Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Entrega dos Prémios Europa Nostra
Mosteiro dos Jerónimos, 1 de junho de 2012

Gostaria, antes de mais, de saudar todas as instituições aqui representadas, e de felicitar calorosamente aquelas que foram distinguidas com os Prémios Europa Nostra 2012, pela qualidade do seu trabalho e pela sua dedicação à causa do património cultural.

Gostaria, igualmente, de me congratular com a realização desta cerimónia num local tão carregado de história como aquele onde nos encontramos – um monumento de rara beleza que, tal como a magnífica torre aqui em frente, a Torre de Belém, integra a lista do Património Mundial da Unesco, e que se reveste, além disso, de um significado muito especial.

O Mosteiro dos Jerónimos está profundamente ligado à gesta dos navegadores portugueses, através da qual a Europa, há cinco séculos, se abriu ao resto do Mundo.

Foi pois aqui que teve início o fenómeno da globalização, que haveria de ligar o Velho Continente aos quatro cantos da terra, tornando possível o encontro das civilizações e das culturas.

Como escreveu o poeta Fernando Pessoa, é deste lugar que a Europa fita o Ocidente, «e o rosto com que fita é Portugal».

Foi também aqui que se realizou, em 1985, a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, consagrando a nossa condição de Estado democrático e de nação que partilha integralmente os valores em que se fundamenta o projeto europeu.

Seria difícil encontrar um lugar mais adequado para darmos as boas-vindas aos nossos visitantes, e para celebrar condignamente a ação e as boas práticas que mantêm vivo, no espaço europeu, o legado das gerações que nos antecederam.

A União Europeia é, certamente, um projeto voltado para o futuro, um projeto que aposta na qualidade de vida dos seus cidadãos e no progresso e desenvolvimento dos seus povos. Mas é também um projeto assente num incomparável acervo de valores, materiais e imateriais, que oferecem a este mosaico formado pelas nações europeias a possibilidade de se afirmar com uma identidade própria.

Nos vestígios do passado, não encontramos apenas os traços que assinalam as fronteiras espirituais de cada um dos nossos povos, e que reforçam a sua coesão interna e a sua identidade. Encontramos igualmente as raízes comuns, a proximidade e o diálogo que sempre acabou por se impor no continente.

Todos os grandes momentos na história da Europa se traduziram, por um lado, num retorno à matriz de valores que nos são comuns a todos, e, por outro, numa intensificação dos contactos e do intercâmbio, designadamente cultural, quer entre diversos países, quer entre diversas gerações.

É graças a essa matriz e a esse diálogo que nós podemos, desde há muito, chamar todos, a esta Europa, a Europa Nostra. Uma Europa que conseguiu transformar os seus momentos de decadência em momentos de renascimento. Uma Europa que foi capaz, inspirando-se no passado, de superar crises que ameaçaram, por vezes, devastá-la por completo.

Se outros motivos não houvesse para celebrar a Europa Nostra e aplaudir o trabalho que fazem tantas organizações, em prol da conservação do seu património, bastaria o significado dos monumentos para a nossa identificação como comunidade: uma comunidade apostada em continuar unida e em construir no diálogo um futuro próspero, a condizer com os melhores momentos do seu passado.

Renovo, pois, as minhas felicitações a todas as entidades agraciadas com os Prémios Europa Nostra, manifestando-lhes o nosso reconhecimento pela excelência do seu trabalho e pela sua dedicação, enquanto personalidades e associações privadas, a uma tarefa que é do maior interesse público.

Permitam-me que dirija uma saudação muito especial às pessoas e instituições envolvidas no restauro dos seis órgãos da Basílica de Mafra, um trabalho português justamente incluído entre os premiados deste ano.

A terminar, gostaria ainda de felicitar todas as organizações envolvidas na atribuição dos prémios e na realização do Congresso que a Europa Nostra leva a efeito, esta semana, em Lisboa, em particular o Centro Nacional de Cultura, que continua a ser, entre nós, um exemplo marcante do muito que os cidadãos podem fazer pela causa do património e da cultura.

A todas, o nosso bem-hajam e muito obrigado.