Discurso do Presidente da República na Câmara Municipal de Setúbal por ocasião das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Setúbal, 9 de Junho de 2007

Senhora Presidente da Câmara
Senhora Presidente da Assembleia Municipal
Senhores Vereadores
Senhoras e Senhores,

É com enorme satisfação que aqui estou hoje, em Setúbal, para presidir às cerimónias que assinalam o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

A hospitalidade com que a cidade nos recebe, e que é apanágio das suas gentes, torna ainda mais gratificante o prazer que sentimos diante da beleza natural que rodeia esta cidade. Já Raul Brandão observava, manifestamente enlevado, que o próprio mar, aqui, «atinge a perfeição».

Gostaria de expressar aos Setubalenses, na pessoa da Senhora Presidente da Câmara, o meu reconhecimento e de deixar a todos uma palavra de profunda gratidão pela forma empenhada como colaboraram na preparação das comemorações deste 10 de Junho.

Bem hajam pelo vosso contributo para a dignificação desta data, que tem para todos nós, Portugueses, um significado tão especial.

Há boas razões para ter escolhido Setúbal como palco das comemorações do Dia de Portugal.

Poderia demorar-me a elogiar a sua privilegiada situação geográfica, entre a paisagem imponente e agreste da Arrábida, abrigo de poetas e de monges, e a vastidão do Atlântico, palco da grande aventura das navegações, que marcou decisivamente a nossa identidade e deu novos mundos ao Mundo.

A singularidade desta região e da sua paisagem é bem conhecida de todos os visitantes. Também o papel de relevo que ela desempenhou, desde muito antes da fundação do Estado português até aos dias de hoje, está registado por grande número de historiadores.

Com o seu passado tantas vezes difícil, mas sempre admirável pela coragem, a honradez, o apego à liberdade e ao trabalho que as suas gentes demonstram, Setúbal é realmente o espelho dos valores que fizeram de Portugal uma nação respeitada e dos Portugueses um povo que quis ir mais além.

Habituada desde tempos imemoriais às lides do mar, Setúbal sabe o que significa o risco e a adversidade. Mas sabe igualmente como enfrentá-los e vencê-los, com determinação e coragem.

Aqui aportaram, outrora, navios chegados de civilizações as mais antigas.

Aqui nasceram e se formaram muitos marinheiros que, séculos depois, haveriam de cruzar os oceanos e levar o nome de Portugal aos cinco continentes.

Aqui se criaram e desenvolveram, em tempos mais chegados, várias empresas que relançaram a economia da região, garantindo o sustento a muitas famílias que já aqui viviam ou que aqui se fixaram, vindas de todo o País em busca de trabalho ou de uma vida mais desafogada.

Aqui prosperam indústrias que, com o contributo imprescindível dos seus trabalhadores, desempenham um papel fundamental no crescimento da nossa economia e na modernização do nosso tecido empresarial.

Ao escolher Setúbal para cidade anfitriã das comemorações do Dia de Portugal, tive a intenção, antes de mais, de dar testemunho do meu apreço pelas suas gentes.

Quis, além disso, vincar esta síntese harmoniosa entre o estar e o partir, o trabalho e a descoberta, que singulariza a nossa experiência enquanto povo e que a cidade do Sado tão bem simboliza.

Hoje como ontem, o dever de preservar os recursos naturais e patrimoniais de que dispomos impõe-se, a todos nós, como um compromisso irrevogável face às gerações futuras.

O território nacional, incluindo a zona marítima, assim como os inúmeros bens materiais e imateriais que herdámos, são pertença comum de todos os Portugueses, tanto os de hoje como os de amanhã.

Mas impõe-se, igualmente, que saibamos honrar a capacidade que tiveram os nossos antepassados de inovar e mudar quando é necessário, de encontrar em cada momento as soluções mais adequadas para os problemas com que estamos confrontados e que, muitas vezes, afectam particularmente os mais desfavorecidos.

A cidade e o distrito de Setúbal são o exemplo vivo do inconformismo que ao longo da história nos levou a não desistir nas horas más e a enfrentar os desafios com ambição e confiança.

É com este mesmo espírito que devemos celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

A História mostra que podemos vencer.

Está nas nossas mãos concretizar essa possibilidade, mostrando assim que não foi em vão o exemplo daqueles que souberam, com o seu trabalho, a sua visão e ousadia, construir e preservar o País que somos e queremos continuar a ser.