Discurso do Presidente da República na cerimónia de entrega do Prémio D. Dinis a Fernando Echevarría
Casa de Mateus, Vila Real, 14 de Setembro de 2007

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Real
Senhor Presidente da Fundação Casa de Mateus
Distinto Laureado
Senhoras e Senhores,

Quero, antes de mais, saudar o poeta Fernando Echevarría e dar-lhe os meus sinceros parabéns por este prémio que o júri atribuiu por unanimidade ao seu último livro.

É um prémio com o qual já foram distinguidas algumas das obras mais relevantes das letras portuguesas no último quarto de século.

Gostaria, por isso, de felicitar igualmente a Fundação Casa de Mateus, na pessoa do seu presidente, o engenheiro Fernando de Albuquerque, pela instituição deste prémio e pelo empenho colocado na sua organização.

A lista dos nomes a quem já foi atribuído o prémio D. Dinis, e a que vem juntar-se este ano Fernando Echevarría, é o melhor elogio que se pode fazer ao trabalho que esta Casa tem vindo a desenvolver em prol da cultura e das artes.

Fernando Echevarría é um nome que os mais atentos ao mundo das letras conhecem de há muito.

Os representantes do júri que o premiou já evidenciaram aqui, melhor do que eu poderia fazer, a excelência da sua obra, uma obra reconhecidamente difícil, mas de uma enorme sensibilidade e reveladora de uma profunda reflexão sobre a natureza do homem e das coisas.

Tanto em Portugal como no estrangeiro, a crítica tem sublinhado frequentemente a qualidade do trabalho de Echevarría, o seu rigor e a sua exigência.

Vários dos seus livros anteriores já tinham sido também contemplados com prémios de grande prestígio.

É, portanto, com enorme satisfação que venho aqui hoje entregar-lhe o prémio D. Dinis e, ao mesmo tempo, homenagear o homem e o poeta que perfez o ano passado 50 anos de uma vida literária intensa e fecunda.

Homenagear o homem, porque Fernando Echevarría, além de um escritor consagrado, é também um homem de fortes convicções, um homem de espírito aberto e livre, com provas dadas muito antes do 25 de Abril.

Homenagear o poeta, porque no silêncio da sua natureza reservada, Echevarría tem vindo pacientemente a construir uma obra que é singular, como só as verdadeiras obras de criação artística conseguem ser, mas da qual a literatura portuguesa pode orgulhar-se.

Foi a este homem e a este poeta que eu tive o prazer, no passado 10 de Junho, de atribuir, em nome do Estado português, o grau de Grande Oficial da ordem do Infante D. Henrique, que visa distinguir “os que prestaram serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro”.

Tenho-o dito várias vezes: no mundo globalizado de hoje, em que os países abandonam progressivamente o tradicional isolamento, o trabalho dos escritores, e de todos aqueles cuja actividade contribui para preservar e manter viva a nossa língua, constitui um pilar decisivo na afirmação da identidade colectiva.

É por isso um dever de todos nós reconhecermos o valor daqueles que asseguram, a maioria das vezes sem outra compensação além do prazer de escreverem, a continuidade e a permanente renovação do português, como língua que se adapta a uma realidade cultural e tecnológica em acelerada mudança.

Mas temos, acima de tudo, de dedicar uma atenção muito especial ao ensino da língua materna, sem prejuízo evidentemente do ensino de outras línguas, também indispensáveis para respondermos aos desafios da globalização.

Não podemos, de forma alguma, permitir que a aprendizagem do português, tão indispensável à realização individual e à coesão social, deixe de ser considerada uma das prioridades do nosso sistema de ensino.

Renovo, pois, as minhas felicitações a Fernando Echevarría, que tão dignamente aqui representa os escritores que ao longo dos séculos dignificaram a nossa língua, e faço votos para que ele continue, por muitos anos ainda, a privilegiar-nos com a sua poesia.

Muito obrigado.