Bem-vindo à página ARQUIVO 2006-2016 da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Nesta página encontra 2 elementos auxiliares de navegação: motor de busca (tecla de atalho 1) | Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 2)
Visita ao Centro de Formação  da Escola da Guarda (GNR)
Visita ao Centro de Formação da Escola da Guarda (GNR)
Portalegre, 11 de fevereiro de 2016 ler mais: Visita ao Centro de Formação  da Escola da Guarda (GNR)

“Abraçando o mundo no século XXI”
- artigo do Presidente da República publicado no Público, em 27 de Setembro de 2007 Clique aqui para diminuir o tamanho do texto|Clique aqui para aumentar o tamanho do texto

O Conselho para a Globalização, iniciativa que lancei há um ano, tem agora uma nova reunião em Sintra. Líderes empresariais portugueses e estrangeiros vão debater os desafios actuais, reflectir sobre os riscos e as oportunidades da economia global e partilhar experiências. É este o propósito do encontro.

A recente crise dos mercados financeiros é um claro alerta: a globalização exige, por parte de todos os actores, um conhecimento cada vez mais intenso e profundo da economia global. A crescente interdependência económica e a integração, quer a nível regional quer a nível dos mercados, impõem às empresas a necessidade de ter uma perspectiva estratégica para os seus negócios e competências que as tornem mais capazes, na arena competitiva mundial, de conhecer e controlar os riscos e de tirar o melhor partido das oportunidades. Quem o não fizer ficará vulnerável. A globalização não é um desafio neutro que se possa ignorar.

É certo que a globalização, por via da progressiva abertura das economias e da integração dos mercados, tem favorecido uma melhoria da afectação global de recursos através da mobilização mais rápida e eficiente de capital, de conhecimento e de competências. E que tem gerado, claramente, maior crescimento económico. Os benefícios da globalização não são um exclusivo dos países mais ricos e de grande escala. A dimensão da economia e a localização geográfica não inibem o acesso às oportunidades da economia global.

Mas não é menos certo que a globalização gera novos riscos e pode trazer novas assimetrias económicas e sociais que seria irresponsável desprezar. Expõe as empresas a um quadro competitivo mais agressivo e mais exigente. Requer uma permanente capacidade de adaptação à evolução das condições de concorrência internacional.

A competitividade, num mundo cada vez mais integrado economicamente, depende da capacidade de tirar partido da interdependência e complementaridade das economias e das empresas. Explorar as novas oportunidades de crescimento nos mercados internacionais é, hoje em dia, para um número crescente de sectores de actividade e de empresas portuguesas, uma opção incontornável e, nalguns casos, será mesmo condição de sobrevivência.

Há três palavras-chave no desafio global: inovação, competência, flexibilidade.

A inovação permanente é uma exigência para todas as empresas. O progresso científico e as inovações tecnológicas, combinadas em novos modelos de negócio, estão em dinâmica acelerada, sem descontinuidades. Novas empresas, em particular de economias emergentes, abalam as estruturas produtivas e os padrões competitivos do passado. As empresas que estagnarem em torno de técnicas de produção, de métodos de organização e de gestão e de práticas comerciais do passado comprometerão inexoravelmente os seus níveis competitivos. Inovar é uma palavra de ordem imperativa para as empresas singrarem nos mercados globais.

Inovar e competir à escala global exige também competência. Isto é: capacidades e talentos para produzir, prestar serviços, optimizar recursos. E exige, naturalmente, o domínio sistemático dos mercados, das técnicas, dos métodos, dos modelos competitivos. Sem competência não há competitividade sustentada.

A flexibilidade é outra palavra-chave. Deve traduzir a capacidade de resposta à evolução dos mercados, dos factores competitivos, do próprio contexto concorrencial. Na era da globalização, a agilidade das respostas empresariais faz muitas vezes a diferença para o sucesso.

Os objectivos de eficiência e de crescimento económico não podem, contudo, fazer-nos perder de vista outros objectivos igualmente cruciais: a igualdade de oportunidades e a coesão social. Como tenho afirmado, o crescimento económico fundado na destruição social é inaceitável. E a igualdade de oportunidades no acesso aos extraordinários benefícios da economia global é outro imperativo que deve guiar os Estados, as regiões e as instâncias multilaterais.

A globalização não deve ser um álibi para desresponsabilizar aqueles que têm o dever de assegurar as condições que garantam não só uma concorrência leal e disciplinada, como também um elevado nível de coesão económica e social, protegendo os segmentos mais desfavorecidos e vulneráveis e promovendo um acesso generalizado à educação, às novas tecnologias e à sociedade de informação. É por isso que a qualidade das políticas públicas, a cooperação internacional e a própria regulação multilateral têm de ser aperfeiçoadas.

A integração não pode nem deve ser sinónimo de uniformização. A diversidade é um dos mais valiosos activos da economia global. O mundo reflecte um riquíssimo mosaico de diferenças, cujo valor deve ser respeitado e integrado. Mais do que trabalhar da mesma maneira, a globalização significa trabalhar em conjunto, em colaboração, em rede. De facto, muitas empresas integram hoje recursos à escala global, tirando partido das sinergias da diferença.

Este é o tema de fundo dos encontros de Sintra, mantendo o mote de onde partimos: Pensar Global, Agir Global.

A reflexão em torno de experiências protagonizadas por líderes empresariais das mais diversas geografias e culturas contribuirá, estou certo, para melhorar o nosso entendimento sobre questões candentes desta fase da globalização e sobre a melhor forma de gerir os desafios deste século.

Entendo que é uma responsabilidade do Presidente da República estimular as empresas portuguesas e os seus dirigentes para uma reflexão estratégica sobre o novo quadro competitivo internacional. Deste encontro resultarão, certamente, laços mais fortes entre empresários e gestores portugueses e internacionais. Espero que possa, igualmente, servir de inspiração a todos os participantes.

Inaugurei recentemente nos EUA uma exposição sobre Portugal e a sua reconhecida vocação universal. Foi-lhe dada a designação de Encompassing the Globe (Abraçando o Mundo). A designação é feliz e o desafio é, para nós, vital e permanente.


Aníbal Cavaco Silva

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.