Intervenção do Presidente da República por ocasião da visita à Cooperativa Agrícola de Barcelos
Barcelos, 1 de Junho de 2007

Senhores Membros da Assembleia-Geral e da Direcção da Cooperativa Agrícola de Barcelos
Senhor Presidente da Câmara
Senhor Governador Civil,

É com o maior prazer que venho hoje a Barcelos testemunhar, com a minha presença, a consideração pública que merece o pioneirismo e a obra desenvolvida pela Cooperativa Agrícola de Barcelos, que este ano celebra o seu septuagésimo quinto aniversário.

Pioneirismo, porque esta cooperativa foi, na área agrícola, das primeiras a organizar-se no nosso país – creio que a segunda no Continente – e a tomar iniciativas tão importantes como a da criação, com outras cooperativas da região, da União das Cooperativas de Leite do Norte Litoral, cuja evolução deu origem à actual AGROS.

A obra da Cooperativa Agrícola de Barcelos está à vista e é, certamente, um motivo de orgulho para os agricultores que nela participam enquanto cooperantes.

Na sua área de actuação, correspondente ao concelho de Barcelos, que é o maior do país em número de freguesias (89), a cooperativa congrega actualmente 4800 cooperantes, numa esmagadora maioria pequenos agricultores, o que desde logo caracteriza a sua enorme importância social, para além da sua importância económica.

Ainda que a produção de leite não seja a única actividade agrícola envolvendo a Cooperativa, é este o sector que maior contributo tem dado para o desenvolvimento económico do concelho de Barcelos.

Barcelos é, de facto, o concelho do Continente que mais leite produz, sendo este produto o maior responsável não só pelo volume de negócios da Cooperativa, como pelos seus resultados positivos, o que, com gosto, sublinho e saúdo.

A Cooperativa Agrícola de Barcelos, a sua Direcção e os seus cooperantes dão-nos um bom exemplo de trabalho, de persistência e de boas práticas, ao mesmo tempo que nos transmitem dois ensinamentos do maior interesse.

Em primeiro lugar, que a cooperação é o único caminho que permite aos pequenos agricultores assegurar o seu futuro e manter a sua actividade. Em segundo lugar, demonstram-nos que, na área agrícola, as organizações cooperativas, se bem geridas, podem constituir estruturas viáveis e liderar o desenvolvimento das nossas zonas rurais.

Todos sabemos que a sustentabilidade do sector do leite tem exigido muito trabalho, muita determinação e uma liderança dinâmica e esclarecida. Foi assim que conseguimos aumentar extraordinariamente a produtividade e manter o país abastecido em leite e produtos lácteos de excelente qualidade.

Sem cooperativas como a de Barcelos, sem a organização dos produtores nas suas diversas formas, teria sido impossível realizar o apuramento genético dos efectivos pecuários, a racionalização do maneio e a modernização tecnológica das explorações e do sector transformador.

A fileira do leite, no seu conjunto, investiu muito na sua modernização e alterou-se radicalmente nas últimas décadas.

Ainda que tenha havido um decréscimo do número de produtores, aumentou em muito a dimensão média das explorações e a produtividade por animal, tendo-se conseguido aumentar substancialmente a produção e assegurar o nosso auto-abastecimento.

O sector do leite, com muito mérito, soube modernizar-se e reestruturar-se e representa hoje uma parte muito significativa do valor gerado na nossa agricultura

Sei que, actualmente, muitos produtores vêem com incerteza e apreensão o seu futuro. Estão preocupados, quer porque enfrentam novas exigências ambientais, quer porque os custos dos factores de produção têm vindo a aumentar significativamente, quer, ainda, porque temem o fim do regime de quotas, o que poderá vir a aumentar a concorrência proveniente do Norte da Europa e a pressão sobre os preços de venda do leite.

Não ignoro essas preocupações e esses novos desafios, mas tenho a convicção de que o sector saberá, tal como aconteceu no passado, enfrentar essas dificuldades e encontrar as soluções mais adequadas para lhes fazer face com sucesso.

É importante a existência de um consenso, entre a produção e a indústria, sobre a necessidade de inovar e diversificar a produção, apostando em produtos de maior valor acrescentado.

Com ou sem quotas a partir de 2015, estou certo de que seremos capazes de continuar a produzir leite de grande qualidade, a abastecer o país e a competir com sucesso num mercado cada vez mais alargado.

Para isso contamos com a vontade, a determinação, a organização e o apoio de estruturas sólidas, experientes e tecnicamente capacitadas como a Cooperativa Agrícola de Barcelos, há setenta e cinco anos ao serviço dos agricultores do concelho de Barcelos e ao serviço do país.

Muitos parabéns, caros amigos, por este vosso aniversário tão significativo. Desejo que se mantenha por muitos e muitos anos a saúde da vossa organização.