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Cerimónia de despedida das Forças Armadas
Cerimónia de despedida das Forças Armadas
Lisboa, 17 de fevereiro de 2016 ler mais: Cerimónia de despedida das Forças Armadas

INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República na Sessão de Encerramento da Conferência Internacional “Portugal na Balança da Europa e do Mundo”
Fundação Champalimaud, 12 de abril de 2013

Cabe-me encerrar esta Conferência Internacional sobre Portugal na Balança da Europa e do Mundo.

Fiz questão de assistir a todas as intervenções aqui produzidas e retive ideias muito interessantes num conjunto extremamente rico de contributos.

A todos os intervenientes, com especial menção aos nossos conferencistas convidados, o meu público agradecimento pela excecional valia da vossa participação.

Os vossos contributos permitiram identificar, com especial acuidade, o cruzamento dos olhares de quem, do Mundo, conhece Portugal e de quem, de Portugal, conhece o Mundo.

A análise das mudanças globais na perspetiva das grandes rotas revelou-se potenciadora de uma melhor compreensão não só do sentido das alterações que se estão a desenrolar à escala global, mas, talvez mais importante, dos elementos que se mantêm como pilares da geopolítica e da economia internacional.

O caso da Bacia do Atlântico é um exemplo sintomático e, talvez por isso, foi aqui aturadamente analisado.

É em torno deste vasto oceano que se concentra o maior poder económico e, ao mesmo tempo, um enorme potencial de desenvolvimento.

É nas margens do Atlântico que se localiza uma vibrante capacidade de gerar riqueza, um imenso potencial de consumo, uma densa rede de fluxos de capitais e de comércio e um vasto stock de matérias-primas e de fontes energéticas indispensáveis ao desenvolvimento mundial.

É igualmente na Bacia do Atlântico que se concentra o nosso maior potencial competitivo: pela localização geográfica, concentração de países lusófonos, maior presença das comunidades portuguesas e algumas das nossas principais parcerias estratégicas.

E é no Atlântico, no Mar, que poderemos reencontrar uma das mais promissoras fontes de desenvolvimento estratégico, como de há muito tenho vindo a defender. Lembro não só o potencial de aproveitamento dos recursos físicos, mas também o de valorização desse espaço de mobilidade marítima onde se cruzam importantes rotas da economia mundial.

Porém, o desafio maior que enfrentamos é o de conseguirmos concretizar, no contexto atual, a nossa vocação de sempre para estabelecer pontes com as outras civilizações.

Felizmente, nos últimos anos, temos identificado sinais de que os responsáveis políticos e um número significativo de empresários têm desenvolvido um esforço considerável no sentido de retomar os contactos e de reforçar os tradicionais laços que nos unem quer ao chamado Grande Médio Oriente, quer aos países do Índico e ao Extremo Oriente.

Eu próprio participei nesse esforço de aproximação, com as visitas que efetuei à Índia, à Indonésia e a Timor-Leste. Nestes países encontrei o testemunho de simpatia, abertura e vontade de cooperação que são reflexo de um passado, recordado sem ressentimentos, e que se projeta num futuro que, de parte a parte, desejamos construir em conjunto. Macau, cujo processo de transição foi considerado exemplar, constitui disso um exemplo.

É neste contexto que o nosso relacionamento com as civilizações orientais deverá ser equacionado. Há um capital de conhecimento e de respeito mútuo que merece ser aproveitado e fortalecido e que confere a Portugal e aos Portugueses, como pude testemunhar, um lugar especial.

Voltemos ao Mediterrâneo, a esse mar singular, repositório autêntico de histórias milenares e espaço de confluência de culturas e civilizações.

Trata-se de uma região que está a atravessar períodos difíceis e onde domina a incerteza. Nas suas margens do Próximo Oriente e do Norte de África, a estabilidade política e económica que todos gostaríamos de ver está ainda em desenvolvimento.

Portugal mantém relações de amizade, que procura aprofundar, com estes nossos vizinhos de importância estratégica, como ficou bem vincado nesta Conferência.

O nosso País pode e deve dar um contributo significativo, continuando a sensibilizar e a mobilizar os seus parceiros europeus para o reforço da cooperação, com vista a favorecer as forças democráticas e defensoras dos direitos humanos nestes países da orla do Mediterrâneo.

Minhas Senhoras e meus Senhores,
Portugal encontrou a sua vocação “euro-marítima” pela conjugação do legado da civilização europeia com o universalismo que a viagem lhe proporcionou.

Em 1986 Portugal reencontrou-se com a Europa. Foi o reencontro com o nosso espaço natural. Aderimos ao projeto europeu, levando o caráter euro-atlântico e a vocação universalista.

A opção pela integração europeia e a aposta no reforço dos laços com outras regiões do mundo não são, por isso, alternativas que conflituam, são antes opções que convergem e interagem.

Portugal e a Europa vivem hoje um tempo particularmente difícil e exigente. O mercado único e o euro constituem duas traves mestras da União Europeia. Mas a agenda europeia deve centrar-se, também no crescimento e no emprego. E deve manter-se próxima dos seus cidadãos.

É imperativo ter uma visão do projeto europeu e dos caminhos por onde deve ir. Este só é sustentável se respeitar os seus valores fundamentais, designadamente a igualdade dos Estados, a preservação das identidades e da diversidade, a democracia e a solidariedade.

Minhas Senhoras e meus Senhores,
Ao longo da História, Portugal tem-se reinventado e superado desafios. É nas conjunturas mais exigentes que urge saber reinventar a esperança.

Não chega, porém, falar de esperança, é necessário construí-la e transmiti-la através de uma visão de futuro. Os inestimáveis contributos que trouxeram a esta Conferência irão certamente ajudar-nos a descobrir novos olhares e apontar caminhos.

Muito obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.