ajudar-se, acalmar angústias, encontrar caminhos que possibilitem aos seus filhos serem cidadãos de pleno direito numa sociedade que não pode, não deve ignorá-los.

Em pouco tempo conseguiu muito.

No dia 24 de Setembro deste ano promovi uma reunião em Belém, em que estiveram presentes 23 representantes dos Pais em Rede.

Foi um momento muito especial para mim e para todos os que participaram na iniciativa.

Todos tiveram ocasião de falar e apresentar-me em pormenor o ponto da situação dos núcleos em que trabalhavam.

Fiquei assim com uma informação muito detalhada do que está a acontecer e gostaria de resumir a minha ideia final com uma expressão do núcleo do Porto – o Norte está bem e recomenda-se.

Senti que os Pais em Rede estão bem e recomendam-se.

Na Primavera de 2010 aconteceu a primeira oficina de Pais, que promete continuar a alargar-se a todo o país em 2011.

Escusado será apontar a importância que têm estas oficinas para estes pais, tantas vezes aflitos e com medo de não serem capazes de dar as respostas mais adequadas ao problema do seu filho.

Ajudam-nos na sua formação para esta paternidade mais difícil que todas as outras (que já não são fáceis).

Sem pais formados, activos e conscientes do seu papel não é possível a inclusão com que todos sonhamos.

Tenho muita confiança e muita esperança nas Oficinas de Pais.

Quero salientar aqui com muito agrado o envolvimento do ISPA, e da Fundação Gulbenkian em cuja casa estamos hoje.

Cada um dá o que tem e assim, de mãos dadas, o caminho é mais fácil de percorrer.

Esperemos que também seja mais rápido, porque todos ansiamos pelos resultados práticos.

Este I Colóquio vai estender a rede para apanhar nas suas malhas todos os que precisam de ajuda e querem procurá-la e encontrá-la em conjunto.

O sofrimento e o conhecimento partilhados são mais ricos. O sofrimento acalma quando verificamos que não estamos sozinhos. O conhecimento cresce quando juntamos os nossos saberes.

Daqui também a importância deste I Colóquio.

Já há tempo, num dos vários discursos que o meu marido fez, tentando abrir os olhos das pessoas para as dificuldades que se aproximavam e alguns tentavam ignorar, ele disse uma frase que me ficou gravada na memória: “Vêm aí tempos em que vamos todos precisar muito uns dos outros”.

Ainda bem que estes Pais em Rede perceberam esta mensagem, que afinal é de todos os tempos, porque nós precisamos sempre muito uns dos outros, e não fazemos nada sozinhos.

E puseram-na em prática, contra o egoísmo, contra o individualismo doentio que às vezes encontramos a atrapalhar-nos o caminho que todos os que estão aqui hoje querem que seja solidário e plural.

Bem hajam! Desejo-vos um óptimo trabalho.

Tenho muito orgulho em ter estado convosco desde o início.

Tenho muito orgulho em ser vossa Madrinha.